Nos dias de hoje, se uma novela passa da casa dos 30 pontos, o feito chega a ser comemorado, o que é normal em tempos de concorrência com TV paga e internet. Imagine uma trama que foi vista em 100% dos televisores ligados. Isso mesmo. No dia 4 de outubro de 1972, o capítulo 152 da primeira versão de Selva de Pedra, um dos maiores sucessos da história da teledramaturgia brasileira, alcançou a invejável marca: todos os aparelhos do Rio de Janeiro assistiam à TV Globo. Mesmo assim, a trama recebeu críticas pela inverossimilhança.

No folhetim de Janete Clair, que estreava há exatamente 49 anos, em 23 de janeiro de 1972, após uma série de ações capitaneadas pelos vilões Fernanda (Dina Sfat) e Miro (Carlos Vereza), o protagonista Cristiano Vilhena (Francisco Cuoco) desmascarou, na polícia, seu grande amor (e mocinha da história), Simone Marques (Regina Duarte), que vivia como a artista plástica Rosana desde que sofreu um acidente, simulando a própria morte. O Brasil parou para assistir ao capítulo.

Naquela época, a medição de audiência pelo Ibope era da seguinte forma: o pesquisador batia de porta em porta e perguntava o que estava sendo assistido. No Rio de Janeiro, de cada cem casas, 77 casas viram o capítulo 152 de Selva de Pedra; as outras 23 estavam com o televisor desligado. Ou seja, a novela foi sintonizada por 100% dos televisores ligados. Todas as outras emissoras deram traço absoluto.

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Críticas

Mas não pense que uma novela que atinge 100% fica imune a críticas. Muito pelo contrário. A lendária Helena Silveira, crítica da Folha de S. Paulo, detonou a volta de Simone na pele de Rosana na edição de 8 de outubro de 1972 do jornal.

“É absolutamente infantil o retorno de Simone com a identidade de Rosana. A plateia enorme que vinha assistindo à novela parece aturdida com a reviravolta do raconto, com a mudança do estilo. E o telefone de casa não cessa de tocar:

– Helena, quando Cristiano foi acusado de crime e encontrou a morta, não se lembrou de pedir à polícia que verificasse as impressões digitais de Rosana e conferisse com as de Simone?

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– Será que Simone nunca foi a um dentista? Seria tão fácil comparar a arcada dentária da morta com a da viva!

– Ninguém, mas ninguém mesmo, teve um treco ao ver a ressurreição de uma morta e enterrada?

Claro que Janete Clair vai dar um jeitinho. Claro que a verdade virá à tona. Mas as cenas da volta de Simone, nem por isso deixam de ser inverossímeis. E isto é melancólico, pois que a novela tinha uma grande aceitação pelo público e este se sente bastante fraudado”, escreveu a crítica.

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Independentemente da crítica, Selva de Pedra foi um sucesso e ficará marcara para sempre na galeria das grandes produções da televisão brasileira.

Foi produzido um remake da novela em 1986, com Tony Ramos e Fernanda Torres nos papéis principais, mas sem o mesmo sucesso da versão original.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor