Dyego Terra

O SBT nunca soube lidar com o sucesso de seus produtos. Toda vez que uma atração, especialmente novelas, vai bem ou chega ao fim com êxito, a emissora toma uma série de atitudes que vão da exploração ao desgaste.

Pantanal - Murilo Cezar e Thaís Melchior

É como se o canal quisesse sugar até a última gota de seus programas bem-sucedidos. A situação se repete no departamento de Dramaturgia desde 2012, quando a estação de Silvio Santos descobriu o filão infanto-juvenil.

Novelas sem fim

Chiquititas - Giovanna Gold e Giovanna Grigio

Os folhetins “para toda a família”, como o SBT gosta de frisar, rendem audiência e repercussão. Carrossel (2012) fez com a emissora conquistasse índices que não via há tempos. Foi saturada, porém, de forma incompreensível…

Quando uma produção funciona, o canal dá um jeito de reapresenta-la diversas vezes, em um curto espaço de tempo, até que o público se canse. O esticamento também joga contra. Em uma década, o departamento entregou apenas seis tramas.

Muitas vezes, a produção não precisava chegar ao fim para esgotar. A duração de Chiquititas (2012), por exemplo, foi absurda – na exibição original e nas reprises. A situação se repetiu com As Aventuras de Poliana (2018).

Audiência em declínio

As Aventuras de Poliana

Com o elevado número de capítulos, a audiência vai embora. A direção do SBT parece não se importar com isso. Eles determinam a longa duração e, como se isso fosse pouco, desandam a esticar. O prolongamento inclui ajustes de edição; com capítulos divididos e clipes musicais, as produções ficam extremamente barrigudas.

As Aventuras de Poliana talvez seja o melhor exemplo. A estreia empolgou o público, mas a manutenção da trama por dois anos, espantou os bons números. A saga da menina que praticava o Jogo do Contente (Sophia Valverde) marcou 14 pontos de média nos três primeiros capítulos. A primeira semana completa, de 21 a 25 de maio de 2018, fechou com incríveis 14,6 pontos – com impressionantes 16 de média no dia 22 de maio.

Um ano depois, o enredo girava em torno de 12 pontos semanais, já indicando a queda. Os 200 capítulos demonstraram força, mas o esticamento levou ao cenário desolador de 2020. Na 106ª semana, dois anos após o lançamento, a produção anotou apenas 8,4 de média. A queda de 3,6 pontos em relação ao ano anterior fica ainda pior quando comparada ao início promissor; foram mais de 6 pontos perdidos com a exaustiva duração.

A última semana do drama infanto-juvenil registrou 7,6, muito distante dos 14,6 iniciais. Ou seja: uma queda de 50% nos índices.

A pior fase do atual ciclo de dramaturgia

Poliana Moça

Apesar dos pesares, As Aventuras de Poliana ganhou continuação. Poliana Moça começou mal e, entre 3 e 7 de outubro, atingiu a pior média semanal do filão infanto-juvenil, com apenas 5,6 pontos. A média parcial, até a 30ª semana, é de apenas 6,6 de média, distantes do 11,1 de média geral de sua antecessora, uma queda de 4,5 pontos.

O término está previsto apenas para abril de 2023, o que deve implicar em nova fuga de público. Considerando as duas temporadas das novelas, 564 capítulos da primeira e os 300 previstos para a segunda, a saga de Poliana chegará ao fim com 864 capítulos, enquanto a história pedia menos de 200.

Também é bom lembrar que o departamento de Dramaturgia não buscou outro estilo nos anos anteriores, o que também implica na sensação de mais do mesmo. E que tramas anteriores já haviam apontado para a queda de audiência, o que significa que, mesmo sabendo do erro, o SBT insiste nele…

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Dyego Terra

Dyego Terra é jornalista e professor de espanhol. É apaixonado por TV desde que se entende por gente e até hoje consome várias horas dos mais variados conteúdos da telinha. Já escreveu para diversos sites especializados em televisão. Desde 2005 acompanha os números de audiência e os analisa. É noveleiro, não perde um drama latino, principalmente mexicano, e está sempre ligado na TV latinoamericana e em suas novidades. Análises e críticas são seus pontos fortes. Leia todos os textos do autor