Jorge Amado, um dos maiores escritores do Brasil, escreveu ao todo 49 livros. Hoje vamos falar sobre duas memoráveis obras deste grande autor, que foi o mais adaptado do cinema, do teatro e da televisão: Gabriela e Tieta.

Ambas as histórias ganharam versões para a TV e para o cinema, sempre com muito sucesso. Mas uma dessas produções causou ciúme e provocações entre duas das maiores atrizes da dramaturgia brasileira.

Gabriela (1975) foi um marco da teledramaturgia e uma referência na carreira de Sônia Braga, que protagonizou a trama e se tornou um símbolo sexual, mesmo em meio à forte censura da Ditadura Militar. Em 1983, o diretor Bruno Barreto fez uma versão para o cinema e a personagem foi novamente foi interpretada por Braga.

Fenômeno de audiência

Em 1989, a Globo levou ao ar outra grande obra de Jorge Amado – Tieta, cuja personagem principal foi vivida por Betty Faria. A novela foi um enorme sucesso e aumentou ainda mais a popularidade da atriz, que já apresentava um ótimo currículo.

Sete anos depois, em 1995, Cacá Diegues resolveu adaptar Tieta para o cinema. Porém, o papel-título não ficou com a veterana, mas sim com Sônia Braga, que também trabalhou como coprodutora do longa. Isso causou um mal-estar entre as duas atrizes nos bastidores.

“Para todo o povo brasileiro, a Tieta sou eu”

Tieta

Durante a entrevista coletiva de lançamento da novela A Idade da Loba, exibida pela Band em 1995, Betty, protagonista da trama, foi questionada pelos jornalistas sobre o filme Tieta.

“Para todo o povo brasileiro, a Tieta sou eu. Onde quer que eu vá, todos me chamam de Tieta. Nada vai mudar isso”, declarou a atriz.

Já Sônia Braga, em uma entrevista ao O Estado de S. Paulo, em março do mesmo ano, não quis colocar mais lenha na fogueira, respeitando sua colega de profissão.

“Eu tenho o maior respeito pela Betty e por ela se sentir a verdadeira Tieta”, declarou Sônia à Contigo.

A ideia de levar Tieta para a telona era antiga e ocorreu muito antes de sua exibição na televisão. Segundo Braga, no início dos anos 1980, havia uma ânsia por comprar os direitos do livro para o cinema, porém Betty confidenciou que a Globo já pensava em produzir a novela, a fim de que as ideias de adaptação da obra para um longa fossem descartadas.

“Eu fiquei assim… Espantada. Aí veio logo na minha cabeça que eu tinha que esperar um pouco, porque o poder da novela é muito grande”, explicou Sônia.

De fato, o folhetim foi ao ar em 1989, tornou-se um verdadeiro fenômeno de audiência e trouxe muito prestígio à carreira de Betty. A Contigo buscou mais uma palavra da atriz sobre o filme com o protagonismo de Braga, mas ela quis botar um ponto final no assunto.

“Minha vida está superespecial, então não tenho o menor interesse em falar mais nisso. O público é quem vai julgar, eu já fiz Tieta e ponto final”, declarou a atriz.

Troca de farpas

Sônia Braga

O assunto sobre o filme parou, mas as trocas de farpas continuaram. Naquela época, Sônia apoiava um grupo chamado Loucos Varridos, que ficava varrendo as ruas da cidade, num tipo de protesto para mostrar a sujeira que as pessoas deixavam nas calçadas, praças e avenidas. A atriz também pegava a vassoura e se juntava ao bando.

Betty usou este fato para cutucar a colega numa outra entrevista à Revista Contigo.

“Não preciso subir em árvore ou varrer ruas para aparecer nos jornais. Ganho destaque por causa do meu trabalho”, alfinetou Faria.

“Claro que eu faço para aparecer. Para mostrar que há lugares no Rio que estão sujos. Eu sou preguiçosa. Preferia estar deitada o dia todo”, respondeu Sônia, que também sugeriu uma trégua: “Não é legal fazer as pazes em Ramos [bairro carioca]? Vou ligar para Betty e fazer o convite”.

E a rixa continuou

Betty Faria

Anos depois, em 2016, o assunto sobre Tieta voltou ao noticiário quando Faria foi entrevistada por Bruno Astuto, em 13 de novembro. Ao ser questionada sobre uma suposta rixa entre ela e Braga, a resposta foi direta:

“Tivemos contato há muitos anos, mas não somos amigas. Pelo contrário: ela não pediu licença para ser Tieta no cinema, e isso foi péssimo. Eu fazia turnê na época e, a cada cidade que chegava, as pessoas comentavam que odiavam, ficaram indignadas”, contou.

Segundo a jornalista Fabíola Reipert, Sônia Braga não gostou nem um pouco da declaração de Betty e disse que “achou inútil e desnecessário” seu comentário.

Nessa história toda, a verdade é uma só: as duas atrizes trouxeram mais qualidade à dramaturgia brasileira, tanto na TV como no cinema, e mostraram que o talento das atrizes brasileiras não tem fronteiras, ainda que haja atritos.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor