Cláudio Marzo foi um grande ator. Ele esteve presente em vários sucessos, como Pantanal (1990), na qual deu vida a dois personagens icônicos: José Leôncio e Velho do Rio – além de Joventino, na primeira fase. Logo início de sua carreira, na década de 1960, ele se tornou um verdadeiro galã da Globo. Em determinado momento, porém, Cláudio surtou e abriu mão da TV e da fama, mesmo que por pouco tempo.

A Lua me Disse

Um Rosto de Mulher (1965), O Sheik de Agadir (1966), A Rainha Louca (1967), Sangue e Areia (1968) e Véu de Noiva (1969) foram algumas das novelas nas quais ele atuou. Em 1970, Marzo viveu o auge do sucesso como Duda Coragem em Irmãos Coragem, um marco da dramaturgia.

Na trama de Janete Clair, Duda é filho de Sinhana (Zilka Salaberry) com Sebastião (Antônio Victor) e irmão de João (Tarcísio Meira) e Jerônimo (Cláudio Cavalcanti). Ao longo da narrativa, ele acaba tornando-se jogador de futebol, um ídolo do Flamengo. O folhetim também acompanhou a paixão dele por Ritinha (Regina Duarte, com quem havia dividido a cena em Véu de Noiva).

Surto

Carinhoso

Todo o êxito, no entanto, não fez à cabeça de Cláudio Marzo. Em 1973, ele protagonizou a novela Carinhoso, ao lado de Regina Duarte – os dois também estiveram juntos em Minha Doce Namorada (1971). Após o fim da produção, ele meio que surtou e tomou uma decisão drástica.

“Em 1973, logo depois de Carinhoso, decidi que não queria mais gastar a minha vida com coisas tão descartáveis como aqueles personagens que estava fazendo”, contou o ator em entrevista à Folha de S. Paulo.

“Deixei a barba crescer, dei meu relógio de pulso para o primeiro garotinho que encontrei na rua e fui viajar. Foi uma espécie de rompimento”, complementou.

Contudo, Cláudio não ficou muito tempo longe das novelas. Ele voltou a atuar em O Espigão (1974), com um tipo diferente dos anteriores, o ecologista Léo.

Abandono de novela

Claudio Marzo

Além de buscar uma mudança de vida, Marzo estava insatisfeito com o regime militar que imperava nos anos 1970 e a censura que os militares impunham aos veículos de comunicação. Seu personagem em Irmãos Coragem foi vítima dos delírios da ditadura:

“Os militares acharam que ‘Irmãos Coragem’ incentivava a insubordinação, pela rebeldia dos protagonistas. Chamaram a Janete Clair em Brasília e ditaram modificações. Quando ela voltou, disse que meu personagem, o Duda, voltaria para a cidade e se tornaria aliado do delegado. Sou porra louca mesmo, preferi sair da novela”.

O ator também esteve na mira da ditadura. Ele chegou a ser preso e só foi liberado depois que seu ex-sogro, o general Marçal de Faria – pai da atriz Betty Faria –, garantiu que se responsabilizaria por ele.

“Disseram que meu nome estava nos arquivos de uma célula comunista desbaratada em Cavalcante, no Rio. Foi uma arbitrariedade kafkiana. Só me dei conta de que não era ficção quando peguei nas grades da cela e vi que não eram de madeira, como nos cenários, mas de ferro”, relatou.

Cláudio Marzo faleceu em 22 de março de 2015, aos 74 anos, por complicações pulmonares. Ele marcou presença em novelas, minisséries, séries e especiais ao longo de sua extensa trajetória.

Entre os muitos trabalhos, destaque para Senhora (1975), Brilhante (1981), Quem Ama Não Mata (1982), Pão-Pão, Beijo-Beijo (1983), Cambalacho (1986), Kananga do Japão (1989), Fera Ferida (1993), A Indomada (1997), Era Uma Vez… (1998), Andando nas Nuvens (1999) e Coração de Estudante (2002).

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor