Clássico da TV brasileira, a novela Baila Comigo completa, neste dia 16 de março, 41 anos de sua estreia. Um dos melhores elencos já reunidos pela Globo, foram tantas estrelas juntas que o autor Manoel Carlos não conseguiu dar o devido destaque a todas dentro da trama.

Houve quem ficasse descontente com os rumos de seu personagem, e quem pedisse para alterar a ordem de aparição do nome na abertura da novela.

Baila Comigo foi a primeira novela solo do autor no horário nobre da Globo. O autor vinha de dois sucessos às 18 horas, Maria Maria e A Sucessora (exibidos entre 1978 e 1979), e da colaboração a Gilberto Braga em Água Viva (1980). Maneco também fez parte da equipe de roteiristas do seriado Malu Mulher (1979-1980).

A Globo reuniu em Baila Comigo: Tony Ramos, Raul Cortez, Lílian Lemmertz, Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Natália do Valle, Betty Faria, Reginaldo Faria, Christiane Torloni, Lídia Brondi, Tereza Rachel, Carlos Zara, Cláudio Cavalcanti, Susana Vieira, Lauro Corona, Beth Goulart, Otávio Augusto, Milton Gonçalves, Arlete Salles e outros.

Maneco queria Fernanda Montenegro para viver a protagonista Helena, mas a direção da Globo preferiu escalar Lílian Lemmertz. O autor então criou uma personagem especialmente para a sua predileta: Silvia, que na trama era uma famosa atriz de teatro. Contudo, Fernanda precisou sair antes porque foi escalada para a produção seguinte no horário, Brilhante.

De acordo com o roteiro da novela, os protagonistas eram os gêmeos Quinzinho e João Vitor, que não se conheciam, vividos por Tony Ramos.

Logo abaixo, os pais biológicos dos rapazes, Quim, papel de Raul Cortez, que criou João Vitor, e Helena, interpretada por Lílian Lemmertz, que ficou com o outro gêmeo, Quinzinho. O casal se separou assim que as crianças nasceram e cada um foi para um canto. A novela começa com os gêmeos adultos e a possibilidade de eles se encontrarem permeou toda a trama.

Havia os pares românticos dos gêmeos. Natália do Valle era a médica Lúcia, apaixonada por Quinzinho. O interesse amoroso de João Vitor foram algumas mulheres, mas ele termina a trama ao lado de Mira, vivida por Lídia Brondi.

Entre os vilões, Caio (Carlos Zara), desafeto de Quim, e Marta (Tereza Rachel), mulher de Quim. Fernando Torres era Plínio, pai de criação de Quinzinho, outro personagem muito importante.

Estrelas foram coadjuvantes

Betty Faria e Reginaldo Faria, atores do primeiro escalão da Globo – que um ano antes foram protagonistas da novela Água Viva -, se contentaram em ser coadjuvantes em Baila Comigo.

Embora Reginaldo tivesse seu nome creditado por primeiro na abertura da novela, seu personagem Saulo não passava de um papel menor em uma trama paralela. Isso não incomodava o ator, mas seu nome abrir os créditos sim, uma vez que Tony Ramos, o legítimo merecedor da primazia, vinha em segundo.

Reginaldo chegou a reclamar diretamente com Boni (então superintendente da Globo), sugerindo inclusive que seu nome fosse para um setor dos créditos como “participações especiais” ou coisa do tipo, se a intenção da emissora era destacá-lo. Mas nada feito.

Já para Betty Faria, a novela em nada agregou em seu currículo. Ela vivia Joana, professora de dança na academia da novela. Aproveitava-se assim a cancha de dançarina da atriz, com muitas apresentações da personagem em coreografias, que só enchiam linguiça.

Joana não tinha maior função em Baila Comigo a não ser difundir a dança moderna e justificar o título da novela, que tinha uma academia de dança como um dos principais cenários. Baila Comigo vinha no rastro do sucesso no Brasil do filme Fama, de Alan Parker (1980).

Cláudio Cavalcanti não gostou dos rumos de seu personagem, Guilherme, desenvolvido de maneira bastante diferente do que previa a sinopse original e do que foi proposto ao ator. Conforme o inicialmente planejado, Guilherme se aliaria a Marta (Tereza Rachel) em uma vingança contra Quim (Raul Cortez), já que este abandonaria a mulher para unir-se a Helena (Lílian Lemmertz), que ficaria viúva de Plínio (Fernando Torres).

Porém, o público não gostou de saber da morte de Plínio, um dos personagens mais queridos, e a reação fez com que o autor o mantivesse vivo. Isso desviou a rota do personagem Guilherme, que ficou sem função na história.

Outras curiosidades

• A Globo apostava novamente na estética e estilo de Água Viva, com uma atração solar, naturalista, propondo um crônica de costumes da sociedade carioca do início dos anos 1980. Com o texto sofisticado de Manoel Carlos, Baila Comigo tornou-se um dos maiores sucessos da televisão em 1981, lançando modismos entre a juventude e divulgando as belezas naturais do Rio de Janeiro.

• Tony Ramos recebeu aplausos da crítica pelo desafio de fazer o duplo papel dos gêmeos, recorrendo apenas à caracterização e a recursos técnicos de voz, postura corporal e respiração para viver personalidades tão diversas. Sobre sua interpretação, o ator comentou em entrevista ao jornal O Globo (de 05/04/1981):

“Quando vou interpretar o Quinzinho, me preparo fazendo ginástica, dando uma corrida. Procuro me exercitar ao nível físico, até transpirar um pouco. Busco seu clima caloroso conversando com os colegas, contando piadas, essas coisas. Na hora do João Victor, faço o exercício de forma inversa. Procuro ficar sozinho num canto, me recolho. Busco uma postura mais reservada, um temperamento mais fechado, contido”.

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APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) elegeu Tony Ramos e Fernando Torres os melhores atores da televisão em 1981. Lílian Lemmertz foi eleita a melhor atriz. Tony foi ainda premiado com o Troféu Imprensa de melhor ator de 1981.

• Lílian Lemmertz viveu a primeira da série de Helenas perpetuadas por Manoel Carlos em seus trabalhos posteriores. Curiosamente, a última das Helenas de Maneco foi vivida por Júlia Lemmertz, filha de Lílian, 33 anos depois, na novela Em Família (2014).

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• Assim como o autor lançou em Baila Comigo a sua primeira Helena, também deu início com esta novela a um perfil de personagem recorrente em sua obra: a garota sem papas na língua, inconveniente, inconsequente, voluntariosa, mimada ou egoísta. Mira Maia, vivida por Lídia Brondi, é a precursora de Joyce (Carla Marins), de História de Amor, Laura (Vivianne Pasmanter), de Por Amor, Íris (Deborah Secco), de Laços de Família, Dóris (Regiane Alves), de Mulheres Apaixonadas, e Isabel (Adriana Birolli), de Viver a Vida.

• O primeiro título pensado pelo autor para sua novela era “Quadrilha“, uma referência ao famoso poema de Carlos Drummond de Andrade que canta o amor em cadeia: “João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria, que amava Joaquim…”. O poema foi citado na novela pelo personagem Plínio (Fernando Torres).

AQUI tem tudo sobre Baila Comigo: trama, elenco completo, personagens, trilha sonora e muitas outras curiosidades.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor