Entre os dias 10 e 20 de setembro de 1991, portanto há 31 anos, a Globo exibiu uma minissérie que acabou sendo esquecida pela própria emissora. O Portador tratou da problemática da Aids em uma época onde ainda reinava o preconceito.
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A emissora, no entanto, penou para encontrar astros dispostos a participar da produção, assinada por Herval Rossano, que também cuidou da direção geral, José Antônio de Souza e Aziz Bajur.
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Léo, o protagonista, acabou sendo vivido por Jayme Periard, que já havia tido papéis de destaque na emissora, como nas novelas A Gata Comeu, Brega & Chique e Mandala, mas não figurava entre as principais estrelas da casa.
O próprio ator, em entrevista ao site NaTelinha em dezembro de 2021, relatou as dificuldades enfrentadas pela produção.
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“Foi uma minissérie muito difícil, que sofreu resistência dentro da própria Globo e acabou engavetada por um bom tempo”, enfatizou.
Dificuldades para montar o elenco
Periard foi convidado pelo próprio Rossano (foto acima) e aceitou na hora, mas quase perdeu o papel.
“Logo depois do convite, a Globo disse que queria outro ator, que estivesse mais em evidência e fosse mais experiente. O Herval me avisou e aceitei, obviamente, não tinha o que contestar, mas disse a ele que aquele personagem seria meu. Pouco depois, ele me ligou novamente informando que alguns atores haviam recusado, com medo do estigma, e o Léo retornou para mim”, relembrou.
Em entrevistas na época, o ator falou sobre o preconceito das pessoas, que ele sentiu na pele antes mesmo da estreia da produção, como relatou ao Jornal do Brasil de 8 de setembro de 1991.
“Provavelmente isso vai ocorrer porque as pessoas costumam confundir ator com personagem. Logo que as chamadas da série foram jogadas no ar entrei num elevador e dois garotos falaram em tom de gozação: “esse cara aí é o portador da Aids”. Mas não me preocupo. O importante é fazer o meu trabalho com dignidade”, garantiu.
Indefinições
Além da dificuldade para escalação do elenco, que não contou com muitas estrelas, a trama ficou quase um ano na gaveta da Globo e houve uma indefinição no número de capítulos da minissérie. Inicialmente, falou-se em 25, como publicado pela Folha de S.Paulo em 2 de setembro de 1990; depois, o canal queria apenas quatro; no final das contas, esse número foi fixado em oito.
No final das contas, especialistas no tema acabaram aprovando a atração, como o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho (foto acima), e o médico Mário Barreto Correa.
“Pelo que vi no primeiro capítulo, a minissérie deve cumprir o seu objetivo de fazer com que as pessoas sintam e entendam o problema da Aids”, declarou Betinho, contaminado ao receber uma transfusão de sangue, como o protagonista de O Portador.
“Pornochanchada”
Mas nem todo mundo gostou. O crítico Eugênio Bucci malhou a minissérie na edição de 15 de setembro de 1991, comparando-a com uma pornochanchada.
“Quando todos deram por enterrada aquela carnavalesca sacanagem pátria, eis que ela ressurge. Está mal disfarçada de tragédia. Afinal, não é nenhuma comédia a situação de Léo. É tragédia pura, um tema tão pavoroso que a TV vinha evitando”, disparou.
“Pastiche do pastiche, O Portador despenca na vala comum da pior televisão que se faz neste país: aquela que recondiciona a realidade num mélange burlesco, diante do qual só cabe o riso aparvalhado”, concluiu.
No final da história, foi passada uma mensagem de esperança. Embora portador do vírus, o protagonista não aparentava os sintomas.
“Lamento que, na época e até hoje, O Portador tenha sido renegada pela Globo”, declarou Periard, que, nos últimos anos, tem feitos trabalhos na Record.
Quem sabe um dia, o público possa acompanhar a sua trajetória no Globoplay.