No início da década de 1980, em uma época em que a ditadura estava no fim, mas a liberdade de expressão ainda engatinhava, a TV Cultura exibia um programa que revolucionou a televisão: Fábrica do Som trouxe um modo inovador, falando abertamente, e sem meias palavras, ao público jovem que não tinha muito espaço na televisão.
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Apresentado por Tadeu Jungle, o programa exibiu bandas e artistas em início de carreira: Titãs, Ira, Barão Vermelho, Itamar Assumpção, entre outros, passaram pelo palco do Sesc Pompeia, onde a atração era gravada.
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O programa se tornou referência e acabou criando um estilo que muitos seguiram, abrindo espaço para os jovens, seja na música ou na opinião.
Para contar um pouco dessa história, entrevistamos o apresentador do programa e também diretor, Tadeu Jungle.
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TV Historia – Como surgiu a ideia do Fábrica do Som?
Tadeu Jungle – Não criei esse programa, fui convidado a participar como apresentador, o que eu não era. Era um garoto que queria ser diretor de TV, de cinema, e aceitei porque estava duro e um professor da ECA me convidou para apresentar. Mesmo constrangido, fui e apanhei muito nos primeiros programas. Os mentores do projeto foram Pedro Vieira e Luis Antonio Simões de Carvalho.
Os jovens brasileiros eram o público alvo do Fábrica e, em uma edição, você disse que eles eram omissos. Após três décadas, sua opinião mudou?
Naquela época, no fim da ditadura e pouco antes das Diretas Já, eu achava a juventude omissa, quieta e acomodada. Hoje, nós temos uma juventude muito ativa, com vários grupos ativistas, com alunos protestando nas escolas e nas ruas. Os jovens de hoje são mais ativos politicamente do que na década de 1980.
Teve alguma edição do Fábrica que te marcou?
O programa que fizemos em homenagem a Augusto de Campos. Nessa edição participaram Caetano Veloso, Regina Casé, Haroldo de Campos, entre outros. Foi uma honra imensa fazer um programa dedicado ao Augusto e com essas figuras ilustres.
Houve alguma restrição da direção da TV Cultura pelo formato e a liberdade que o Fábrica tinha?
No começo não, era tudo feito com bom senso, mas o Fábrica tinha o espírito de liberdade, o programa era libertador. No dia em que a liberdade acabou, o programa também acabou. O presidente da Fundação Padre Anchieta, Renato Ferrari, um sujeito de extrema direita, não gostava daquela liberdade toda e foi cavando para que o programa saísse do ar.
Ele pediu para que Danilo Miranda, hoje presidente do Sesc, tirasse o Fábrica do ar. Para não assumir a culpa, ele jogou na mão do Danilo, que acabou defendendo o programa que ganhou uma sobrevida de mais 5 meses, mas ele foi totalmente censurado e retirado do ar, mesmo sendo líder de audiência.
O programa saiu do ar por estar à frente do seu tempo?
Estava à frente do seu tempo na medida em que ele abriu espaço para as pessoas se manifestarem, abriu espaço para um novo tipo de televisão que nunca tinha sido feito. E, até hoje, não temos um programa tão livre e libertário como o Fábrica do Som. Não era apenas música: era atitude, liberdade de expressão e o povo na tela.
Qual foi o legado que o Fábrica deixou na historia da TV?
O programa foi um dos mais importantes da historia da televisão brasileira, abrindo espaço para grandes nomes da música e dando espaço para que outros programas trilhassem o caminho que o Fábrica abriu. É um programa que deve ser resgatado para mostrar todos os artistas que foram revelados e a atitude de colocar o público na tela, que não tinha espaço na televisão naquela época.
Quais são seus próximos projetos?
Estou produzindo filmes sobre realidade virtual. Produzi Rio de Lama, sobre a tragédia de Mariana e vou montar uma exposição pessoal sobre poesia virtual. Para a televisão, produzir um documentário sobe lutas no Brasil e tenho projeto de dois longas: um tratando de meio ambiente e outro sobre educação.
Veja aqui trechos do Fábrica do Som: