Em 1990, poucos meses depois de perder a chance de produzir de Pantanal e fracassar com Cortina de Vidro, o SBT resolveu investir pesado na criação de um núcleo próprio de teledramaturgia. Contratou o experiente diretor Walter Avancini, algumas estrelas globais e estreava Brasileiras e Brasileiros no dia 5 de novembro daquele ano.
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A proposta era ousada. A novela, escrita pelo próprio diretor junto com Carlos Alberto Sofredini, recebeu grandes investimentos por parte do canal de Silvio Santos, que ainda contratou nomes como Edson Celulari, Lucélia Santos, Fúlvio Stefanini, Ney Latorraca, Irene Ravache, Paulo Autran, Carla Camurati, Rubens de Falco e Daniel Dantas, entre outros artistas costumeiramente vistos nas produções da Globo.
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Na periferia de São Paulo, era retratada a saga de Totó (Celulari), do decadente pugilista Ângelo (Stefanini) e do malandro Brás Cubas (Latorraca).
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A história, no entanto, afugentou o público. Como destacou o Jornal do Brasil no dia da estreia, após uma exibição exclusiva para a imprensa, “ao cabo de dois capítulos foi mostrado na tela, de uma só vez, o maior número de desgraças por metro quadrado possivelmente jamais visto numa novela”.
Em seu site Teledramaturgia, nosso colunista Nilson Xavier também destacou a abordagem errática.
“A proposta de fazer uma novela centrada na camada pobre da sociedade não rendeu bons frutos. Foi um desastre, que fez com que sua exibição mudasse várias vezes na tentativa de atrair público. Desastre maior para o SBT, que viu seus anunciantes fugirem”, explicou.
Grade voadora
Para se ter uma ideia, a produção foi exibida às 18h, 18h30, 17h45, 19h e, quando saiu do ar, às 20h. Não há telespectador que resista.
Sem público, sem anunciantes e gastando uma fortuna, foi tentada uma nova abordagem, centralizando o enredo num drama familiar no núcleo dos milionários, composto por Lucélia e Falco.
“Foi uma tentativa de atrair os telespectadores acostumados aos dramalhões mexicanos da emissora. Tudo em vão”, enfatiza Xavier.
Brasileiros e Brasileiras seguiu no ar do jeito que deu e terminou com 151 capítulos.
Logo em seguida, enfrentando uma grave crise econômica, com 25% a menos de faturamento, o SBT desmontou o núcleo de teledramaturgia e demitiu todo mundo – 150 pessoas, entre artistas e técnicos perderam o emprego.
“Com a decisão, não serão mais gravadas, como estava previsto, as novelas As Mulheres da Minha Vida, João Tenório e Anita Garibaldi, todas canceladas”, informou o Jornal do Brasil de 13 de maio de 1991.
Avancini falou sobre o fracasso ao JB. “Quando vim para o SBT, em junho do ano passado, para implantar três faixas de novelas, existiam possibilidades reais para isso. Deixei minha comodidade na Rede Globo para criar um núcleo de teledramaturgia paulista, ampliando um campo de trabalho, mas a realidade do mercado foi mais forte e nos abateu”, disparou.
Foram gastos nada menos que US$ 4 milhões na novela, numa época de crise na economia brasileira por conta do Plano Collor.
Apesar disso, o SBT conseguiu se recuperar: Silvio Santos colocou no ar novelas mexicanas que fizeram sucesso, como Rosa Selvagem e, principalmente, Carrossel, e criou a Tele Sena, que gerou muitas divisas para o SBT.