MUDANÇA

Escolhida às pressas, Tieta substituiu novela proibida por excesso de drama

30/11/2024 às 16h56

Por: Thell de Castro
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Lídia Brondi em Tieta

Um dos grandes sucessos da história da Globo, Tieta vai voltar no Vale a Pena Ver de Novo a partir da próxima segunda (2). A produção vai substituir Alma Gêmea, fazendo a tradicional dobradinha na primeira semana.

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A adaptação do romance Tieta do Agreste, de Jorge Amado, logo caiu no gosto do público e bateu recordes de audiência entre 1989 e 1990.

O que pouca gente se lembra é que a novela teve que ser produzida às pressas.

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Vetada

Cássia Kis, Victor Fasano e Claudia Abreu em Barriga de Aluguel
Cássia Kis, Victor Fasano e Claudia Abreu em Barriga de Aluguel

Tieta acabou entrando no lugar de Barriga de Aluguel, que seria a substituta de O Salvador da Pátria.

O então chefão da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, vetou a escolhida, de acordo com as notícias da época, pelo excesso de drama, preferindo uma trama mais leve.

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A novela de Gloria Perez só viria a ser feita alguns meses depois, na faixa das seis, e, ironicamente, também acabaria fazendo muito sucesso.

Sonho antigo

Betty Faria em Tieta
Betty Faria em Tieta

Adaptar Tieta do Agreste era um sonho antigo do canal. A primeira tentativa de produção foi em 1986.

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Seria uma minissérie de Doc Comparato, mas, de acordo com o Jornal do Brasil de 14 de setembro de 1986, a procuradora do autor pediu US$ 160 mil pelos direitos e a emissora achou caro demais.

Para efeito de comparação, por Tenda dos Milagres, produzida em 1985, foram desembolsados US$ 15 mil.

O mesmo JB, em 7 de março de 1989, informou que a emissora adquiriu os direitos e que Betty Faria, que intermediou a negociação diretamente com Jorge Amado, viveria a personagem principal.

Certa vez, o diretor Daniel Filho contou que encontrou o escritor em Paris, em 1974, quando escrevia a obra. Amado disse que, se um dia fosse adaptada para a televisão, queria ver a atriz como a personagem-título.

Com a novela, a Globo queria recuperar seu prestígio, abalado após problemas com a trama anterior, O Salvador da Pátria, que, apesar de alcançar médias de 60 pontos no Ibope, foi criticada até por Roberto Marinho.

A trama estreou dia 14 de agosto de 1989 e, além da protagonista, trazia nomes do quilate de Joana Fomm, que viveu a impagável vilã Perpétua, Yoná Magalhães, Reginaldo Faria, José Mayer, Paulo Betti, Arlete Salles e Cássio Gabus Mendes, entre outros.

Mudanças

Conversa com Bial - Aguinaldo Silva
Reprodução / Globo

Ao jornal O Dia de 9 de julho de 1989, Aguinaldo Silva contou que escreveu os seis primeiros capítulos sozinho.

“Era preciso encontrar a fórmula e a linha do texto. Do sétimo em diante é que eu, a Ana [Maria Moretzsohn] e o Ricardo [Linhares] passamos a dividir o trabalho”.

No livro, a história é contada pelos próprios personagens depois que Tieta volta a Santana do Agreste. Na novela, foi feito diferente.

“As histórias acontecem mesmo até a volta de Tieta. Com isso, ganhei 18 capítulos, o tempo que Betty Faria precisava para acabar O Salvador da Pátria. E só depois disso ela entra no ar”, disse.

À Folha de S. Paulo de 25 de junho de 1989, Silva contou que, ao contrário do livro, a heroína teria um final feliz. “Isso frustraria o público”, disse o autor.

Para alongar a história, ele fundiu personagens, criou outros e levantou núcleos apenas esboçados por Jorge Amado que, na opinião dele, vai ficar satisfeito com o resultado, mesmo com a mudança do final.

“Jorge vai me desculpar, mas essa licença eu vou tomar. Até porque ele é talentoso demais para sentir ciúmes do meu final”, concluiu.

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