Fenômeno: há um ano, terminava edição que fez o público voltar a gostar do BBB

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O intuito de comemorar as vinte edições do Big Brother Brasil era mais do que válido. Afinal, o reality mais longevo e bem-sucedido do país atingiu uma marca respeitável. Mas o BBB19 foi a pior temporada de todas, tanto no quesito audiência quanto na péssima seleção do elenco e decisão equivocada do público de premiar uma mulher que só deu declarações deprimentes. Será que a produção conseguiria reverter a péssima imagem do ano passado? O ano comemorativo funcionou? A resposta é sim para as duas perguntas.

O BBB20 terminava há exatamente um ano, em 27 de abril de 2020. É verdade que o risco de não dar certo era alto. Pela primeira vez na história do reality, Boninho resolveu fazer um time metade anônimo (chamado de Pipoca) e metade “famosos” (de nome Camarote). As aspas foram colocadas porque quase todos não eram conhecidos do grande público.

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Manu Gavassi e Babu Santana eram as únicas figuras realmente lembradas, mesmo com trajetórias televisivas sem grandes sucessos. Porém, a estratégia funcionou. Todos tiveram participações importantes no jogo, para o bem e para o mal. Foram ativos. E o time de anônimos também engrandeceu o programa com boas participações. Pela primeira vez, não houve a famigerada “planta”, aquela pessoa que mal aparece e não faz diferença. Até um rato que apareceu na última semana fez sucesso e ganhou o nome de Genilson, embora nenhum participante tenha visto o indesejável animal.

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Entretanto, é preciso lembrar o lamentável elenco masculino. Machistas, grosseiros e idiotizados, os homens da casa provocaram desprezo do público. Raras foram as exceções. Até Boninho admitiu o fato quando respondeu no Twitter um seguidor que perguntou se tinha achado os “machos” no esgoto: “Também não sei”, declarou aos risos.

O lado bom é que a ‘toxidade’ dos homens implicou no crescimento das mulheres. O BBB 20 foi feminino, é um fato. O programa só emplacou de vez quando Marcela e Gizelly contaram para as colegas a respeito do plano de Hadson, Lucas, Guilherme, Petrix e Prior de seduzirem as mulheres comprometidas para uma suposta mancha de imagem fora da casa. A confirmação de Daniel e Ivy, recém-chegados da Casa de Vidro, resultou no ápice da temporada. O machismo foi massacrado dentro e fora da casa. A gangue acabou escorraçada.

As várias viradas ao longo da edição também ajudaram a movimentar o jogo que se tornou imprevisível. A figura do franco favorito ruiu todas as vezes que tentou se sustentar. Apesar da conduta deplorável, Prior virou queridinho quando se aliou a Babu, depois que Hadson e Lucas saíram. Mas foi destruído pela força de Manu Gavassi e todas as torcidas dos demais participantes que se uniram para tirá-lo em um paredão histórico com mais de um bilhão e meio de votos, em pleno início de quarentena por conta do coronavírus.

Os berros de comemoração nos vídeos amadores feitos em vários condomínios pelo país arrepiaram. Manu, então, despontou para um favoritismo até então impensável. Rafa também foi ganhando cada vez mais força em virtude de sua sensatez e sua amizade com Manu angariou muitos fãs. Thelma, de rejeitada por seu grupo, virou uma das queridinhas do público e cresceu ainda mais quando se aliou a Rafa e Manu.

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Já Marcela, que era uma das principais candidatas ao prêmio nas primeiras semanas, jogou toda sua trajetória no lixo quando formou casal com o mimado Daniel e ainda excluiu Thelma. Suas constantes defesas das atitudes irresponsáveis do garoto também irritaram o telespectador. O feminismo tão admirado perdeu a força. Gizelly foi outra vítima de péssimas companhias. A passional participante chegou a despontar como favorita durante um período, mas naufragou no gosto popular ao se juntar com a maledicente Ivy.

O estrategista Pyong foi outro nome que chegou a ter o prêmio em mãos, mas perdeu assim que deixou a arrogância sobre o destino dos rivais prevalecer. Isso depois de ter conseguido reverter uma rejeição criada por conta de sua lamentável conduta durante uma festa, onde importunou sexualmente Marcela e Flay.

E Babu, que era um dos mais deslocados do jogo, foi crescendo graças aos seus adversários através de repetitivos votos aos domingos. Estava em quase todas as disputas de eliminação. Resultado: um recorde histórico de paredões: 10, ultrapassando os então recordistas Ana Madeira e Marcelo, indicados sete vezes no BBB9 e BBB14, respectivamente. Mas também não conseguiu manter o favoritismo. Acabou eliminado no décimo paredão, ficando em quarto lugar. A final tinha que ser mesmo feminina em uma edição dominada pelas mulheres.

A classificação de Thelma e Rafa foi emocionante e o grito de êxtase de Manu representou uma boa parcela do público. As três tiveram uma trajetória admirável ao longo do programa. Integrantes da então aclamada Comunidade Hippie, o trio estabeleceu um elo inquebrável a partir da traição de Daniel quando deu o castigo do Monstro para Thelma. Marcela e Gizelly deixaram a amiga sozinha e as duas a acolheram e tomaram suas dores.

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Foi o início da queda do chamado ‘grupão’ e Thelma percebeu que foi deixada de lado por Ivy e Daniel. A amizade com Manu e Rafa foi crescendo cada vez mais até ficarem inseparáveis. E todas as jogadas do trio merecem elogios. Não foram coadjuvantes ou irrelevantes. Pelo contrário, se mostraram peças fundamentais do jogo da vigésima edição.

Manu virou uma espécie de líder do movimento feminista contra os homens que tiveram atitudes deprimentes e depois deixou claro que não amenizaria atitudes igualmente deprimentes vindas de mulheres, como Flay e Bianca, que chegaram a menosprezar a indignação das meninas no início do reality. Rafa teve uma boa preparação para entrar no programa e sua conduta foi correta ao extremo, o que implicou em uma imagem não muito real de perfeição.

Ainda assim, merece elogios por suas alianças e atitudes corajosas, como indicar Bianca (seu desafeto de fora da casa) em um momento onde ninguém votaria nela. Já Thelma nunca teve medo de se posicionar e foi a única mulher que apoiou sempre o jogo explícito de Pyong, enquanto as demais sentiam medo da ousadia do mágico. Foi leal demais a Marcela e Gizelly, mesmo sendo deixada de lado várias vezes. Só largou de vez a amizade pouco recíproca quando realmente não havia possibilidade de continuar. Apesar da vida de batalhas, nunca se fez de coitada para angariar simpatia e muitas vezes era chamada de arrogante só porque, para alguns, mulher preta tem que se curvar sempre.

A final foi a mais justa da história do reality. É uma opinião pessoal? Claro, mas é inegável o merecimento do trio. Qualquer ganhadora seria digna de honra. Não por acaso as porcentagens foram tão equilibradas, algo raro em reality. Por conta da pandemia do coronavírus, a plateia foi extinta e não houve a tradicional presença dos participantes eliminados. Triste, mas necessário.

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E não atrapalhou o brilho da final. Os vídeos foram ótimos e a vitória de Thelma uma consagração de uma edição primorosa. Tinha que ser dela. Até Rafa, segunda colocada, e Manu, terceira, comemoraram com a mesma animação da campeã. Fruto de uma amizade real formada dentro da casa e levada para a vida. A prova do amor que o público sentiu pelo trio foi a porcentagem equilibrada. Thelma levou com 44,10%, Rafa ficou com 34,81% e Manu com 21,09%. E que momento tocante de Tiago Leifert agradecendo o público e o sucesso da temporada em um momento tão difícil do Brasil.

É necessário ainda citar outros vários acertos da temporada. A presença de Rafael Portugal se mostrou uma das melhores novidades. Após um início apagado e sem muita graça, o humorista conseguiu dar a volta por cima e terminou o reality dando show no “CAT BBB”. Impagável.

A dinâmica do “Bate e Volta” deu uma emoção a mais no jogo através da chance de salvar um dos mais votados para o paredão em provas de sorte. Os castigos do Monstro homenageando situações clássicas ao longo de 20 edições de “Big Brother” também merece menção. Daniel “coqueiro” (BBB11), Sol “iarnuou” (BBB4) e Tina “paneleira” (BBB2) foram algumas das figuras lembradas.

No entanto, uma crítica merece ser feita: a pouca utilização do “Big Fone”, um dos melhores elementos de tensão na disputa, que só tocou duas vezes. Não precisava ser usado em toda semana por conta da previsibilidade, mas ter uma “participação” tão discreta foi decepcionante. A sorte é que a atração se mostrou tão movimentada e bem disputada que não prejudicou a qualidade do conjunto.

A vigésima edição do Big Brother Brasil chegou ao fim consagrada. Foi a mais longa de todas até então: 98 dias. Os mais duradouros eram o BBB18 e o BBB19, com 88 dias. A edição de 2020 foi estendida em quatro dias pelo tamanho fenômeno. As sete maiores votações da história foram nessa temporada. Há muito tempo que o reality não tinha uma repercussão tão grande e era tão comentado pelas pessoas, inclusive fora das redes sociais – o último dia marcou 34,2 pontos, a maior audiência de uma final em dez anos.

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É verdade que a quarentena contribuiu e o programa foi uma excelente companhia para a população que tem ficado em casa, mas o sucesso já existia antes da pandemia. A média foi de 25 pontos, cinco a mais que a fracassada temporada de 2019. O público voltou a se envolver com o reality mais popular do Brasil. E o melhor foi que, além do delicioso entretenimento, vários assuntos importantes foram levantados, como machismo, feminismo, racismo, sororidade e empatia. Nada de forma cansativa ou pedante, mas através de condutas que engrandeceram ainda mais a competição.

O BBB20 entrou para a galeria de temporadas históricas. E registrada no Guinness Book por conta da votação impressionante de mais de um bilhão e meio de votos. Nenhum reality no mundo conseguiu algo parecido. O engajamento do BBB de 2020 realmente ultrapassou até as expectativas dos mais otimistas. Valeu a pena!

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