Com fenômenos e polêmicas, BBB21 conseguiu quebrar sina de anos da Globo
05/05/2021 às 14h37
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Foram 100 dias de BBB21. A edição mais longa da história. E a Globo não tem do que reclamar. O reality foi um sucesso de audiência, repercussão e faturamento. Conseguiu superar o bem-sucedido BBB20, exibido ano passado, no início da pandemia do novo coronavírus.
Aliás, a vigésima primeira edição do Big Brother Brasil superou a média das sete edições anteriores. Um grande feito que nem os mais otimistas esperavam. E são várias as razões para explicar esse êxito. O BBB21, inclusive, quebrou uma regra de anos do Big Brother Brasil: uma temporada de sucesso sempre acabava substituída por uma fracassada ou sem relevância.
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O elenco foi muito bem escalado por Boninho e equipe. Inteligente ter repetido a inovação que deu certo ano passado: a divisão entre Camarote e Pipoca. O BBB20 foi o pioneiro na presença de ‘famosos’ no time. Houve até um receio de parecer muito com a extinta Casa dos Artistas, no SBT, ou A Fazenda, na Record. Mas conseguiram desvincular qualquer semelhança de formatos que já são uma espécie de cópia do BBB.
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Como a vitrine de 2020 foi muito boa para Manu Gavassi, Babu Santana, Boca Rosa e Rafa Khaliman, houve uma facilidade maior na escolha dos nomes do BBB21. Por isso, o público se surpreendeu com Projota, Karol Conká e Carla Diaz na casa. Figuras (dois cantores e uma atriz) conhecidas que têm uma carreira consolidada. Além do trio, a influencer Camilla de Lucas, o ator Luca Penteado, a cantora Pocah, o cantor Rodolffo, o humorista Nego Di, o cantor Fiuk e a youtuber Vitória integraram o elenco ‘privilegiado’. Já os anônimos foram Juliette, Gilberto, Sarah, Arthur, Caio, Thais, Kerline, Lumena, João e Arcrebiano.
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Ao contrário do que costuma acontecer em toda temporada, houve uma grande movimentação logo na primeira semana. Lucas se mostrou uma pessoa de difícil convivência e já quis formar um grupo com os homens para eliminar as mulheres. Como a estratégia não deu certo, tentou formar uma aliança de negros contra brancos. Isso porque, pela primeira vez, em 21 edições, houve um número significativo de participantes negros. Finalmente. Sempre eram no máximo três. No BBB21, foram 9. Porém, também não funcionou e todos se voltaram contra Lucas. O participante ainda despertou polêmica quando comparou Kerline ao regime nazista, pouco depois de ter levado um fora da colega. Ainda chamou quase todos os adversários de racistas, machistas e homofóbicos. Sua eliminação com rejeição alta era questão de tempo.
Todavia, antes do desfecho da primeira semana, houve uma virada impensável. Embora tenha errado em vários níveis, Lucas virou uma vítima. Isso porque Karol Conká, Nego Di, Lumena e Projota extrapolaram qualquer limite quando passaram tratar o rival como uma pessoa repugnante. A cena mais forte da edição foi Karol expulsando Lucas da mesa para que todos comessem sem a presença do rapaz. Os gritos que Lumena deu depois que viu Lucas beijando Gilberto, em mais um momento marcante da temporada, também despertou indignação do telespectador. Já sem qualquer estrutura psicológica para se manter no programa, o ator pediu para sair e teve seu desejo atendido. Foi um baque para todos e o auge da repercussão da edição. No final das contas, Lucas acertou quando saiu, pois seus vários erros foram ‘esquecidos’ por grande parte do público e acabou ganhando um contrato com a Globo. Se tivesse permanecido, poderia ter voltado a se queimar após a eliminação de seus algozes.
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E o jogo não esfriou sem Lucas. A forma como todos os integrantes da casa humilhavam Juliette logo transformou a paraibana em favorita. Isso porque os participantes acabaram contaminados pela forma pejorativa que Karol e Lumena falavam da colega para os demais. Gilberto e Sarah, porém, aos poucos, perceberam que uma injustiça estava sendo feita e se juntaram com Juliette. A aliança nunca foi firmada de fato, mas o público se empolgou e passou a chamá-los de G3. Os dois chegaram a empatar com o favoritismo de Ju durante aquela fase do jogo. Tanto que Sarah fez a alegria do público quando puxou Nego Di em um contragolpe e indicou Karol ao paredão, o que eliminou ambos com recorde de rejeição (98,76% e 99,17%).
Porém, Sarah e Gil se queimaram com a audiência quando traíram Juliette. Os dois firmaram uma aliança com Caio e Rodolffo, dois jogadores que agiram como parasitas se aproximando de quem julgavam estar melhor com o público, e descartaram Juliette. A partir de então, foram várias críticas pelas costas da advogada. Isso porque a participante se recusou a compactuar com as falas depreciativas sobre Carla Diaz. Ironicamente, o rompimento aconteceu no mesmo momento do paredão falso que contou com a falsa eliminação da atriz.
Quando Carla voltou havia uma expectativa sobre como agiria com Arthur, ‘namorado’ que sempre a desprezou. A decepção foi imediata quando Carla se ajoelhou aos pés do rapaz e se declarou. Mas seu retorno, ao menos, serviu para expor o desespero de Sarah, Gil e Vitória, a mais falsa da casa. Sarah e Gilberto foram correndo pedir desculpas a Juliette, enquanto Viih chorou copiosamente com medo de sua imagem. Sarah acabou eliminada pouco tempo depois, mas Gilberto conseguiu recalcular sua rota e se reaproximou de Juliette. Enquanto Viih Tube seguiu fingindo boa relação com todos do programa, ainda que tenha simulado muito mal seu carinho por Juliette.
