Uma das lendas mais famosas da década de 1970 envolveu a morte do ator Sérgio Cardoso. Um dos grandes nomes do teatro e da televisão brasileira nos anos 1950 e 1960, ele morreu decorrente de um ataque cardíaco no dia 18 de agosto de 1972, no Rio de Janeiro (RJ), aos 47 anos.
A morte do ator comoveu todo o Brasil. Mais de 15 mil pessoas, de acordo com reportagens da época, compareceram ao enterro no cemitério São João Batista.
Pouco tempo depois, surgiu um boato, repercutido em toda a mídia brasileira, de que o ator sofria de catalepsia, uma doença rara que deixa os membros rígidos por horas, como se a pessoa estivesse morta. Por causa da doença, Sérgio Cardoso teria sido enterrado vivo.
A história dizia que a família teria pedido que o corpo fosse desenterrado para uma exumação. Ao abrir o caixão, Sérgio Cardoso estaria virado de bruços, com arranhões no rosto. O fato sempre foi negado pelos familiares do ator.
Durante muitos anos a lenda foi contada, com diferentes versões, causando medo principalmente em familiares de pessoas vítimas de ataques cardíacos.
Em novembro de 1979, o assunto voltou à tona após a entrevista do tabelião Manoel Olegário da Costa ao Fantástico, dizendo ser amigo de Cardoso.
Em um dos encontros, o ator teria demonstrado, com clareza, o pavor de ser enterrado vivo. “Ele disse realmente que tinha medo que isso pudesse acontecer”, comentou.
“Não é verdade”
A atriz Nydia Licia, que foi casada com o Sérgio Cardoso durante 10 anos, falou pela primeira vez sobre o assunto na mesma reportagem do Fantástico. Ela afirmou que o assunto causava muito sofrimento à família e que o ator nunca havia comentado sobre esse pavor.
“Ele nunca teve catalepsia, certeza absoluta. Não somente jamais manifestou algum sintoma de doença nervosa no período que tivemos casado, nem depois. O povo pode comentar, mas não é verdade”, disse.
Licia (na foto acima, com Cardoso) também disse que não conhecia Costa. “Não conheço esse senhor, não sei se Sérgio o procurou ou se foi uma conversa informal, mas o fato de ter dito na conversa que tinha medo de ser enterrado vivo não quer dizer absolutamente nada”, salientou.
Segundo a atriz, o boato surgiu logo após a morte de Sérgio Cardoso. “Uma pessoa que ninguém conhece procurou um jornal de Manaus, dizendo que Sérgio havia sido enterrado vivo e que a família teria pedido exumação do cadáver. Imediatamente a notícia correu o Brasil inteiro”, declarou.
Ela afirmou, categoricamente, que o caixão nunca foi aberto.
“Nunca precisou, de maneira alguma, não tem porque. Sérgio faleceu no dia 18 de agosto de 1972 e ponto final. Ninguém tem dúvida, nem os médicos, nem a família. O resto do público eu espero que não tenha mais”, disparou.
Carreira
Sérgio Cardoso nasceu em Belém (PA) no dia 15 de março de 1925. Formou-se em Direito no Rio de Janeiro e sonhava ser diplomata, mas quando conheceu o Teatro Universitário do Rio de Janeiro decidiu seguir a carreira de ator.
Além de diversos papeis marcantes no teatro, Cardoso fez muito sucesso na novela Antônio Maria, da Rede Tupi, em 1968. Na Globo, protagonizou A Cabana do Pai Tomás, em 1969, Pigmalião 70, em 1970 e A Próxima Atração, em 1971.
Quando morreu, vivia o professor viúvo Luciano em O Primeiro Amor, novela das sete da Rede Globo – faltavam apenas 28 capítulos para o desfecho da trama. Ele teve que ser substituído por Leonardo Villar, que entrou em cena após um texto lido por Paulo José.