André Santana

No próximo dia 9 de fevereiro, o SBT exibe o 200º capítulo de A Infância de Romeu e Julieta. Porém, há pouco a celebrar nesta data. Afinal, a trama infantil da emissora de Silvio Santos decepciona e já se firma como um fiasco histórico do canal.

Bianca Rinaldi em A Infância de Romeu e Julieta
Bianca Rinaldi em A Infância de Romeu e Julieta (Reprodução / SBT)

O SBT apostou alto na trama, que, de longe, é a mais grandiosa das novelas infantis já produzidas pelo canal. Porém, o que sobra em capricho visual falta em história. Romeu e Julieta evidencia um desgaste da fórmula e deveria servir como um sinal de alerta para o canal.

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Evolução

 

Visualmente, as novelas do SBT evoluíram de Carrossel (2012) para cá. Os cenários fakes da Escola Mundial deram espaço ao belo Bairro das Castanheiras, dividido entre o “Lado Vila” e o “Lado Torre” e representado por uma das cidades cenográficas mais belas já produzidas pelo SBT.

Os dois lados do bairro representam a rivalidade entre a família dos jovens Romeu e Julieta. Além do passado problemático envolvendo os parentes dos protagonistas, a diferença entre os dois lados do bairro também trazem um contraponto entre o que é “moderno” e o que é “tradicional”. Tudo de uma maneira leve, bem maniqueísta, como cabe a uma novela infantil.

Ou seja, em sua livre adaptação da peça de William Shakespeare, Íris Abravanel e sua equipe de roteiristas foram ambiciosos e construíram um universo cheio de nuances. A parceria com a Prime Video, que injetou recursos no projeto, oportunizou que este universo ganhasse vida de uma maneira muito eficiente.

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Não colou

A Infância de Romeu e Julieta - Miguel Ângelo e Vittória Seixas
Vittória Seixas e Miguel Ângelo, protagonistas de A Infância de Romeu e Julieta (Divulgação / SBT)

Porém, a grandiosidade da proposta de A Infância de Romeu e Julieta acabou escondendo seu maior problema: a falta de trama. Apesar das “inovações”, a equipe de Íris Abravanel construiu uma trama episódica, na qual o fio condutor não se sustenta.

Faltam bons vilões, faltam reviravoltas, faltam momentos de catarse. Tudo na novela do SBT é levado em banho-maria e simplesmente não empolga. Daí a falta de interesse do público no enredo.

Os roteiristas também tentaram ampliar o público-alvo, com um “núcleo adulto” mais presente que nas tramas anteriores. Mas isso não serviu para atrair adultos e acabou por desinteressar as crianças. A novela ficou sem foco.

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Lição aprendida

Íris Abravanel
Íris Abravanel (Reprodução / SBT)

Com isso, A Infância de Romeu e Julieta chega ao capítulo 200 sem maiores emoções. A audiência segue baixa, não dá sinais de reação e, mesmo assim, o SBT optou por esticar a obra, que não tem uma data de término definida.

A verdade é que o maior problema das novelas infantis do SBT é que todas são escritas pela mesma equipe. Com exceção de Carinha de Anjo (2016), assinada por Leonor Correa, as demais são todas de Íris Abravanel. E isso ajuda a desgastar a fórmula.

Afinal, não tem autor competente que consiga manter a criatividade em alta acumulando novelas ao longo de mais de 10 anos. É preciso dar férias à esposa de Silvio Santos e apostar em novos talentos. Senão, a tendência é que as coisas sigam em queda livre.

Filha de Silvio Santos e Iris Abravanel, Daniela Beyruti vem realizando mudanças no SBT. Pois essas mudanças devem passar pela teledramaturgia. O primeiro passo da diretora devia ser dar férias à mãe e buscar novos autores no mercado. Com tantos talentos soltos por aí, não será uma tarefa muito difícil. É preciso sangue novo para garantir o futuro do gênero.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor