Fato inexplicável compromete início promissor de Mar do Sertão

01/09/2022 às 17h45

Por: Sergio Santos
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Zamenza

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A nova novela das seis da Globo teve uma primeira semana tranquila. Mar do Sertão, escrita por Mário Teixeira e dirigida por Allan Fiterman, iniciou sem correria ou atropelos. Aliás, analisando friamente, poucos acontecimentos relevantes ocorreram na trama. O principal objetivo foi apresentar e formar o triângulo amoroso central do enredo, composto por Candoca (Isadora Cruz), Zé Paulino (Sérgio Guizé) e Tertulinho (Renato Góes).

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O trio protagonista vem dominando a narrativa e os demais personagens têm muito pouco tempo de tela. Os únicos perfis secundários que já sobressaíram na novela foram o prefeito Sabá Bodó, intepretado pelo sempre impagável Welder Rodrigues, e o malandro Timbó, vivido pelo ótimo Enrique Diaz.

O político sem um pingo de escrúpulo protagoniza situações divertidas, mas que representam a podridão do Brasil em sua essência. Já o sofrido morador de uma casinha simples tem clara inspiração em João Grilo, interpretado por Matheus Nachtergaele em O Auto da Compadecida. Tem uma vida miserável, mas se vira com o pouco que tem e, quando consegue, foge de trabalho. São tipos promissores.

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Já o enredo principal preenche quase integralmente o tempo dos capítulos. O triângulo é um clichê de qualquer folhetim e o de Mar do Sertão lembra o de outra produção das 18h: o formado por Cassiano (Henri Castelli), Ester (Grazi Massafera) e Alberto (Igor Rickli) em Flor do Caribe, escrita por Walther Negrão em 2013. Até o plot twist é semelhante porque Zé Paulino sofre um grave acidente com Tertulinho e é dado como morto.

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A tragédia resulta no casamento de Candoca com o vilão. No entanto, o trio atual tem muito mais carisma e humor que o da fraca novela de nove anos atrás. E a construção das relações tem sido bem realizada pelo autor.

Mar do Sertão

Candoca e Zé Paulino começam a história noivos. Ela traz toda a doçura da juventude, mas também carrega a força do sertão dentro de si. Criada pela mãe, Dodôca (Cyria Coentro), uma costureira viúva, Candoca é professora na fictícia Canta Pedra e está sempre atenta ao que acontece na cidade e pronta para defender qualquer injustiça.

Aliás, as cenas da mocinha invadindo a prefeitura e enfrentando o prefeito várias vezes foram ótimas. Zé Paulino, vaqueiro da fazenda Palmeiral, também é conhecido por todos por seu caráter honesto e justo. O rapaz tem como principal exemplo o tio que o cria como pai, Daomé (Wilson Rabelo), meeiro da fazenda. O mocinho também é muito fiel ao patrão, coronel Tertúlio (José de Abreu), que o tem como filho.

Pressa inexplicável

Mar do Sertão

O público não acompanhou como os mocinhos se conheceram e se apaixonaram porque já foram mostrados como um casal logo no primeiro capítulo. A situação não costuma funcionar na teledramaturgia caso algo grave não os separe logo, mas é justamente o que acontece com a falsa morte do mocinho. Então fica mais fácil torcer pelo reencontro.

Após uma primeira semana de calmaria, a virada aconteceu no capítulo desta terça-feira, dia 30, quando Zé Paulino e Tertulinho se acidentam. Os mocinhos estão ansiosos para o casamento, mas Tertúlio dá ordem para que Zé leve um cavalo até uma outra cidade justamente perto da data da cerimônia. O coronel ainda manda o filho, Tertulinho, acompanhar Zé Paulino na entrega do cavalo. Mas uma forte chuva durante a viagem provoca um grave acidente. O vilão consegue se salvar, mas o mocinho é dado como morto.

Mar do Sertão

Mas foi justamente na reviravolta do enredo que Mário Teixeira tropeçou feio. Logo após o acidente, houve uma passagem de tempo de sete dias e com o carro sendo retirado das águas. Ou seja, todas as cenas envolvendo a reação dos personagens com a ‘morte’ do mocinho foram simplesmente ignoradas. Nem a volta de Tertulinho foi exibida e era certo que o vilão inventaria alguma mentira aumentada 20 vezes, como já fez várias vezes desde o início da trama.

Todo o impacto da situação acabou fissurado, o que provocou uma inevitável frustração no telespectador. Por sinal, o momento mais importante seria o choque de Candoca com a notícia. Era a grande chance de Isadora Cruz, que tem se mostrado uma grata surpresa, brilhar. E nem sequer a expectativa em torno da busca do corpo de Zé Paulino foi exibida. O autor privou a sua história de instantes tensos e importantes. Não eram sequências irrelevantes ou descartáveis.

Tem chão

Isadora Cruz e Cyria Coentro - Mar do Sertão

Não deu para entender o motivo para a pressa, após uma primeira semana tão calma. Houve uma guinada que prejudicou a narrativa. Daria para compreender as razões caso o folhetim fosse curto. Mas não é. Está previsto para acabar apenas em março de 2023. Há muito chão pela frente e ter retirado cenas tão impactantes, e que proporcionariam para o elenco ótimas atuações, foi um erro amador. E outra correria desnecessária é o envolvimento de Candoca com Tertulinho.

O ‘defunto’ – que ninguém sabe como conseguiu escapar porque a cena não foi exibida – nem esfriou ainda. Aliás, a sequência do velório, onde a emoção predominou, só confirmou o quanto as reações ao acidente trágico fizeram falta. Também foi dada uma pista sobre a verdadeira identidade do pai de Zé Paulino: Tertúlio. O coronel tentou disfarçar sua dor, mas o clichê que transforma o mocinho e o vilão em irmãos é quase certo.

Ou seja, é um folhetim clássico e com todas as fórmulas de uma deliciosa história. Ainda é cedo para maiores análises, mas o início tem se mostrado promissor. Uma pena que a grande virada do roteiro tenha impedido o público de acompanhar momentos que eram vitais. O primeiro equívoco da trama até então.

Agora, Mar do Sertão tem uma passagem de tempo de dez anos e o protagonista volta mais vivo do que nunca a Canta Pedra. Resta torcer para que o retorno de Zé Paulino seja bem construído e que nenhuma reação importante seja ignorada. Mário Teixeira tem uma boa história em suas mãos. Só não pode desperdiçá-la.

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