Fiasco total: cópia brasileira de Chaves ficou apenas cinco dias no ar
12/07/2023 às 11h49
Chacrinha já dizia: nada se cria, tudo se copia. Na história da televisão brasileira, muitos quadros, programas e jornalísticos foram feitos com base em outras produções, muitas vezes estrangeiras. Certos formatos, no entanto, podem até servir de inspiração, mas acabam não dando certo…
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Um grande sucesso da história do SBT é mexicano Chaves, que está fora do ar no mundo todo por conta de uma briga entre os herdeiros de Roberto Gómez Bolaños e a Televisa, mas que conta com uma legião de fãs, atraída para eventos e peças de teatro. No final dos anos 1990, a Record buscou ter o seu próprio Chaves.
A vila da Record nas mãos de um SBTista
A emissora de Edir Macedo vivia o sucesso da Escolinha do Barulho, atração capitaneada pela GPM, produtora de Gugu Liberato – então estrela do SBT –, e a Câmera 5. E o diretor Milton Neves anunciava que logo estaria no ar um novo programa infantil: Miguelito.
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“O programa desenvolve uma linguagem na linha do pastelão, como faziam o infantil ‘Vila Sésamo’ e a comédia ‘Os Três Patetas’. Vai ser um programa educativo, para crianças em idade pré-escolar”, afirmou o diretor em entrevista à Folha de S. Paulo.
Mesmo com uma linguagem brasileira e muito mais próximo do mundo moderno, a atração era uma cópia deslavada do seriado mexicano. Miguelito era um garoto de rua e que tinha três amigos – Marquinhos, Lilica e Bolão.
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Era impossível não lembrar de Quico, Chiquinha e Nhonho. Além das crianças, havia a mãe de Marquinhos, a brava Dona Tita; o pai de Lilica, o desempregado Seu Flodoaldo; e o cobrador de aluguel, Seu Otávio.
“Enfrentamos o mesmo preconceito quando lançamos a ‘Escolinha’: as diferenças entre os programas vão ficar evidentes no ar”, argumentou Homero Salles, supervisor do seriado, ao Estado de S. Paulo.
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O investimento não foi baixo, girando em torno de US$ 500 mil, com gravações em um estúdio de 300 metros quadrados. E todos os atores foram escolhidos a dedo; grande parte vinha do teatro.
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Miguelito nunca viu o Chaves
Eduardo Estrela, ator que deu vida a Miguelito – e que participou posteriormente de Mulheres Apaixonadas (2003) e A Diarista (2004) –, afirmou que nunca tinha visto o Chaves, buscando inspiração em Oscarito e Stan Laurel, de O Gordo e o Magro.
“Não gosto desse tipo de produção nem de programas dublados: tenho preconceito”, afirmou.
Alguns episódios já estavam gravados e a Record buscava lançar o programa de tarde, no mesmo horário que o SBT exibia o Chaves. Mas a emissora decidiu não bater de frente com o clássico mexicano e adiou a estreia.
Apenas uma semana no ar
Eis que a Record acabou desistindo do projeto, que foi repassado para a RedeTV!, então com apenas meses de existência. Em julho de 2000, o programa foi lançado com o slogan “o seu novo amiguinho que é só alegria!”. Foram apenas cinco dias de exibição e o seriado saiu do ar mesmo com 22 episódios gravados.
Em 2020, Eduardo Estrela disse que era proibido falar sobre o Chaves em entrevistas à imprensa.
“Tinha uma coisa de não assumir que era em cima do ‘Chaves’. Óbvio que era em cima do ‘Chaves’. Os caras pediram: ‘não fala nada, não fala do ‘Chaves’’. Mas como? Lá fui eu tentar dar uma entrevista, primeira coletiva de televisão e eu tentando falar que não era o ‘Chaves’. Aí ficou muito patético quando eu falei que nunca tinha visto ‘Chaves’. Mas isso é a mais pura verdade”, comentou o ator ao Estado de S. Paulo.
Miguelito nunca mais foi ao ar, mas a RedeTV! não desistiu e criou a Vila Maluca, que de início seria um programa educativo, mas acabou se tornando pastelão igual ao Chaves, ficando por três anos no vídeo.
Já o SBT fez uma homenagem ao seriado mexicano com um episódio especial, reunindo o seu elenco para comemorar os 30 anos da emissora, em 2015. A recriação da vila ficou perfeita, mas nada chega ao original, criado pelo incrível Chespirito.