Há cerca de 11 anos, em 1º de outubro de 2012, estreava na Globo o remake de Guerra dos Sexos na Globo, estrelado por um grande elenco, contando com nomes do quilate de Drica Moraes (foto abaixo). Escrita por Silvio de Abreu e dirigida por Jorge Fernando (os mesmos envolvidos na obra original), a novela estreou cercada de expectativas.

Afinal, todos que acompanharam a primeira versão em 1983 gostariam de ver a nova roupagem da obra, assim como todos que não tiveram a oportunidade de assistir na época, queriam conhecer mais a história que revolucionou a teledramaturgia na década de 1980. Entretanto, depois de alguns capítulos exibidos, a decepção foi grande. O público rejeitou, a crítica massacrou e o Ibope foi muito baixo.

Pouco tempo depois de ter estreado, muitas críticas surgiram em cima da temática da novela. A guerra entre homens e mulheres foi considerada ultrapassada e muitos questionaram as poucas mudanças que o autor fez na trama. Vários atores também desagradaram pelo tom exagerado que colocaram nos personagens. Enfim, no início tudo parecia uma imensa catástrofe. Mas a verdade é que houve uma grande injustiça em cima desse remake.

Falta de agilidade

Silvio de Abreu realmente errou ao não inserir nenhum novo personagem na novela. E nas semanas iniciais a trama andava em círculos, não saía do lugar e cansava o público. Se em 1983 havia um ritmo mais moderado na teledramaturgia, o mesmo não se pode dizer nos tempos atuais. Agilidade agora é tudo na ficção. Porém, não demorou muito para Guerra dos Sexos se encontrar. Em menos de dois meses, a história finalmente tinha engrenado e os atores que exageravam (caso de Edson Celulari, por exemplo) haviam finalmente encontrado o tom certo.

Dali em diante o telespectador pôde presenciar uma ótima novela e que era o retrato do horário das sete: muita comédia, algumas sequências de puro pastelão (embora não muitas), formação de casais e um pouco de drama. Charlô e Otávio eram os únicos que realmente davam origem ao título da obra – protagonizando inúmeras cenas de briga -, enquanto que o restante do elenco foi seguindo seu caminho, com direito a muitas tramas românticas e situações cômicas. Aos poucos, o triângulo amoroso protagonizado por Roberta, Nando e Juliana foi crescendo até virar o grande atrativo do remake.

Grande elenco

E, sem dúvida, um dos maiores acertos desse remake foi o elenco. Mais uma vez, Silvio de Abreu escalou um timaço (tendo raras exceções como Eriberto Leão e Thiago Rodrigues) e deu espaço para absolutamente todos os atores se destacarem. Fernanda Montenegro e Paulo Autran (protagonistas da primeira versão) foram muito bem representados, afinal, Irene Ravache e Tony Ramos são magníficos atores e brilharam do início ao fim como Charlô e Otávio. Além, claro, de terem divertido muito como Altamiranda e Dominguinhos, os portugueses que vieram agitar a reta final da novela.

Glória Pires sempre engrandece qualquer obra e deu um show como Roberta Leone. Reynaldo Gianecchini e Mariana Ximenes repetiram a boa parceria de Passione. Já Drica Moraes fez uma Nieta inesquecível e hilária. E Marilu Bueno pôde viver novamente a ótima Olívia, empregada que também foi interpretada por ela em 1983. Fernando Eiras (Dinorá), Débora Olivieri (Semíramis), Luana Piovani (Vânia) e Edson Celulari (Felipe) também merecem elogios. E Bianca Bin viveu uma das melhores personagens de sua curta carreira ao interpretar a vilã Carolina. Enfim, foi um time muito bom. Elenco digno de horário nobre.

Final excelente

O último capítulo foi excelente e o autor cumpriu o que prometeu: alterou todos os finais. Analú (Raquel Bertani) terminou com Zenon (Thaigo Rodrigues) na mesma ilha deserta para onde tinha levado Nando no início da trama. Frô (Marianna Armelini) ficou rica ao se casar com Kiko (Jonny Massaro) e Olívia iniciou um romance com Rodrigo Lombardi; na verdade uma piada do autor em cima do Theo, insuportável protagonista de Salve Jorge que já se envolveu com várias mulheres. Carolina não se regenerou e protagonizou uma cena diabólica, onde a peste ninava sua irmãzinha recém-nascida com um olhar assustador. Veruska (Mayana Moura) fugiu da prisão, ficando impune.

Já o aguardado desfecho do quarteto amoroso foi mesmo desvendado só nos momentos finais. Silvio conseguiu enganar a imprensa e após vários jornais terem divulgado o fim de Roberta com Nando, houve uma grande reviravolta. A empresária teve uma emocionante conversa definitiva com o motorista e ambos concluíram que ele ama mesmo Juliana. Glória Pires e Gianecchini foram brilhantes. Após esse tocante diálogo, Nando foi correndo atrás de seu amor, enquanto que Roberta foi alertada por Charlô a ir atrás de Felipe antes que ele viajasse. Ou seja, justamente os dois personagens indecisos do quadrilátero foram os que precisaram acordar e ir atrás do tempo perdido. Ainda houve um final inusitado e criativo: Fábio evitou a solidão e ficou com a Mariana Ximenes (além de viver a Juliana, a atriz interpretou ela mesma, causando surpresa).

Para encerrar com chave de ouro, Altamiranda e Dominguinhos iniciaram uma guerra de comida contra Charlô e Otávio – e, por sua vez, enquanto o pastelão acontecia, mesclavam a cena atual com sequências de 1983 com Fernanda Montenegro e Paulo Autran. Antes dos créditos subirem, o telespectador ainda viu o elenco e a equipe dançando ao som do tema de abertura. Um final impecável.

Injustiça

Infelizmente, Guerra dos Sexos terminou tendo como marca uma das piores audiências da história do horário das sete. Um título muito injusto, levando em consideração que o remake foi infinitamente melhor do que muita novela fracassada que já foi exibida no horário, como Começar de Novo, Bang Bang, Três Irmãs e Tempos Modernos, citando somente alguns exemplos de novelas péssimas e merecedoras de um ibope baixo.

Por mais que a novela tenha sido um fracasso, é digno dizer que a reformulação da obra de Silvio de Abreu honrou as comédias do horário, não havendo razão alguma para tanta rejeição. E quem acompanhou essa guerra do início ao fim pôde ver uma história leve, divertida e recheada de bons personagens.

O remake de Guerra dos Sexos pode não ter conquistado o mundo e nem seduzido bem fundo, mas conseguiu presentear o telespectador com um bom e despretensioso entretenimento.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor