Eternizada como Odete Roitman, Beatriz Segall era uma atriz fantástica

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Morreu nesta quarta-feira (05/06), aos 92 anos, Beatriz de Toledo Segall, uma das maiores atrizes do país. Intérprete da icônica Odete Roitman, vilã que entrou para a história da teledramaturgia, a profissional admirada por todos os colegas faleceu no hospital Albert Einsten, em São Paulo, onde estava internada por problemas respiratórios. Os últimos anos não foram fáceis, pois a atriz sofreu duas quedas: em 2013, tropeçou em pedras portuguesas e sofreu graves escoriações no Rio de Janeiro, e em 2015 se machucou com gravidade ao cair no palco durante a apresentação da peça Nine – Um Musical Feliniano.

Foram mais de 70 anos dedicados aos palcos e à TV. Em 1950, estreou profissionalmente na peça Manequim e, posteriormente, integrou a companhia Os Artistas Unidos. Em Paris, prosseguiu os seus estudos e conheceu Maurício Segall, filho do pintor judeu lituano Lasar Segall, com quem se casou em 1954 e teve três filhos, adotando o sobrenome que a marcou como atriz. Na época, por sinal, abandonou a carreira para cuidar da família e só retomou em 1964, na peça Andorra.

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Seu currículo teatral, inclusive, era vasto: Marta Saré (1968), Hamlet (1969), A Longa Noite de Cristal (1970), Casamento de Fígaro (1972), Maflor (1977), A Guerra Santa (1993) Três Mulheres Altas (1995), Estórias Roubadas (2000), Quarta-feira sem falta lá em casa (2003) e Conversando com a Mamãe (2011) foram alguns espetáculos que contaram com seu talento.

Já no cinema, esteve em dez filmes: A Beleza do Diabo (1951), Cléo e Daniel (1970), À Flor da Pele (1976), O Cortiço (1978), Diários da Província (1978), Os Amantes da Chuva (1979), Pixote, a lei do mais fraco (1981), Romance (1988), Desmundo (2003) e Família Vende Tudo (2011).

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Entre 1956 e 1970, Beatriz esteve em poucas produções televisivas. Pollyana, na TV Tupi, em 1956, Angústia de Amar, em 1966, Ana, em 1968, e A Gordinha, em 1970, foram as novelas que contaram com a presença da intérprete. Já em 1978, a atriz voltou para a televisão definitivamente e viveu Celina, mãe de Cacá (Antônio Fagundes), em Dancing`Days, de Gilberto Braga. Sua estreia na Globo. No ano seguinte, em 1979, foi Norah, mãe de Carina, protagonista vivida por Elizabeth Savalla em Pai Herói. Sua primeira vilã foi a canalha Lourdes Soares Mesquita, em Água Viva, exibida em 1980. A personagem fez sucesso e teve destaque na trama.

A intérprete foi para a Band entre 1981 e 1982, onde atuou nas novelas Os Adolescentes e Ninho da Serpente. Voltou para a Globo em Sol de Verão (1982) e interpretou Laura, mãe de Rachel (Irene Ravache), na história de Manoel Carlos.

Louco Amor (1983), Champagne (1983) e Carmem (1987) foram outros folhetins que contaram com a luxuosa presença de Beatriz. Já em 1988, a carreira de Beatriz foi dividida entre “antes e depois”. Isso porque foi o ano de Vale Tudo, uma das mais aclamadas novelas da teledramaturgia -reprisada pela segunda vez atualmente no Canal Viva. Na trama escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Braseres, Beatriz Segall ganhou de presente Odete Roitman.

A madame arrogante, corrupta e preconceituosa marcou a vida da intérprete e ficou para sempre na memória dos brasileiros. Suas frases recheadas de desprezo sobre o Brasil foram emblemáticas e a morte da personagem também entrou para a história. “Quem matou Odete Roitman?” foi a pergunta que dominou o Brasil na reta final da produção e a própria cena impactou pela ousadia – afinal, a vilã foi morta por engano. Embora tenha reconhecido o peso do papel, a atriz ficou incomodada com as constantes perguntas sobre a perua anos e anos após o término da novela. Tanto que nunca mais quis fazer vilãs para fugir do estigma.

Em 1990, viveu a simpática cientista Miss Penélope Brown em Barriga de Aluguel; defendeu com competência a Stella Mendes Peixoto em De Corpo e Alma (1992); interpretou Paula Candeias de Sá em Sonho Meu (1993) e se destacou com a coadjuvante Clotilde Brandão, a Clô do remake de Anjo Mau (1995).

Em 2001, fez uma pequena participação em O Clone, de Glória Perez, revivendo Penélope e repetindo a parceria ao lado do grande Mário Lago. Esteve na novela Bicho do Mato, na Record, em 2006, e participou da minissérie Lara com Z, de volta à Globo, em 2011.

Sua presença foi ficando cada vez mais rara. Seu último folhetim foi a elogiada Lado a Lado, em 2013, onde viveu a elegante Madame Besançon. Uma pequena participação. E o último trabalho da atriz na tevê foi a espevitada Yolanda, em um dos episódios da aclamada série Os Experientes, em 2015. A vovó aparentemente forte e até engraçada se mostrou bastante frágil no final da história e a atriz conseguiu ir da comédia ao drama em menos de 40 minutos de enredo. Pareceu mesmo uma despedida.

Beatriz Segall era uma mulher linda, classuda e refinada. Talvez por isso tenha interpretado tantas senhoras elegantes na ficção, mesmo desejando dar vida a outros tipos de papel. Como já mencionado, ela chegou a viver mulheres pobres. Mas foram bem poucas. Ao menos em seu último trabalho na televisão, o seu desejo pôde ser realizado pela última vez. Yolanda não tinha nada das suas personagens mais marcantes. A atriz faleceu por volta do meio-dia e o mundo das artes cênicas está mais cinza. Uma perda irreparável. Que siga em paz!


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