André Santana

Um dos maiores autores de novelas de todos os tempos, Gilberto Braga faleceu em 2021 tendo na boca um gosto amargo de derrota. Apesar de ter assinado alguns dos maiores sucessos da TV brasileira, como Vale Tudo (1988) e Celebridade (2003), Braga se foi sem superar os baixos índices de audiência de Babilônia (2015), até então o maior fiasco da história da faixa das oito/nove da Globo.

Jade Picon - Chiara - Travessia
Reprodução / Globo

No entanto, o recorde negativo não ficou na conta do veterano por muito tempo. Afinal, a emissora vive hoje mergulhada numa crise em seu horário nobre, com diversos fiascos seguidos. Com o fraco desempenho de Um Lugar ao Sol (2021) e Travessia, o canal deve estar sentindo saudades de Babilônia…

Trama problemática

Babilônia - Adriana Esteves, Camila Pitanga e Gloria Pires
Divulgação / Globo

Escrita por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, Babilônia contava a história de três mulheres, cujas trajetórias se entrelaçavam a partir de um crime. Beatriz (Gloria Pires) e Inês (Adriana Esteves) são velhas rivais que têm um reencontro explosivo. Uma série de fatos faz com que Beatriz mate um homem e tente culpar a inimiga que, por sua vez, passa a chantageá-la.

O sujeito em questão é pai de Regina (Camila Pitanga), uma jovem pobre e batalhadora, que promete a si mesma fazer justiça. Ao tentar descobrir quem é a verdadeira assassina, Regina se vê em meio ao fogo cruzado das duas malvadas.

Cercada de expectativas, já que prometia um embate de duas grandes vilãs, Babilônia acabou decepcionando. Após um excelente primeiro capítulo, o folhetim não conseguiu segurar a alta voltagem da rivalidade de suas protagonistas e se perdeu.

Além disso, Babilônia passou a sofrer com a rejeição a algumas tramas, como o relacionamento maduro entre Tereza (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg). As personagens trocavam um beijo carinhoso já no capítulo de estreia, o que escandalizou parte do público. Tudo isso contribuiu para o baixo desempenho da novela, que passou por intervenções da alta cúpula do canal, mas não conseguiu reverter o desastre.

Triste fracasso

Gilberto Braga e João Ximenes Braga
Divulgação / Globo

Gilberto Braga nunca se conformou com o fiasco de Babilônia. A trama chegou a registrar menos audiência que I Love Paraisópolis (2015), novela das sete da época. Com isso, Braga chegou a declarar que desejava, como presente de aniversário, “ganhar de I Love Paraisópolis”.

O autor tentou, de todas as maneiras, emplacar um novo trabalho na Globo. Entre seus projetos estava Intolerância, trama para a faixa das onze que seria uma nova versão de Brilhante (1981); e Feira das Vaidades, uma novela para o horário das seis. Mas nenhum deles foi adiante.

João Ximenes Braga, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, revelou que Giba não queria encerrar sua carreira tendo como último trabalho um fracasso.

Por isso que, mesmo doente, ele seguiu batalhando. Mas seus últimos projetos foram cancelados pela direção da Globo e o autor não conseguiu realizar o sucesso que almejava no fim de sua vida.

Recorde superado

Lucy Alves - Travessia
Reprodução / Globo

Mas, se o autor Gilberto Braga faleceu frustrado por ser o responsável pela novela das nove menos vista da história, ao menos esse título não é mais dele. Babilônia encerrou sua trajetória com 25,8 pontos de média no Ibope, um recorde negativo que já foi batido.

Um Lugar ao Sol, de Lícia Manzo, “tirou” de Braga este título. A saga dos gêmeos Christian e Renato (ambos Cauã Reymond) fechou com a modesta média de 21,4 pontos. Travessia também já está abaixo de Babilônia, com média parcial de 23,2 pontos.

Ou seja, a novela das nove da Globo vive uma crise sem precedentes. A coisa está tão feia que Babilônia já nem parece que foi um fiasco tão grande…

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor