Um dos principais humoristas de stand-up comedy do Brasil, Fábio Rabin vive talvez o seu auge nos palcos. Por conta de uma viagem com sua família, fez o texto de Tô Viajando, que neste mês de junho foi apresentado no Teatro das Artes, no Shopping Eldorado, em São Paulo (SP).

Convidado pela assessoria de imprensa do ator, o TV História acompanhou o show no último dia 16 de junho, e viu um teatro lotado, entusiasmado e feliz, e um Fábio Rabin fazendo piadas sobre temas atuais, como política e polêmicas da semana.

O humorista começou o show brincando com a plateia e perguntando se eles eram de fora de São Paulo. Este repórter, de outra cidade que é, levantou. Fábio brincou, fez piada, e mostrou o seu show baseado em eventos reais.

No fim, tirou fotos e presenteou uma mulher que mais se destacou no show: uma senhora, de 50 anos, que dava uma risada exagerada e estranha. “Ela parece uma bruxa rindo, fiquei com medo”, brincou Rabin.

Após atender fãs e amigos, Rabin sentou e teve uma longa conversa com a nossa reportagem. O humorista falou de tudo: stand-up, seu vínculo com o Pânico na Band e da saudade que tem dos tempos de MTV.

“Sinto falta da liberdade que a gente tinha naquela época, acho que nunca mais vamos ter algo parecido na televisão. A gente experimentava, não tinha tanta pressão por audiência como tem, por exemplo, na TV aberta e no Pânico – pra citar outro lugar que trabalhei”, disse o humorista.

Veja a conversa:

TV História – No seu show você aborda temas muito atuais, fiquei impressionado. É algo que você gosta?

Fábio Rabin – Sim, comecei a fazer e foi quase uma surpresa pra mim. Comecei a colocar esses textos de política e vi que a plateia realmente quer ouvir isso, pelo que tá acontecendo no Brasil. A coisa do comediante ter uma característica que vem do bar, eu acho, ele não pode ignorar o que tá acontecendo com plateia. Por exemplo, no meio do show uma menina riu de uma maneira muito engraçada, eu tinha um número para apresentar ali, mas tive que interagir com aquilo, não posso ignorar, se não, não é comédia.

O momento político tá pegando muito e as pessoas querem ouvir sobre isso, elas têm dificuldade de entender o que está rolando, eu também tinha. Comecei a prestar atenção no que tá acontecendo e falei “alguém precisa estudar isso aí” e já ter uma formação de Relações Internacionais (minha faculdade), tá servindo pra alguma coisa, pelo menos pra entender o meio global. Postei esses vídeos no Facebook e tá tendo muito acesso, vi que as

pessoas realmente querem isso e eu meio que sem querer virei um jornal cômico.

Você é um cara que tem acidez em comentar coisas espinhosas, que alguns humoristas não comentam para não provocar polêmica. Você pensa em ter um preparo para falar sobre esses temas?

Eu sei fazer piada de maneira democrática e zoar todo mundo. Não dá para puxar sardinha de partido, sabe? Minha equipe de redes sociais estava preparando um ‘mídia kit’ e no texto iam colocar “humorista mais para a direita…” e eu falei “não, eu sou neutro”. Hoje mesmo no espetáculo eu estava falando mal do Temer, do Aécio, falo mal da Dilma, do Lula… Eu acho que essa coisa neutra te faz sentir bem para zoar.

Ainda tem muita reclamação?

Hoje não. As pessoas já perceberam, “Não, peraê! Esse cara zoa todo mundo”. Eu estava fazendo um show em Londrina e fui elogiar o povo da cidade, quer dizer… Tinha, porque o buzão do PT acabou de chegar aqui. Daí entenderam que eu estava falando mal dos nordestinos e não estava, não tem porque fazer isso… Minha mãe é nordestina, do Recife, é inviável falar isso. Eles entenderam errado, os petistas. Mas até essas pessoas começaram a entender.

Acontecem coisas muito pontuais de pessoas odiosas mesmo, que vão lá, falam e xingam. Cheguei a discutir com um ou dois, geralmente não faço isso. Mas tiveram dois que eu fui lá e falei, espera aí, eles estão com muita raiva, vou falar com eles. Acabou que o cara não tinha entendido (a piada) e aí eu expliquei para ele e você vai desmontando o cara, percebe que ele está com raiva porque alguém mandou ele ter raiva.

Percebi que no final tudo de fato era real, você meio que provou com aquele vídeo. Se ficasse roteirizado, extremamente roteirizado, seria melhor?

É, cara, tudo ali é verdade, pelo menos a maioria. Esse show a gente realmente viveu e tem essa característica do comediante, a gente acha que nossa vida é azarada. O nome da peça é “Tô viajando”, que fala dos lugares que já fui e o quanto me ferrei. Então não fica parecendo que tô me gabando, não é o Álvaro Garnero – não querendo dizer que ele se gaba, mas tô falando de um cara que viaja e se ferra em todas as viagens e isso realmente acontece. Uma característica do comediante é ser um cara meio que atrapalhado, sem querer, e acho que isso tá na alma do cara.

Vamos falar um pouco de televisão, você está no Pânico, né? Está sem contrato, como é que está sua situação?

No Pânico eu tô sem contrato. Cara, eu tô assim… Tô feliz pela primeira vez (risos) porque não tô contratado e eu não tenho interesse em ser porque estou muito feliz no meu show. Estou viajando pra caramba e acho que o contrato é

uma coisa que me prenderia demais ao Pânico. Eu estaria infeliz de, por exemplo, não poder fazer esse show desta noite, porque surgiu uma matéria. A falta do contrato me permite dizer: “ó, eu tenho um show e eu priorizo meu show”. E eu adoro o Pânico! Quando eu posso, gravo, vou à rádio, divulgo meu espetáculo e quando posso ajudar, ajudo. Quando eles podem me ajudar, ajudam. Acho que essa é a melhor maneira de trabalhar, para mim.

Conversando com as pessoas da nova geração, acho que o ator comediante busca sempre o negócio do eu quero tá numa novela, programa de humor, quero atingir o cinema… Pô, eu vejo o público de hoje aqui, todo mundo se divertiu e preciso curtir o que já faço. O que eu faço é stand-up e preciso celebrar esse momento e priorizar o stand-up. Um compromisso que preciso frisar com todos os contratantes é, cara, eu dificilmente cancelo show por causa de televisão. Isso me faz perder contratos de TV, mas mantenho meu público fiel por causa disso.

Você também trabalhou na MTV, com aquela galera boa do Comédia MTV, Marcelo Adnet, Dani Calabresa, Tatá Werneck… Como era?

Ah, era uma loucura muito boa. O Adnet nos ajudava muito, mas ele fazia o 15 minutos e o Adnet Ao Vivo, os outros programas da casa. No caso do Comédia, o Rafael Queiroga e eu fechávamos ele, mas o Adnet ajudava muito. Era um pessoal muito bom, sinto falta daqueles tempos porque nós tínhamos uma liberdade que, acho eu, não vamos ter em outro lugar ou em outro momento na TV. A gente experimentava, não tinha tanta pressão por audiência como tem, por exemplo, na TV aberta e no Pânico – pra citar outro lugar que trabalhei. Mas sou amigo até hoje do Adnet, de todo mundo ali. Foram bons tempos.


Compartilhar.