Fiasco: Globo errou na escolha da substituta de A Grande Família
25/09/2022 às 14h45
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No dia 9 de abril de 2015, uma nova série de Cláudio Paiva, que já escrevia a bem-sucedida Tapas & Beijos, estreava com a dura missão de ficar no horário que foi da longeva e querida A Grande Família, produção que também contou com a colaboração do roteirista por um bom tempo. Dirigida por José Alvarenga Jr. e com previsão inicial de 25 episódios, Chapa Quente foi uma aposta da Globo em algo bem popular para agradar o público.
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A história se passava em São Gonçalo, município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro com pouco mais de um milhão de habitantes. Segundo Cláudio, a escolha deste local foi, além dele ter nascido em Niterói, em virtude do descaso que Estado tem pela região desde sempre. O cenário principal era o Marlene’s, salão de cabeleireiro da Marlene (Ingrid Guimarães), onde trabalhavam o ferino cabeleireiro Fran (Tiago Abravanel) e a manicure Josy (Renata Gaspar), que, por sua vez, era noiva de um traficante chamado Godzilla (Paulo Américo).
Marlene ainda era casada com o vagabundo Genésio (Leandro Hassum), um desempregado que era sustentado pela esposa e que costumava passar as tardes bebendo no bar da Creuza (Ana Baird). Ele ainda tinha como melhor amigo o picareta Marreta (Paulinho Serra), com quem fazia alguns bicos que nunca davam certo.
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Ou seja, o personagem era extremamente parecido com o clássico Agostinho Carrara (Pedro Cardoso), que, além de também ser de São Gonçalo, se metia em várias encrencas ao lado do parceiro Paulão (Evandro Mesquita). E a trama ainda contava com Lúcio Mauro Filho vivendo o sargento Bigode, policial que tinha o Noronha (Eduardo Estrela) como seu fiel escudeiro.
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Elenco foi o ponto alto
O elenco foi, sem dúvida, o ponto alto da série. Afinal, Ingrid Guimarães e Leandro Hassum são dois comediantes natos e responsáveis pelos maiores sucessos do cinema nacional recente. E juntá-los em uma produção foi uma ótima ideia.
Tiago Abravanel também estava à vontade na pele do cabeleireiro fofoqueiro e recalcado, assim como Renata Gaspar (grata surpresa do Tá no Ar) interpretando uma periguete chave de cadeia. Lúcio Mauro Filho, embora tenha praticamente emendado A Grande Família com este seriado, conseguiu diferenciar bem o seu policial do Tuco. Ou seja, não havia nada para criticar nos atores.
Entretanto, o mesmo infelizmente não podemos afirmar da história e dos personagens. O enredo era fraco e as piadas fáceis, muitas vezes batidas. Todos os ‘problemas’ ou conflitos dos personagens não despertavam interesse, implicando diretamente em uma falta de ânimo para acompanhar os demais episódios. Para culminar, os perfis, embora muito popularescos, não provocavam empatia. Aquelas pessoas que protagonizavam a trama pareciam cópias de outros tipos já vistos anteriormente, onde a grande maioria peca pelo exagero e excesso de gritos.
Remake disfarçado?
A impressão é que resolveram juntar tudo o que deu certo em séries anteriores em uma nova produção, como uma espécie de remake disfarçado, mas se esqueceram de criar ingredientes que funcionem neste novo conjunto.
Afinal, existiam elementos de A Grande Família (a relação de Genésio com Marlene lembrava Bebel e Agostinho, assim como a dele com Marreta se parecia com o genro de Lineu e Paulão, como já mencionado); de Macho Man (o salão de beleza era o cenário principal); de Pé na Cova (a vida de suburbanos caricaturais) e até mesmo de Tapas & Beijos (onde o bar de Creuza era o principal local para barracos entre todos, como ocorria no estabelecimento de Seu Chalita).
A história em si não apresentou atrativos e a maioria dos momentos de comicidade não divertiu, o que implicava em um grave problema para a série, pois a mesma não tinha elementos dramáticos e nem situações que provocassem alguma reflexão. Aliás, não era uma regra haver uma mescla de riso e choro, muito menos que houvesse algo para pensar ou uma ‘lição’.
Entretanto, quando a única função de um produto é divertir através dos acontecimentos do enredo e dos personagens, é preciso que a produção se garanta nesta função. O que não foi o caso. Tapas & Beijos, por exemplo, do mesmo Cláudio, tinha como objetivo apenas divertir e conseguia, ainda que já estivesse apresentado sinais de desgaste.
Chapa Quente foi uma série repleta de talentos, mas pecou no enredo fraco, nas piadas óbvias e nos personagens sem muita originalidade. A série teve duas temporadas, totalizando 43 episódios, saiu do ar em 4 de agosto de 2016 e não deixou saudade. Resumindo, a produção não honrou o horário herdado da longeva A Grande Família.