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Nunca ficou tão evidente a má vontade de uma emissora com seu próprio produto. É até difícil estabelecer qualquer tipo de lógica para analisar o que a Globo fez com Um Lugar ao Sol.
Isso porque o desrespeito com a novela de Lícia Manzo, faltando apenas poucos dias para seu final, é explícito mesmo meses antes da produção estrear. Mas, nos últimos dois meses de novela, tudo ficou cada vez mais frequente e incômodo.
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Em virtude da pandemia do novo coronavírus, onde a contaminação da variante ômicron se mostrou muito maior, a emissora precisou atrasar a estreia de Pantanal.
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O remake da obra de sucesso de Benedito Ruy Barbosa, exibida na Rede Manchete na década de 90, e adaptado pelo neto do autor, Bruno Luperi, é tratado como a salvação da Globo. Praticamente uma galinha dos ovos de ouro.
Mas vários integrantes da equipe e do elenco pegaram Covid-19. As gravações precisaram de uma pausa. Prevista para o início de março, a estreia foi remarcada para o dia 28.
Portanto, Um Lugar ao Sol precisou ser esticada em duas semanas. Mas a novela já foi finalizada há muitos meses e não há qualquer possibilidade de novos conflitos.
Edição porca
A solução está na edição dos capítulos. Antes com cerca de 55 minutos de duração, vários passaram a durar por volta de 35 minutos. A questão é que todo o trabalho de edição foi feito nas primeiras semanas de ‘esticamento’ de uma maneira porca.
Não houve preocupação nas continuidades das cenas e principalmente com os ganchos. Lícia se preocupou em deixar sua história com encerramentos de tirar o fôlego para prender o público. Depois, a autora se viu obrigada a observar seu trabalho mutilado.
Desde que a edição começou a acontecer, e, consequentemente, a diminuição do tempo de produto no ar, que vários finais de capítulos ficaram sem qualquer sentido. Cortes bruscos e algumas vezes no meio de diálogos. Até mesmo a inserção da abertura da trama ficou sem sentido, sendo exibida após cerca de três minutos de folhetim iniciado.
Custava uma preocupação maior em torno do acabamento da sua principal novela no ar? Agora, já em suas últimas semanas, isso foi amenizado. Há ganchos melhores no final de cada capitulo.
Desrespeito
A verdade é que a Globo nunca demonstrou qualquer respeito por Um Lugar ao Sol. Como já mencionado no texto, a campanha de divulgação foi patética. Todas as matérias na programação eram voltadas para Pantanal. O mistério em torno da escolha da nova Juma Marruá, então, foi transformado em uma espécie de novelinha.
A estreia da trama de Lícia Manzo se aproximava e nada de notícias a respeito. O nível de amadorismo (ou má vontade) era tão grande que o público começou a exigir nas redes sociais do Gshow e da Globoplay que contassem sobre a história inédita que estrearia após tantas reprises. Só assim começaram as divulgações, mas tímidas e sem muito interesse. Um desavisado poderia até achar que o folhetim era da concorrência e por isso a emissora estava boicotando.
A audiência da novela está muito abaixo do esperado para a faixa das 21h, mas todas as produções inéditas da Globo atualmente seguem com o mesmo problema. Não tem como estabelecer uma análise em torno da rejeição do público porque foram quase dois anos só de reprises, o que acabou afastando o telespectador.
Nos Tempos do Imperador e Quanto Mais Vida, Melhor! também ficaram com índices péssimos. A atual novela das sete não conseguiu reagir muito na audiência nem com a maravilhosa troca de corpos dos protagonistas. Porém, as duas nunca receberam o ‘tratamento’ que Um Lugar ao Sol recebe da emissora.
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Merecia mais
Vale lembrar que a saga de Lícia Manzo com a trama merecia até um documentário. A autora foi escolhida para escrever um novo projeto após a primorosa Sete Vidas, exibida em 2015, e criou Jogo da Memória, uma novela já totalmente escrita. A história acabou engavetada.
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Silvio de Abreu, então gestor da teledramaturgia, pediu para a escritora elaborar um novo roteiro. Foi quando Lícia ouviu que iria para o horário nobre. Quando sua estreia parecia certa, houve um adiamento para a entrada relâmpago de Manuela Dias com Amor de Mãe. Mas depois seria Lícia.
Um Lugar ao Sol poderia ter ser tratada como um projeto vitorioso, após tantas dificuldades para ser apresentada ao público. E Lícia precisa ser muito elogiada, mesmo com alguns tropeços na reta final, porque vem conseguindo contar uma história repleta de bons dramas e personagens construídos com riqueza. Definitivamente, não merecia tamanho desrespeito da Globo.