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Rosane Svartman e Paulo Halm formam um trio perfeito com Luiz Henrique Rios. Os autores e o diretor colecionam muitos sucessos juntos. Após as bem-sucedidas Malhação Intensa (2012), Malhação Sonhos (2014) e Totalmente Demais (2016), esse vitorioso time emplacou Bom Sucesso, um fenômeno de audiência e sucesso de repercussão e crítica, que chegava ao fim há exatamente um ano, em 24 de janeiro de 2020, com um capítulo repleto de emoção e sensibilidade, honrando o conjunto apresentado desde o início.
Se na novela anterior os autores exploraram o mundo do cinema através de deliciosas referências em meio ao desenvolvimento de Totalmente Demais, em Bom Sucesso a dupla optou pela abordagem da literatura. O mundo mágico dos livros era retratado pela linda amizade de Alberto (Antônio Fagundes) e Paloma (Grazi Massafera), onde um era dono de uma editora e a outra uma apaixonada por livros.
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A união se deu por conta de uma troca de exames, logo desfeita no final da primeira semana de novela, sem enrolação. E dali em diante o público foi presenteado com uma sucessão de cenas bem escritas, personagens densos, casais apaixonantes, conflitos bem construídos e referências literárias que cabiam perfeitamente em cada drama do roteiro.
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O foco principal não era casal romântico ou as maldades dos vilões e, sim, a relação linda entre Alberto e Paloma, personagens de mundos tão diferentes. Ele, milionário da zona sul, e ela, moradora de Bonsucesso, subúrbio do Rio de Janeiro. É verdade que o personagem chegou a alimentar uma paixão platônica pela mocinha, mas nunca alimentou esperanças e também nem houve aprofundamento nisso – tanto que a costureira nunca soube.
E o universo literário era exposto através de muitos trechos lidos por Alberto para sua grande amiga, que se transformavam em lúdicas imaginações da protagonista. A ideia tinha tudo para dar errado. Afinal, as cenas mais voltadas para a teatralidade poderiam resultar em algo trash ou tosco. Mas deu certo. Os sonhos eram bonitos e com figurinos maravilhosos. Vários clássicos foram apresentados, ainda que em momentos breves. Os autores ainda tiveram um trabalho extra: colocaram Alberto lendo trechos de livros que serviam para determinadas cenas que eram exibidas simultaneamente. A ousadia valeu a pena. Todas as sequências tiveram um peso ainda maior graças a essas citações.
O Carnaval esteve muito presente na trama e nada era gratuito. Isso porque Ramon (David Junior) era mestre de bateria e sua relação com Paloma no passado começou na quadra da Unidos de Bonsucesso. O samba ainda serviu para a mocinha apresentar um novo mundo a Alberto, que não escondeu o encantamento com aquilo tudo. Também serviu de pano de fundo para divertidos embates entre Paloma e Silvana Nolasco (Ingrid Guimarães), que não sabia nada da escola e só queria os holofotes para divulgar sua imagem. Nada muito diferente do que ocorre na vida real.
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O romance também serviu de tempero para a deliciosa história, assim como qualquer bom folhetim. Os autores foram espertos na construção do amor dos mocinhos e fugiram do clichê da paixão à primeira vista. Em meio aos desatinos praticados pela protagonista durante o breve período que acreditou em sua morte, a transa com um desconhecido a marcou. Paloma nunca esqueceu de Marcos e nem ele dela. Por ironia dos destino, a costureira descobriu que o rapaz era filho de seu mais novo grande amigo e não demorou para o amor nascer. Tudo feito com cuidado e sem pressa. Rômulo Estrela e Grazi Massafera tiveram uma química arrebatadora e o casal Maloma caiu no gosto do público.
A relação de Mário e Nana foi outro acerto. Lúcio Mauro Filho e Fabíula Nascimento transbordaram sintonia. O amor que o poeta sempre sentiu pela irmã de seu melhor amigo era traduzido através de doces e até divertidos poemas. O personagem soube esperar a responsável pela editora Prado Monteiro enxergá-lo como homem, após as várias decepções com Diogo. Nana, aliás, era o perfil mais complexo da trama e proporcionou grandes cenas para a atriz.
Já a diversidade se mostrou como um dos maiores trunfos da novela. Mais de 20 atores negros foram escalados, incluindo marcantes participações – como Kizi Vaz na pele da vilã Rosemary -, e apenas um na condição de empregado, no caso Bezinha, vivida pela grande Thais Garayp. Praticamente a metade do elenco era negra. E quase todos tiveram bons momentos ao longo da história.
A trilha sonora foi outro êxito de Bom Sucesso e ainda ajudou a contar a história. Ao contrário do que costuma ocorrer em vários folhetins nos últimos anos, cada casal tinha seu tema e as canções traduziam as respectivas relações ou até as personalidades dos personagens.
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A última semana de novela teve de tudo um pouco. Momentos de tensão de alto nível com a sequência em que Diogo incendiou a Prado Monteiro e acabou surpreendido por Gisele, que salvou todos os seus ex-inimigos. De tirar o fôlego. Após a frenética catarse, o público foi presenteado com cenas lindas dos personagens retornando ao local carbonizado e erguendo livros clássicos da literatura em um grito de esperança. Era a representação plena do recomeço.
E o que dizer da cena de Alberto e Paloma desfilando em pleno sambódromo? A arrepiante sequência foi toda gravada no Carnaval de 2019 e os atores nem tinham ideia do rumo de seus personagens, o que deixou a composição ainda mais desafiadora. Mas Grazi e Fagundes tiraram de letra e emocionaram em uma das melhores cenas do ano. De chorar. Tudo ao som do clássico Liberdade Liberdade, abre as asas sobre nós.
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A volta de Diogo serviu para uma última catarse e teve uma justificativa: fazê-lo sofrer. Afinal, seria fácil ter apenas morrido no incêndio. O advogado tentou matar Nana, mas logo acabou preso. O canalha terminou em uma prisão, atormentado pelos espíritos de todas suas vítimas. Armando Babaioff em estado de graça.
Já o último gancho primou pela sutileza: Alberto olhando para a câmera, com um sorriso pleno, em uma clara despedida do público. Não precisou de uma palavra sequer. O lema da trama foi representado com uma expressão. A sorrir eu pretendo levar a vida…
O último capítulo foi simplesmente irretocável, o que é raro em novelas. A morte de Alberto, após ter recitado um trecho do poeta Rubem Braga, foi bonita e emocionante.
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Bom Sucesso fez jus ao seu título. O trocadilho é inevitável. Rosane Svartman e Paulo Halm emplacaram mais um imenso sucesso em seus vitoriosos currículos. Média final de 29 pontos, a melhor desde Cheias de Charme, exibida em 2012.
A dupla escreveu uma novela que não teve vergonha de ser novela e ainda conseguiu usar todos os clichês do gênero em ótimas viradas, que misturaram ação, emoção e delicadeza. Não houve barriga ou enrolação. Não é exagero afirmar que elevaram o nível da faixa das 19h, tão acostumada apenas a enredos meramente cômicos e farsescos que não têm fôlego para seis meses. A sempre controversa temática sobre a chegada da morte foi apresentada de forma lúdica e criativa. Teve choro, alegria e tensão. Teve de tudo um pouco.
A união de teledramaturgia e literatura foi concretizada em 155 capítulos com uma maestria invejável. Que os autores não demorem a voltar. O público precisa deles. E, quem sabe, agora no horário nobre. Avante!