A atriz Irene Ravache viveu personagens inesquecíveis, que divertiram e emocionaram o público. O talento dela encantou pessoas no cinema, no teatro e na televisão. Beto Rockfeller (1968), O Machão (1974), A Viagem (1975) e Sol de Verão (1982) foram algumas das novelas em que Irene esteve presente. Em 1988, porém, ela decidiu não mais participar de produções do gênero…

Irene Ravache

Em junho daquele ano, Ravache concluiu os trabalhos de Sassaricando (1987), sucesso do horário das sete no qual viveu Leonora Lammar. Antes mesmo do fim da trama assinada por Silvio de Abreu, a artista abriu o jogo sobre os bastidores, com direito a queixas sobre a Globo.

Falta de estrutura

Sassaricando

Em entrevista ao Jornal do Brasil, de 23 de março de 1988, Irene Ravache desabafou:

“O sistema de produção de novelas briga com meu ritmo de trabalho. Posso até fazer minisséries, seriados. Mas esta, realmente, é minha última novela. Me desagrada o esquema de produção, o tempo que toma, a falta de previsão. A Globo foi crescendo e ficou daquele tamanho. Em vez de aumentarem os estúdios, fazem escritórios. E não se grava em escritórios”.

Na ocasião, a atriz se dividia entre São Paulo, cidade em que ela e seu marido moravam, e Rio de Janeiro, onde ocorriam as gravações de Sassaricando. Irene não escondeu sua insatisfação com o ritmo frenético e as condições precárias de trabalho.

“As condições de trabalho são muito difíceis. Esse negócio de suar a camisa é só para quem tem ações da emissora, e eu não tenho. Quando me pego numa externa, e o único lugar que tenho para fazer xixi é um bar infecto, sei que não estou mais para isso. A Globo pode melhorar as condições de trabalho para quem produz seu produto mais caro. Aí você vai para a externa num ônibus quente, tudo fede, o motorista fede. Não quero mais brincar assim. Eu não. Depois morro, e olha eu morrendo triste”, disparou.

De volta às novelas

Éramos Seis

Ravache, de fato, parou de atuar na televisão e passou a se dedicar ao teatro e ao cinema. Ela só voltou para os folhetins quando foi convidada para viver Dona Lola, a protagonista de Éramos Seis (1994), do SBT.

“Eu me sinto meio com a alma vendida quando faço uma novela. Só que quando visitei o SBT e revi os antigos estúdios da Tupi, me emocionei muito. Estamos todos torcendo para que a novela dê certo”, contou ao jornal O Globo, em 22 de fevereiro de 1994.

A empreitada deu certo! Éramos Seis é um marco na história do canal de Silvio Santos; a estrela ganhou o prêmio de Melhor Atriz nos troféus Imprensa e APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).

A boa filha à casa torna

Guerra dos Sexos

Depois de dois anos no SBT, Irene Ravache retornou para a Globo, depois de 12 anos, atendendo ao chamado para viver Eleonor em Suave Veneno (1999).

“Encontrei mudanças grandes. Há uma possibilidade técnica que não havia na Globo. Agora há microfones em que podemos falar muito baixo, o que permite cenas sussurradas. O cinegrafista hoje não é um mero operador. Sinto, nas pessoas com quem trabalho, um outro nível intelectual, o que me agradou bastante. Não há lugar para amadorismo. As atrizes mais jovens são pontuais, chegam com seus textos decorados, conhecem suas personagens. Rodrigo Santoro é aplicadíssimo, fica o tempo todo desenhando”, relatou a atriz ao jornal O Estado de S. Paulo, em 17 de janeiro de 1999.

Felizmente para os fãs, Irene não abandonou mais as novelas. Pelo contrário! Ela atuou em Belíssima (2005), Eterna Magia (2007), Passione (2010), Guerra dos Sexos (2012), Além do Tempo (2015), Pega Pega (2017) e Espelho da Vida (2018), além de uma participação afetiva no remake de Éramos Seis (2020) – até o momento, seu último trabalho na televisão.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor