Os dois maiores sucessos da Globo em 2016, em audiência e repercussão, foram “Êta Mundo Bom!” e “Totalmente Demais”. A novela das seis e a trama das sete se mostraram verdadeiros fenômenos de popularidade e, na época, a emissora não obtinha tanto retorno nos respectivos horários há um bom tempo. Conquistaram realmente o telespectador. As duas serem reprisadas atualmente, em meio ao caos provocado pela pandemia do novo coronavírus (que resultou na interrupção das gravações de todas as produções inéditas) não é uma mera coincidência. Eram apostas certeiras da Globo para manter os bons índices. E os folhetins novamente fazem jus ao resultado obtido perante o público.

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É sempre importante ressaltar que audiência e qualidade nem sempre andam juntas. Uma trama fracassada pode ser primorosa, ao mesmo tempo que um folhetim péssimo pode ser um sucesso. Entretanto, o caso das duas produções citadas reflete um conjunto de acertos, implicando ainda em ótimos resultados nos números do Ibope. São duas novelas escapistas, que priorizam situações tipicamente folhetinescas e muitas vezes tendo a leveza como ponto principal. Também se caracterizam pela despretensiosidade, onde não há a preocupação de inovar nada. São novelas que honram a condição de novelas. Não por acaso são as reexibições de maior sucesso atualmente, ainda que “Fina Estampa” também tenha êxito nos números, mas falhe na repercussão nas redes sociais.

Após 11 anos afastado do horário das seis, Walcyr Carrasco voltou em 2016 para a faixa que o consagrou na Globo com os fenômenos “O Cravo e a Rosa”, “Chocolate com Pimenta” e “Alma Gêmea”. Depois de ter emplacado o maior sucesso da emissora em 2015, a novela das 23h “Verdades Secretas”, o autor pediu para retornar às 18h e teve seu pedido atendido. O escritor conseguiu emplacar mais um estrondoso sucesso para chamar de seu.

O folhetim alcançou impressionantes números e quebrou seu próprio recorde ao chegar aos 32,4 pontos no capítulo em que Candinho finalmente descobriu quem era a sua mãe. Índices não alcançados desde 2010 e até hoje não superados.

“Êta Mundo Bom!”, dirigida com competência pelo saudoso Jorge Fernando (parceiro de longa data do escritor), foi um dos maiores acertos da faixa nos últimos anos. Levando ainda em consideração que entrou no lugar de duas novelas primorosas e que também conquistaram o telespectador anteriormente: “Sete Vidas” e “Além do Tempo”, de Lícia Manzo e Elizabeth Jhin, respectivamente —- outras produções que também já estão na lista de grandes acertos da faixa. Walcyr voltou a apresentar para o público tudo aquilo que ele estava sentindo falta desde que o autor saiu do horário das seis: queda no chiqueiro, guerra de comida, núcleo caipira, bordões, muito humor e um enredo central clássico, com bonzinhos e malvados bem explícitos.

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A fórmula mais uma vez funcionou e a novela foi uma delícia de ser acompanhada. A saga de Candinho envolveu e Sérgio Guizé esteve impecável interpretando o protagonista caipira. O personagem ficou ainda mais atrativo quando encontrou a mãe e o ator protagonizou ótimas cenas ao lado de Eliane Giardini (Anastácia), JP Rufino (Pirulito), Marco Nanini (Pancrácio) e Flávia Alessandra (Sandra). A trajetória da íntegra Maria (Bianca Bin) se mostrou outro grande trunfo da história e o casal formado com Celso (Rainer Cadete) — um vilão que mudou pelo amor — funcionou. Já o núcleo da fazenda de Cunegundes (Elizabeth Savalla) era o melhor da novela, enquanto a pensão de Camélia (Ana Lucia Torre) serviu como um bom ponto de transição de personagens, destacando ainda o puro romance de Osório (Arthur Aguiar) e Gerusa (Giovanna Grigio). E o autor conseguiu manter o ritmo, prendendo o público.

Enquanto a novela das seis primou pela leveza, a das sete teve uma boa mescla de diversão e elementos de tensão e drama. A trama de Rosane Svartman e Paulo Halm estreou em novembro de 2015 e chegou ao fim em maio de 2016. Desde o início apresentou ótimos índices de audiência e a produção veio em uma crescente, até chegar ao ponto de obter médias acima dos 30 pontos, virando o maior fenômeno da faixa após o imenso sucesso de “Cheias de Charme”, em 2012. E em virtude do grande êxito, a Globo pediu para os autores esticarem a trama em duas semanas. Ao invés de acabar no dia 13 de maio, como o previsto, se encerrou no dia 30. E se dependesse da emissora só acabaria em junho, mas os escritores alegaram não ter mais enredo para contar caso fosse estendida ainda mais. E a razão desse fenômeno pode ser explicada facilmente através dos capítulos exibidos.

Rosane e Paulo emplacaram o terceiro sucesso seguido —- antes eles já tinham conquistado o público com duas elogiadas temporadas de “Malhação”: a “Intensa”, de 2012, e a “Sonhos”, de 2014 (ambas conduzidas pela mesma equipe da atual novela, incluindo o diretor Luiz Henrique Rios) —- e o enredo reuniu todos os clichês folhetinescos possíveis, além de contar com um toque de conto de fadas que fez toda a diferença. Uma observação necessária: a dupla nem imaginava que em 2019 conseguiria mais um fenômeno de audiência e repercussão com “Bom Sucesso”.

“Totalmente Demais” é uma novela despretensiosa e os escritores souberam conduzir a história com competência, não perdendo o ritmo em nenhum momento, graças ao esquema de rodízio que fizeram, onde um núcleo se destacou por vez, enquanto os outros assumiram posições de ‘espera’ até um aumento de espaço. Quase todos os atores foram valorizados e o enredo não se esgotou —- por exemplo, a alternância de vilões, com a saída de Dino (Paulo Rocha) e a entrada Sofia (Priscila Steinman) e Jacaré (Sérgio Malheiros). Vale citar ainda o acerto dos pares românticos, fundamentais em qualquer bom folhetim. Entre os principais estão Jonatas (Felipe Simas) e Eliza (Marina Ruy Barbosa), Germano (Humberto Martins) e Lili (Vivianne Pasmanter), Carolina (Juliana Paes) e Arthur (Fábio Assunção) e posteriormente Cassandra (Juliana Paiva) e Fabinho (Daniel Blanco).

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“Êta Mundo Bom!” e “Totalmente Demais” foram novelas que uniram qualidade, envolvente história, bom elenco, interessantes personagens, atrativos casais e impressionante audiência. As duas produções mereceram o imenso sucesso que fizeram e não surpreende em nada a repetição dos ótimos números nas atuais reprises. A média do “Vale a Pena Ver de Novo” está ainda maior que a de “Avenida Brasil”, reexibição anterior que fez grande sucesso. A trama de Candinho marca cerca de 20 pontos e vence quase diariamente as reprises de “Malhação – Viva a Diferença” e “Novo Mundo”, outras produções primorosas que emplacaram nas primeiras exibições. Já a saga de Eliza ultrapassa os 30 pontos com certa frequência. Walcyr Carrasco, Rosane Svartman e Paulo Halm presentearam o público com dois folhetins que reúnem um grande conjunto de acertos e agora estão sendo recompensados pela segunda vez em menos de cinco anos.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor