Esquecidas, irmãs mais famosas do Brasil terminaram na miséria
11/12/2022 às 8h15
Estrelas da Era de Ouro do rádio, as irmãs Linda e Dircinha Batista fizeram história. Milionárias, elas eram amigas de todo mundo, até do presidente Getúlio Vargas.
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Mas, as duas acabaram terminando os seus dias na mais profunda penúria, sendo encontradas vestindo trapos e passando fome.
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Início artístico
Dircinha batista e Linda Batista, nome artístico de Florinda Grandino de Oliveira, nasceram em São Paulo e eram filhas de Batista Júnior, humorista e ventríloquo que realizava a incrível façanha de imitar 22 vozes sem abrir a boca.
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Com apenas seis anos de idade, Dircinha foi a primeira a iniciar na carreira artística, cantando Morena Cor de Canela ao lado do pai, na rádio, em 1930. Aos oito anos, ela já tinha gravado o seu primeiro disco.
Já Linda, que era mais tímida, iniciou sua trajetória em 1936, apresentando-se no programa do cantor Francisco Alves, aos 17 anos.
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A carreira das irmãs ascendeu meteoricamente. Logo, elas estrelaram os filmes Alô, Alô Brasil (1935), Banana da Terra (1939) e Caídos do Céu (1946). Elas ainda participaram de grandiosos shows do Cassino da Urca, além de fazerem excursões, onde ganharam muito dinheiro.
Por conta do enorme sucesso, as duas se tornaram as divas da Rádio Nacional e, sendo assim, comportavam-se como tal, ostentando luxo e riqueza, usando joias valiosas e casacos de pele.
Rivalidade
Com o passar do tempo, Linda, que antes era tímida, acabou herdando o temperamento explosivo e dominador da mãe, dona Neném. Constam relatos que as irmãs Batista eram rivais da cantora Emilinha Borba (foto acima), que estava alcançando o estrelato no mesmo período. A situação causou problemas com fãs e algumas baixarias.
Além disso, Linda Batista teve problemas com seu relacionamento com o diretor Orson Welles, que estava no Brasil para rodar um filme e transmitir em um programa de rádio em cadeia nacional, em 1942. Ainda por cima, elas foram amigas do então presidente Getúlio Vargas e, segundo boatos, chegaram a namorar o presidente em épocas distintas. O próprio Getúlio as chamava de “patrimônio nacional”.
De acordo com os críticos, Linda se tornou mais popular que a irmã, especializando-se em cantar marchinhas de carnaval. Ao longo da sua vida, gravou 29 discos de 78 rpm e 3 LPs, enquanto Dircinha gravou 23 discos de 78 rpm e 2 LPs.
Declínio
Com o inicio das transmissões da TV na década de 1950, as irmãs cantoras começaram a viver o seu declínio. Linda (foto acima) tentou, sem sucesso, ser repórter, enquanto Dirce gravou o seu último disco, Quero morrer no Carnaval (1961), encerrando a carreira em 1970.
A situação de Dircinha piorou após a morte de Dona Neném, que lutou durante cinco anos contra um câncer. Ela acabou entrando em depressão e nunca mais saiu de casa. As duas tinham gasto uma fortuna para o tratamento da mãe e, no fim, Linda acabou sendo esquecida, sem receber convites para cantar ou participar em programas de televisão.
Vivendo na miséria
De acordo com o livro As divas do Rádio Nacional, de Ronaldo Conde Aguiar, Dircinha e Linda Batista estavam vivendo na mais completa miséria. A casa delas, localizada no bairro de Copacabana, no Rio, encontrava-se suja e as irmãs estariam vestidas de trapos, sofrendo de diabetes, arritmia, arteriosclerose e desnutrição.
Para completar, elas não tinham mais dinheiro para pagar a conta da mercearia, que parou de vender fiado para elas.
As Batista, que nos áureos tempos possuíram vários carros de luxo e gastavam dinheiro com joias e vestidos milionários que eram usados uma única vez, começaram a perder sua fortuna gastando bastante dinheiro jogando em cassinos na Europa.
A situação delas se agravou com a lei de proibição de jogos no país, que deixou cerca de 53 mil pessoas desempregadas. Com o fim dos cassinos, elas não tinham como se apresentar e ganhar dinheiro e, sem convites para aparecerem na televisão, acabaram caindo no ostracismo.
Sem recursos e com a aposentadoria que não cobria os gastos, elas começaram a se desfazer de joias, roupas, apartamentos e eletrodomésticos.
Em 1985, o banco Banerj chegou a abrir uma conta nacional para depósito a fim de ajudar as irmãs Batista e o então prefeito do Rio, Marcelo Alencar, pediu à Câmara de Vereadores uma pensão vitalícia para as duas. A única pessoa que se dispôs a ajudá-las foi o cantor José Ricardo, que providenciou a internação delas.
Linda Batista veio a falecer em 17 de abril de 1998, aos 68 anos, e sua irmã Dircinha morreu em 18 de junho de 1999, aos 77 anos. Ambas se encontravam internadas no Hospital Dr Eiras no Rio de Janeiro.
Em 1998, a trajetória das irmãs Batista virou o musical Somos Irmãs, estrelado por Suely Franco (Linda) e Nicette Bruno (Dircinha) na fase idosa. As atrizes Cláudia Lira (Linda) e Cláudia Netto (Dircinha) fizeram os papéis das cantoras na juventude.