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Semana #3
Durante a semana, houve a passagem da primeira parte da trama, do início dos anos 1990 para a atualidade. Quanto melhor a primeira fase, maior o receio de o público rejeitar a fase seguinte, com as mudanças de ares, época e elenco.
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Pois a novela manteve-se no mesmo patamar, até porque a trama dos Marruás, por exemplo, prosseguiu como se a história tivesse continuado de um dia para outro – apesar de Maria estar mais velha e de Juma ter crescido.
O desconforto maior foi com algumas escalações. Já trato disso.
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Primeira fase
O desfecho da primeira fase trouxe momentos primorosos, como a maior participação da personagem Irma, vivida por Malu Rodrigues. Apelidada nas redes sociais de “talarica”, por dar em cima do namorado da irmã, Irma foi para o Pantanal atrás de Zé Leôncio e deitou-se com ele. O melhor dessa parte foram as ótimas cenas com Filó (Letícia Salles).
As sequências que antecederam a morte de Antero também merecem destaque. Leopoldo Pacheco deu uma interpretação sensível a seu personagem, um tipo boa-praça, ancorado no ótimo texto de Benedito/Bruno Luperi. O diálogo com a filha Irma antes de morrer foi lindo, assim como o texto na cena em que ele joga cartas com o neto.
Na review da semana passada, destaquei os melhores da primeira fase. Volto a frisar: além de Leopoldo Pacheco, Malu Rodrigues, Letícia Salles e Juliana Paes: Enrique Diaz (Gil), Renato Góes (Zé Leôncio), Bruna Linzmeyer (Madeleine), Gabriel Stauffer (Gustavo), Selma Egrei (Mariana), Fábio Neppo (Tião), Chico Teixeira (Quim), Almir Sater (o chalaneiro Eugênio), Orã Figueiredo (o taxista Reginaldo) e Irandhir Santos (Joventino).
Estranhamento
Uma mudança de fase sempre causa estranhamento no público, não por causa das novas ambientações (mesmo porque, pouco mudou na novela em termos de ambientação e cenários), mas principalmente pela mudança de corpos. É um novo elenco, alguns atores muito diferentes fisicamente dos anteriores.
Marcos Palmeira pouco lembra Renato Góes, fisicamente, assim como Karine Teles em relação a Bruna Linzmeyer. Porém, é pura questão de tempo para embarcar na proposta e concluir que não havia melhor ator para interpretar Zé Leôncio maduro do que Marcos Palmeira.
E não há mesmo, porque parece que Palmeira foi moldado para viver esse tipo de personagem. Até o capítulo de sábado, ele já estava perfeitamente entrosado a Zé Leôncio.
Dira Paes também parece a atriz perfeita para Filó – que já demonstrava uma maturidade natural na fase jovem, quando era interpretada pela ótima Letícia Salles.
Karine Teles terá um pouco mais de trabalho. Madeleine é uma personagem difícil de gerar empatia, problemática demais. Ou melhor: humana demais. O público, geralmente, demora a se afeiçoar ao que é espelho.
Talvez tivesse sido por isso que estranhei Jove, personagem de Jesuíta Barbosa. Suas primeiras cenas me desceram mal, conclui que o ator não cabia no personagem. Ou que o personagem demandava um outro perfil de ator.
Contudo, quem assistiu ao capítulo de sábado (15) já enxergou em Jesuíta um Jove com grande probabilidade de gerar empatia e torcida. Jesuíta Barbosa e Marcos Palmeira estiveram tão bem que tomaram conta de seus personagens.
O agro é pop?
O capítulo de sábado foi particularmente especial: a chegada de Jove ao Pantanal em meio a uma festa preparada por seu pai, com viola e churrasco. A discussão “o filho que não come carne sustentado com o dinheiro do agronegócio do pai” foi uma atualização bem-vinda – não existia na novela original.
A Globo é dona do slogan “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo”. Será que a emissora, defensora do agronegócio, tentará promover uma conciliação com pautas mais progressistas, adeptas do meio-ambiente, da reforma agrária e dos direitos de trabalhadores rurais e sem-terra?
Como bem me chamou a atenção o amigo Fred Pellachin, em ano de eleição, esta pode ser uma discussão de interesse para a emissora, por meio da novela.
O latifundiário e pecuarista Zé Leôncio promove a divisão de espaço, já que permite que os Marruás vivam em suas terras, ao mesmo tempo em que se ofende ao entender que o filho sugere que ele maltrata seus animais para o lucro.
Por enquanto, Jove não teve tempo para se explicar direito, mas pintar o personagem como um “Mauricinho desocupado representante da esquerda cirandeira-caviar” é um campo minado.
Benedito, apesar de arroubos conservadores, defendeu com unhas e dentes a reforma agrária durante a novela O Rei do Gado, em 1996. E a Globo bancou. Ou, ao menos, engoliu.
PS 1: Para quem já reclamou das ações de merchandising, a novela de 1990 era repleta de merchans, de antena parabólica a vermífugo.
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PS 2: A trama da vingança de Muda é muito boa. A atriz é Bella Campos e esteve ótima.
PS 3: Guta (Julia Dalavia) chegou chegando. Todo o núcleo de Tenório (Murilo Benício) promete.
Em minhas próximas reviews quero falar de Isabel Teixeira (Maria Bruaca) e Alanis Guillen (Juma).