O episódio envolvendo o racismo sofrido por João também movimentou o jogo e causou grande repercussão. Rodolffo comparou o cabelo do colega ao de uma fantasia do castigo do Monstro da semana e João expôs seu sofrimento durante um Jogo da Discórdia. Embora com pouco mais de 50% dos votos, acabou resultando na merecida eliminação do cantor sertanejo. Tiago Leifert até fez um discurso importante sobre o cabelo Black Power, mesmo não sendo seu lugar de fala. Pena que com três anos de atraso, vide o discurso deplorável do apresentador para enaltecer a vitória de Paula no BBB 19 que nem merece ser repetido – a pior edição da história do programa. Vale ressaltar o forte posicionamento de Camilla durante toda essa horrível situação que seu melhor amigo sofreu. Na ocasião, a procura no Google sobre ‘Cabelo Black Power’ cresceu 355%.
A edição só não conseguiu chegar nem perto do recorde de votos do BBB20. Se a audiência foi bem melhor, o mesmo não pode ser dito sobre o empenho do público nas votações. Talvez porque a previsibilidade dos paredões tenha predominado. Era difícil não saber quem seria o eliminado da vez. Os mais de um bilhão e 500 mil votos do paredão entre Manu Gavassi, Mari e Prior não serão batidos tão cedo. Em compensação, foi a temporada com recordes de rejeição.
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Os já mencionados Karol e Nego Di chegaram quase aos 100% de desaprovação. Viih Tube (96,69%), Projota (91,89%), Kerline (83,50%), Thais (82,29%) e Sarah (76,76%) foram outros que sofreram o ‘massacre’ do público votante. Já no paredão que com contou com eliminação de Arthur (61%), houve um novo recorde: 3,6 milhões de votos em 60 segundos. O maior fluxo de votação por minuto em toda história do BBB. A volta de Carla Diaz vestida de dummy teve tantos acessos simultâneos na Globoplay que o serviço saiu do ar. O dia que Lucas e Gil se beijaram resultou em 170% mais consultas sobre os termos bifobia e bissexual. Já a palavra ‘xenofobia’ teve um crescimento de 70% quando Karol Conká depreciou a forma de Juliette falar.
Aliás, Juliette Freire nunca perdeu o favoritismo. Impressiona o fenômeno que a participante virou. Um caso raro na história do reality. Foram mais de 23 milhões de seguidores ganhos durante o programa, virando a segunda (agora) ex-BBB mais seguida do programa, atrás apenas de Sabrina Sato (29 milhões) – ultrapassou Grazi Massafera no penúltimo dia de reality. E a advogada e maquiadora fez por merecer. Sua trajetória foi brilhante. É raro o jogador que consegue acertar no jogo externo e no interno. Juliette conseguiu.
Transformou o público em seu maior aliado e teve uma visão de jogo exemplar ao longo dos meses. Rejeitada por todos, traída pelos aliados e sempre com suas palavras questionadas e sentimentos invalidados, acabou conquistando a empatia de quem assistia. Dona de uma boa oratória, a participante mal conseguia falar nos primeiros dias diante de tantos ataques que recebia. O telespectador comprou sua briga ali e não a abandonou mais. Já na reta final, a dupla formada com Camilla de Lucas, outra ótima participante, agradou e acabou levando a digital influencer para a final no lugar de Gilberto, que ficou em um doloroso quarto lugar em virtude da vitória do irrelevante Fiuk na última prova de resistência.
A final foi ao ar em um dia de luto para o Brasil. O querido humorista Paulo Gustavo faleceu, aos 42 anos, vítima da covid-19. Já um pouco mais cedo, um maníaco invadiu uma creche e assassinou cinco pessoas em Santa Catarina. O desafio do último dia do reality ficou ainda maior. Como exibir um desfecho alegre em um dia tão triste? Mas Boninho, Tiago Leifert e equipe conseguiram. A edição foi primorosa e todos os clipes mesclaram emoção e bom humor de forma certeira. A participação surpresa de Lucas Penteado na apresentação de Projota surpreendeu os finalistas e o público. Impossível não ter se arrepiado e chorado junto. Foi de um significado muito grande. Uma mensagem de esperança em meio a um período tão devastador para o país.
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E o discurso irretocável de Leifert para a vitória arrasadora de Juliette (com 90,15% de preferência popular) fechou a temporada de maneira brilhante. Foram 633.284.707 votos. A terceira maior votação da história do programa — a primeira é o paredão de um bilhão e meio do BBB20 e o segundo o nono paredão do BBB21 com Rodolffo, Juliette e Sarah. Em uma disputa que já era óbvia. Ainda assim com uma votação expressiva. A votação da paixão de quem assistiu. Para culminar, Camilla de Lucas ganhou o merecido segundo lugar com 5,23% dos votos. Deu tudo certo. Em um dia onde tudo tinha dado errado.
A vigésima primeira edição se mostrou tão movimentada quando a vigésima e superou a audiência para a alegria do Boninho. Chamado de o Big dos Bigs, o jogo de 2021 teve um bom impacto. Foram 39,8 milhões de pessoas de alcance médio diário em 93 dias de exibição – o que superou a fase completa do BBB20 em 2,9 milhões de pessoas e do trágico BBB19 em 7,9 milhões de pessoas. Resta esperar agora o BBB22 e ver se o esquema de famosos contra anônimos será mantido ou extinto em virtude da polêmica sobre as trajetórias de algumas figuras bem conhecidas do grande público. Só o tempo dirá.