Estrelada pela futura Juma, Malhação terminou de forma lamentável

Malhação Toda Forma de Amar

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Emanuel Jacobina foi um dos criadores de Malhação em 1995. Portanto, pela lógica, o autor deveria ser um dos maiores entendedores do longevo seriado adolescente da Globo. Porém, lamentavelmente, não é uma verdade.

A última temporada merecedora de elogios do escritor foi a de 2010, que inaugurou a era de subtítulos. Embora não tenha aparecido no crédito, a fase era chamada de Malhação – Cidade Partida, protagonizada por Pedro (Bruno Gissoni) e Catarina (Daniela Carvalho).

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Já as temporadas Seu Lugar no Mundo (2016) e Pro Dia Nascer Feliz (2017) foram péssimas. A chance de voltar aos bons tempos e se redimir era com Malhação – Toda Forma de Amar. Não deu.

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E a novelinha da Globo, que teve seu fim anunciado após a reprise de Malhação – Sonhos, não merecia terminar sua trajetória com uma temporada assim.

Premissa inicial era boa

A temporada, que precisou ser encerrada por conta da pandemia de Covid-19, tinha tudo para ser um sucesso de público e crítica. Jacobina usou a premissa da primorosa Malhação – Viva a Diferença, escrita por Cao Hamburger, para tentar emplacar um êxito semelhante: o vínculo de amizade entre adolescentes surgido diante uma situação de grande adrenalina.

Mas não era um encontro no metrô com uma das meninas entrando em trabalho de parto e, sim, um sequestro (que culminou em assassinato) presenciado por seis jovens em uma van. E todos esses adolescentes carregavam dramas aparentemente bem construídos.

Rita (Alanis Guillen, que atualmente será vista como Juma no remake de Malhação), Guga (Pedro Alves), Anjinha (Caroline Dallarosa), Jaqueline (Gabz), Raíssa (Dora de Assis) e Thiago (Danilo Maia) estabeleceram um elo depois que viram Zé Carlos (Peter Brandão) ser levado diante de seus olhos. E a amizade foi crescendo à medida que as investigações sobre o assassinato do menino avançavam.

Enquanto esse enigma era mantido em sigilo pelo autor, o público era presenteado com ótimos conflitos de cada personagem. O mais atrativo, não por acaso, era o da mocinha da história: Rita. A menina achava que sua filha tinha morrido no parto, mas descobriu que seu falecido pai roubou a neta e colocou a bebê em um abrigo. Ainda ficou em choque quando soube que a garotinha tinha sido adotada por uma família rica de Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro.

Saga de Rita era bem desenvolvida

A saga de Rita se mostrava bem desenvolvida. Para engrandecer mais o enredo da protagonista, Jacobina criou uma irresistível história de amor. A mocinha se viu apaixonada pelo irmão adotivo de sua filha. Filipe (Pedro Novaes), na verdade, se apaixonou bem antes e tomou as dores da amada pela guarda da criança.

A tentativa do mocinho sempre foi estabelecer uma trégua entre a mãe biológica e a mãe adotiva, no caso a sua mãe, Lígia (Paloma Duarte). E todos os desdobramentos eram convidativos, envolvendo o telespectador.

Tanto que o autor fugiu do clichê artificial do amor súbito. A construção do encantamento dos mocinhos foi ótima e o primeiro beijo só aconteceu com mais de um mês de história no ar. Nada melhor para aumentar a torcida e a expectativa do público. A química entre Alanis e Pedro, gratas revelações, se mostrou outro êxito.

A trama envolvendo Raíssa e Thiago também era boa. Irmãos que viviam brigando, mas se amavam de verdade e eram o esteio da mãe, a barraqueira Carla (Mariana Santos ótima). Ela sempre muito retraída e ele um debochado nato. Dora de Assis e Danilo Maia brilharam, assim como Mariana.

Aliás, o triângulo formado por Carla, Madureira (Henri Castelli) e Marco Rodrigo (Júlio Machado) rendia momentos divertidos, embora tenha ficado cansativo ao longo do tempo.

Outros núcleos promissores

O núcleo de Jaqueline, destemida garota renegada pelo pai que conheceu a irmã surda (Milena – Giovanna Rispoli) e se aproximou, foi outro contexto promissor. O envolvimento com Thiago deixou o conjunto ainda melhor, pois juntou os núcleos e evidenciou a química entre Gabz e Danilo. Até o romance clássico de gato e rato protagonizado por Anjinha e Cleber (Gabriel Santana), que acabou andando em círculos por falta de maiores conflitos, originava bons momentos.

Guga era outro perfil muito interessante. Nunca teve coragem de revelar sua homossexualidade para os pais e iniciou uma linda relação com Serginho (João Pedro Oliveira) às escondidas, tendo Rita como cúmplice para fingir um namoro na frente dos demais. Max (Roberto Bomtempo) e Regina (Karine Teles) nunca quiseram enxergar a verdade sobre o filho e a cena da revelação gerou uma aguardada catarse.

Ainda havia o núcleo da escola com mais alunos que aparentavam uma boa construção do autor, como a esnobe Nanda (Gabriela Mustafá), amiga abusiva de Raíssa que só pensava em seu próprio umbigo. Até a vilã Lara (Rosane Mulholhand), advogada inescrupulosa irmã de Lígia, cumpria a função de movimentar bem a trama.

Enfim, tudo parecia perfeito e a temporada teve um início repleto de qualidades. Jacobina realmente prometia reverter a má impressão das suas duas últimas fase recheadas de problemas.

Tudo acabou ruindo

Infelizmente, ao longo dos meses, tudo acabou ruindo. Toda a estrutura narrativa da trama desmoronou como uma castelo de areia afetado por uma ressaca. Jacobina simplesmente resolveu guardar todos os desdobramentos relevantes apenas para o final e inseriu situações que andavam em círculos, o que resultou em uma catástrofe em todos os núcleos.

Também usou um recurso visto em todas as suas temporadas anteriores: a entrada de um vilão misterioso, no caso Rui (Rômulo Arantes), pai da filha de Rita. E com direito a uma comparsa: Leila (Jade Cardoso).

Para culminar, alterou a personalidade de vários personagens para justificar catarses sem qualquer sentido. Vide a estupidez de Filipe com Rita. O mocinho sempre acreditou da mocinha e a defendia da mãe.

Do nada, o rapaz passou a duvidar de tudo o que a garota dizia. Se o autor forçasse o clichê da perda de memória seria um pouco menos ridículo. E qual o nexo da aproximação entre Rita e o ex que tanto abominava?

A personagem chegou a mentir em juízo de tanto horror que sentia do sujeito. Mas a explicação para esse trauma soou patética: era um usuário de drogas e chegou a agredi-la, mas apenas uma vez, ela reforçava como uma espécie de atenuante.

O intuito era apenas separar o casal protagonista para render algum tipo de drama na estagnada história. A canalhice súbita de Joaquim (Joaquim Lopes) foi outro caso estapafúrdio, assim como Anjinha ter traído Cleber sem qualquer motivação. E Carla ter achado que Marco Rodrigo era miliciano? Sem comentários.

Personagens desapareceram

Personagens foram desaparecendo porque o autor não sabia o que fazer com eles. E nada mais simplório do que inventar uma viagem para a solução do problema. Foi o desfecho da vilã Martinha (Beatriz Damini), que chegou a ter uma certa importância no começo. Bill Clinton (Thiago Genini) foi outra vítima.

Mas Jacobina não melhorou os desdobramentos dos perfis de mais destaque em um contraponto. Pelo contrário, seguiu com sua história repetitiva. Meg (Giullia Bertolli) é um bom exemplo. A menina ficou grávida praticamente a temporada inteira. O filho só foi nascer no último mês de enredo. Beto (John Buckley) e Camelo (Ronald Sotto) foram outros que ficaram sem relevância ao longo dos meses em virtude da inconsistência do roteiro.

E nunca foi compreensível a importância dada ao vilão Marquinhos (André Matarazzo), um tipo exagerado que protagonizava praticamente as mesmas cenas no núcleo escolar. Até o texto era quase igual sempre. O namoro entre o garoto e Nanda na penúltima semana, com o intuito de expor um relacionamento abusivo, se mostrou raso e sem a menor necessidade.

Já Tato Gabus Mendes (César), Olívia Araújo (Vânia), Roberto Bomtempo (Max), Paloma Duarte (Lígia) e Karine Teles (Regina) foram os veteranos valorizados nos primeiros meses que lamentavelmente acabaram afetados pela perda de rumo do enredo.

Após boas cenas inicialmente, todos passaram a protagonizar contextos que não eram encaminhados. O conflito entre César e Jaqueline era relevante, mas deixou de fazer sentido quando o personagem virou professor de português da filha. Os desentendimentos entre ele e Vânia cansaram, assim como as inúmeras discussões entre Max e Regina.

Por sinal, a homofobia do pai de Guga durou quase a temporada toda. Outro conflito interessante que se torno maçante. O drama de Lígia pela guarda de Nina era um dos motes do roteiro, entretanto, não há fôlego que aguente tantos meses sem uma solução.

E a temática em torno da surdez de Milena? Giovanna Rispoli interpretou uma surda com maestria, mas a menina foi anulado por completo quando iniciou um namoro com Daniel (Hugo Moura).

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Ficou ainda pior

O seriado ficou ainda pior quando o autor resolveu inserir novos personagens sem qualquer explicação. Simplesmente surgiram novos alunos na escola e todos protagonizando situações bobocas, como valorização da virgindade e abordagem superficial de gordofobia.

Até triângulos amorosos foram formados com esses novos perfis. Andressa (Monique Bourscheid), Diana (Malu Lazari), Fafi (Letícia Cecília) e Fake News (Cristian Guedes) foram algumas das novidades inseridas por Jacobina. Nada acrescentaram, só atrapalharam. Outro agravante: os atores eram muito fracos. Muitas vezes as cenas pareciam jogral de teatro infantil.

Jacobina ainda usou outro recurso já visto em suas outras histórias para movimentar um pouco a reta final: sumiu com Rita. Assim como o desaparecimento de Raquel (Ariela Massoti em Malhação – Cidade Partida) e Ciça (Júlia Konrad em Malhação – Seu Lugar no Mundo), o mistério durou mais de um mês.

E nessa temporada, o enigma só foi relevado no último capítulo. O crime envolvendo a morte de Zé Carlos também só foi descoberto no fim, assim como a questão jurídica envolvendo a guarda da filha da mocinha. Ou seja, o autor deixou tudo para o final e a correria era inevitável.

Seria melhor ter interrompido

Mas a pandemia do coronavírus foi mais cruel com a trama: como a Globo encerrou as atividades dos Estúdios Globo, o encerramento de Toda Forma de Amar foi antecipado. Acabaria no final de maio e a data virou o dia 3 de abril. Resultado?

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Nenhum personagem teve uma conclusão bem realizada com cenas inéditas. Apenas Alanis e Pedro foram chamados para gravarem o final feliz de Rita e Filipe. O desleixo do escritor implicou em uma conclusão apressada, prejudicando elenco e o próprio público. Se tivesse ao menos adiantado alguns desfechos, como vários colegas fazem em novelas, o fim não teria sido tão incompleto.

O último capítulo foi deplorável. Alanis Guillen e Pedro Novaes gravaram na cidade cenográfica completamente vazia e os personagens falaram sobre a pandemia do coronavírus que afetou o final da temporada, como se estivessem justificando aquela situação toda.

Mas eram os personagens ou os atores falando? Ficou difícil compreender. O final foi apenas narrado pelos mocinhos. Uma solução amadora e deprimente.

Por que Rita foi sequestrada? Carla descobriu que Marco Rodrigo era inocente? Quem matou Zé Carlos? Leila foi punida? Como Rui foi preso pela polícia? Qual a lógica de Rui ter sequestrado Rita?

Seria um pouco mais digno interromper as gravações, assim como Salve-se Quem Puder e Amor de Mãe, e exibir os finais de forma minimamente aceitável quando fosse possível. Seria menos vergonhoso.

Frustrante é a melhor adjetivo de Malhação – Toda Forma de Amar. Após um início promissor e uma história aparentemente tão bem apresentada, a temporada (dirigida por Adriano Melo) tomou um rumo irreconhecível.

A sensação era de mudança de autoria. Como se o autor tivesse adoecido e entrado em seu lugar uma pessoa que não conhecia nada do roteiro original. Mas era o mesmo Emanuel Jacobina. O mesmo que decepcionou nas duas temporadas anteriores que escreveu. Nada mudou.

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