CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Os vilões são os responsáveis pela movimentação de todo folhetim. São eles que fazem a história andar. Grande parte da crítica especializada prefere os malvados complexos e com camadas, aqueles que costumam ter um leve traço de humanidade.
Mariana Ximenes (Gilda) e Thiago Lacerda (Gaspar) em Amor Perfeito (Reprodução / Globo)Porém, é mais fácil os personagens maniqueístas deixarem uma marca maior na teledramaturgia. Aquela vilã que transborda maldade e até ri de sua própria crueldade é um perfil que cativa o público. E não há mesmo nada de errado em perfis assim.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Só que até para um papel vil e desprezível é necessário que suas motivações sejam minimamente plausíveis. Por isso é tão complicado comprar as ações de Gilda em Amor Perfeito.
Ódio descomunal
Mariana Ximenes é um dos destaques do elenco da novela das seis de Duca Rachid, Júlio Fisher e Elisio Lopes Jr., o que não é uma surpresa. A atriz se destaca em qualquer produção que conte com seu talento.
No entanto, nunca deu para entender os motivos de sua personagem na história dirigida por André Câmara. O ódio descomunal que Gilda sente por Marê (Camila Queiroz) não tem qualquer embasamento ou construção. E o sentimento tinha que ter sido muito bem delineado porque é ele quem move todas as suas ações na trama desde o primeiro capítulo.
É importante lembrar que Amor Perfeito teve um início tão corrido que o enredo da novela foi contado praticamente em duas semanas e até hoje causa a sensação de falta de fôlego. E em meio a tantas cenas atropeladas no primeiro capítulo, os momentos em que Marê aparecia com a madrasta sempre foram cercados de amor e carinho de sua parte.
Já Gilda agia com falsidade, mas por qual razão? A enteada não a atrapalhava em nada e nunca sequer desconfiou de seu caso com Gaspar (Thiago Lacerda), então noivo da mocinha. Ciúme também não existia, uma vez que a vilã nunca amou, de fato, o cúmplice. Assim que foi desmascarada por Leonel (Paulo Gorgulho), que mostrou as fotos de sua relação extraconjugal, atirou no marido e não pensou duas vezes antes de incriminar a protagonista. Fez de tudo para destruí-la em tempo recorde.
[anuncio_2]
Passagem de tempo
A situação que rodeou o primeiro capítulo e provocou a condenação da mocinha durou pouco porque houve uma passagem de tempo e Marê saiu da cadeia na semana seguinte, se vingando rapidamente e tirando a madrasta do controle do hotel de sua família. A personagem ainda a expulsou da mansão onde viviam. Neste caso específico, a reação da vilã, também na velocidade da luz, foi compreensível.
Pouco tempo depois fez uma armação bastante frágil e conseguiu ter tudo de volta, deixando a rival na miséria. A partir deste ponto que o contexto da novela vai ficando cada vez mais raso. O baque de ter caído mais uma vez pelas mãos de Gilda fez Marê desistir de ter um embate direto.
Leia também: Sem Globo: jogo da Seleção será transmitido apenas na internet
A personagem resolveu seguir sua vida, solidificou sua relação com Orlando (Diogo Almeida), se apegou ao Marcelino (Levi Asaf) e procurou um emprego. Conseguiu trabalhar como vendedora na loja da modista. Mas Gilda logo descobriu e armou para a contratação não acontecer.
Semanas depois, Marê arrumou um outro local para trabalhar e acabou sendo assediada pelo chefe. Ela logo ia pedir demissão diante do que estava sofrendo, mas antes disso a malvada logo tratou de subornar o sujeito para demitir a grande inimiga.
Pra quê?
A pergunta é: pra quê? O questionamento também é pertinente em cima de seu plano para destruir a distribuição de pães no Festival de Santo Antônio, algo que nem tinha a ver com sua rival. A única justificativa é o fato de ser uma vilã, então já basta.
O ódio de Gilda vem em uma crescente mesmo diante de uma quase ausência de contra-ataques. Para piorar, a personagem subitamente se descobriu apaixonada por Orlando, a ponto de protagonizar situações vexatórias de humilhação por migalhas de atenção.
Esse ‘amor’ é fruto da obsessão gratuita que ela sente por Marê, mas o roteiro quer forçar que há mesmo um sentimento genuíno a ponto de querer adotar uma criança, no caso Marcelino, para atrair o mocinho. E o plano funcionou graças a Marê, que mandou o rapaz se casar com ela para impedir que a víbora maltrate o menino, além de ajudá-la em arrumar provas contra a empresária.
Mas qual o sentido a personagem botar dentro de casa um sujeito que deixou claro que a despreza, colocando em risco a descoberta do crime que ela cometeu no passado?
Merecia mais
É importante ressaltar que Gilda sempre foi bem inteligente, apesar da cegueira causada pela raiva contra a mocinha. Só que agora a personagem virou uma tapada, a ponto de não ter pensado que com o casório o marido teria direito ao controle do seu dinheiro, mesmo se casando com separação de bens.
Amor Perfeito não é uma novela ruim e tem uma boa audiência. Mas o conjunto deixa muito a desejar em vários aspectos.
E é uma pena que a grande vilã da história tenha como objetivo odiar a mocinha sem maiores motivações e agora se humilhar atrás de homem.
Mariana Ximenes é uma grande atriz e merecia mais.