O Brasil perdeu o talento de Cláudia Jimenez neste sábado (20). A atriz e humorista nos deixou aos 63 anos, após sofrer com problemas cardíacos nos últimos anos. Apesar de curta, uma de suas passagens mais marcantes foi no Sai de Baixo.

Sai de Baixo

Exibido originalmente entre 1996 e 2002, o programa foi um fenômeno nas noites de domingo e trouxe uma grande audiência para a Globo, que amargava a vice-liderança do horário, perdendo para o Topa Tudo por Dinheiro, comandado por Silvio Santos, no SBT.

A frustração do dono do Baú era dupla, pois perdia no Ibope para um projeto que ele mesmo recusou: Sai de Baixo foi oferecido ao Sistema Brasileiro de Televisão por seus idealizadores, antes de ser produzido pela Rede Globo.

Sai de Baixo

O elenco escolhido era incrível: Luis Gustavo, Aracy Balabanian, Miguel Falabella, Claudia Jimenez, Tom Cavalcanti e Marisa Orth arrancavam gargalhadas dos telespectadores que amavam as confusões da família do largo do Arouche.

Críticas ao roteiro

Sai de Baixo

Porém, nem tudo foi graça naquele apartamento e os comentários negativos eram proporcionais ao sucesso: cada vez que o programa ganhava mais audiência, as fofocas na imprensa aumentavam. As críticas, por sua vez, também, e muitas delas eram voltadas ao roteiro do programa.

No meio de tantos boatos, um fato foi verdadeiro e envolvia Claudia Jimenez, a empregada Edileuza. Em uma entrevista ao Jornal do Brasil, Claudia afirmou que a qualidade do texto estava caindo e reclamou de um episódio em especial: O ET do Arouche, que explorava o caso do ET de Varginha.

“A qualidade está caindo mesmo, e não foi apenas no último programa. Isso já vem acontece há pelo menos um mês”, disse ela na entrevista, que demonstrava ressentimento com o baixo nível dos textos.

A mesma reportagem trouxe a versão de Claudio Paiva, responsável pela redação final do programa, que alegou disputa entre egos: Jimenez culpou o texto por achar que sua personagem não obteve o tamanho sucesso que Magda, de Marisa Orth. O redator, inclusive, refutou essa questão, ressaltando que todos tinham o mesmo espaço dentro da atração.

Atritos

Claudia Jimenez

Toda essa confusão gerou um atrito entre as atrizes, trazendo um mal estar aos bastidores do programa e mais críticas vindas da parte de Claudia, direcionadas à equipe de roteiristas.

No episódio Programa de Índio, a atriz interpretou a índia Urucubaca, que possuía uma cobra de estimação. Jimenez, propositalmente, trocou o nome da cobra “Amarelinha” para “Paivinha”, provocando Claudio Paiva, que estava no auditório acompanhando as gravações.

Uma das reclamações da atriz eram as ofensas: apelidos como “rolha de poço” e “supositório de baleia”, entre outros, faziam parte do roteiro. Nani, um dos roteiristas, afirmava que essas piadas não estavam no script e o responsável era o improviso de Miguel Falabella, embora todos os atores respeitassem o texto.

Apesar de todos os problemas, o programa continuou com grande sucesso até o final de 1996 e já estava garantido na grade de programação de 1997. Entretanto, aquela temporada foi a última com o elenco original.

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Expulsa do Arouche

Sai de Baixo - O Filme

Em janeiro, o diretor Daniel Filho pediu a cabeça de Claudia Jimenez ao vice-presidente de operações, Boni. Claudia havia irritado os diretores, em alguns casos até se recusando a dizer algumas falas do roteiro, além de tecer críticas ao programa abertamente. Por tudo isso, Edileusa foi dispensada do Arouche.

Ao Jornal do Brasil, em 26 de janeiro de 1997, Claudia falou sobre o seu desligamento do seriado.

“Eu acho que o meu grande erro foi tentar modificar as coisas com as quais eu não concordava. Eu realmente fui insubordinada algumas vezes, mas só porque eu queria melhorar as coisas. Eu acho que eles têm todo o direito de me demitir. A sacanagem não foi a demissão, mas a maneira como as coisas foram feitas”, enfatizou.

Ela encarou a saída da atração como uma expulsão e fez uma promessa que acabou cumprindo: nunca mais voltaria ao seriado. Nem mesmo no filme, feito muitos anos depois, ela participou.

“Eu fui comunicada que saí do programa. Era mais fácil se livrar de mim do que reformular o programa”, decretou a atriz. “Mesmo que eles queiram que eu volte, eu não volto jamais. Comigo, o Eduardo Figueiras, produtor do programa, me disse para ficar tranquila porque essa decisão não é definitiva. Mas para mim é. Eu jamais vou pisar de novo neste programa, pra mim acabou”, completou.

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Novas empregadas

Marcia Cabrita

A escolhida para substituir Claudia foi Ilana Kaplan, atriz vinda do teatro, que viveria a empregada Lucinete. Mas ela ficou apenas quatro episódios no apartamento do Arouche: seu humor sofisticado não se encaixou ao estilo do programa.

A seguir, Marcia Cabrita (foto acima), escolha de Miguel Falabella desde a saída de Jimenez, entrou para o programa como Neide Aparecida. Ela herdou o figurino que seria de Lucinete e criou o seu próprio estilo, distante das outras empregadas, sendo um grande sucesso por quatro temporadas.

Após a saída de Marcia, Claudia Rodrigues, atriz já conhecida do público por seus papeis em Caça Talentos e Zorra Total, integrou o elenco interpretando Sirene e ficou até o fim do programa, em 2002.

Independentemente de todos os boatos, brigas e fofocas, o Sai de Baixo tem seu espaço garantido como um dos melhores humorísticos da história da televisão, sendo reapresentado até hoje.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor