André Santana

Principal aposta do ano no SBT, a novela A Infância de Romeu e Julieta vem amargando péssimos índices de audiência. A trama de Íris Abravanel caminha para se tornar a novela infantil menos vista da emissora desde o início da aposta contínua no filão, que começou com Carrossel (2012).

A Infância de Romeu e Julieta - Bianca Rinaldi
Bianca Rinaldi como Vera em A Infância de Romeu e Julieta (Reprodução / SBT)

Até então consideradas imbatíveis, as novelas infantis do SBT começam a dar sinais de desgaste. A trama sem grandes atrativos e até a “concorrência” com a Prime Video ajudam a explicar a má fase.

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Falta de carisma

Íris Abravanel
Autora Íris Abravanel (Reprodução / Web)

Íris Abravanel e sua equipe foram ousados ao transformar o dramalhão de William Shakespeare numa trama de novela infantil. Uma ideia que até parecia a prova de erros, já que um amor proibido costuma ser uma fórmula certeira em folhetins.

Mas, na prática, A Infância de Romeu e Julieta deixa muito a desejar. Os autores criaram todo um entorno para justificar a rivalidade entre as famílias de Romeu (Miguel Angelo) e Julieta (Vittoria Seixas), inserindo até mesmo a especulação imobiliária como um dos elementos do enredo. A ideia, claramente, era ampliar o público-alvo, já que as tramas envolvendo personagens adultos ganharam peso.

Isso ajuda a explicar a fraca recepção da novela. Lá atrás, quando começou a apostar nas tramas infantis, o SBT segmentou sua audiência com um público muito bem definido. Carrossel era um programa para crianças e ponto. E funcionou. Já Romeu e Julieta se mostra dispersa ao atirar para todos os lados. O resultado é uma trama sem foco e sem carisma.

Erro que se repete

Poliana Moça - Dalton Vigh e Sophia Valverde
Dalton Vigh e Sophia Valverde em Poliana Moça (Divulgação / SBT)

A autora, aliás, já havia cometido um erro semelhante em Poliana Moça (2022). A proposta da trama anterior era agradar o público teen, narrando a adolescência da personagem-título. No entanto, a mesma proposta se perdeu completamente quando o co-protagonista do enredo era nada menos que Pinóquio (João Pedro Delfino).

Deste modo, não havia como o público teen se identificar com as questões da juventude de Poliana (Sophia Valverde) se a jovem andava com um boneco eletrônico a tiracolo que sonhava em se tornar um menino de verdade. Houve um conflito entre públicos, o que pode explicar a baixa audiência da novela.

Com Romeu e Julieta, o problema é semelhante. Há um pano de fundo adulto para narrar uma história de amor envolvendo adolescentes. No entorno, há ainda um núcleo mais infantil. Essa mistura acaba diluindo o interesse do público.

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Concorrente?

A Infância de Romeu e Julieta - Miguel Ângelo e Vittória Seixas
Vittória Seixas e Miguel Ângelo em A Infância de Romeu e Julieta (Divulgação / SBT)

A Infância de Romeu e Julieta é a primeira novela infantil do SBT realizada em parceria com a Prime Video, plataforma de streaming da Amazon. A gigante internacional quis entrar no filão de olho nos bons resultados que as novelas do SBT fazem até hoje na Netflix.

Nas redes sociais, são muitos os espectadores que acompanham a novela pelo streaming, já que a Prime libera blocos de cinco capítulos semanalmente, antes de eles irem ao ar pelo SBT. Ou seja, estaria havendo aí uma “canibalização”, já que parte do público prefere maratonar a história no streaming do que esperar os capítulos no canal.

No entanto, a nova prática não deve afetar tão consideravelmente o desempenho da trama na TV. Afinal, o alcance da Prime Video ainda é menor que o de uma TV aberta do tamanho do SBT. Além disso, Romeu e Julieta não figura no Top 10 da Prime, o que indica que sua audiência no streaming também não anda lá essas coisas.

Sendo assim, o maior problema de A Infância de Romeu e Julieta é mesmo a trama fraca e sem grande apelo ao público. As histórias assinadas por Íris Abravanel e sua equipe perdem força ano a ano, o que indica uma urgente necessidade de renovação do próprio SBT.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor