MUDANÇA
Escolhida às pressas, Tieta substituiu novela proibida por excesso de drama
30/11/2024 às 16h56

Um dos grandes sucessos da história da Globo, Tieta vai voltar no Vale a Pena Ver de Novo a partir da próxima segunda (2). A produção vai substituir Alma Gêmea, fazendo a tradicional dobradinha na primeira semana.
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A adaptação do romance Tieta do Agreste, de Jorge Amado, logo caiu no gosto do público e bateu recordes de audiência entre 1989 e 1990.
O que pouca gente se lembra é que a novela teve que ser produzida às pressas.
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Vetada

Tieta acabou entrando no lugar de Barriga de Aluguel, que seria a substituta de O Salvador da Pátria.
O então chefão da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, vetou a escolhida, de acordo com as notícias da época, pelo excesso de drama, preferindo uma trama mais leve.
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Sonho antigo

Adaptar Tieta do Agreste era um sonho antigo do canal. A primeira tentativa de produção foi em 1986.
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Seria uma minissérie de Doc Comparato, mas, de acordo com o Jornal do Brasil de 14 de setembro de 1986, a procuradora do autor pediu US$ 160 mil pelos direitos e a emissora achou caro demais.
Para efeito de comparação, por Tenda dos Milagres, produzida em 1985, foram desembolsados US$ 15 mil.
Certa vez, o diretor Daniel Filho contou que encontrou o escritor em Paris, em 1974, quando escrevia a obra. Amado disse que, se um dia fosse adaptada para a televisão, queria ver a atriz como a personagem-título.
Com a novela, a Globo queria recuperar seu prestígio, abalado após problemas com a trama anterior, O Salvador da Pátria, que, apesar de alcançar médias de 60 pontos no Ibope, foi criticada até por Roberto Marinho.
A trama estreou dia 14 de agosto de 1989 e, além da protagonista, trazia nomes do quilate de Joana Fomm, que viveu a impagável vilã Perpétua, Yoná Magalhães, Reginaldo Faria, José Mayer, Paulo Betti, Arlete Salles e Cássio Gabus Mendes, entre outros.
Mudanças

Ao jornal O Dia de 9 de julho de 1989, Aguinaldo Silva contou que escreveu os seis primeiros capítulos sozinho.
“Era preciso encontrar a fórmula e a linha do texto. Do sétimo em diante é que eu, a Ana [Maria Moretzsohn] e o Ricardo [Linhares] passamos a dividir o trabalho”.
No livro, a história é contada pelos próprios personagens depois que Tieta volta a Santana do Agreste. Na novela, foi feito diferente.
“As histórias acontecem mesmo até a volta de Tieta. Com isso, ganhei 18 capítulos, o tempo que Betty Faria precisava para acabar O Salvador da Pátria. E só depois disso ela entra no ar”, disse.
À Folha de S. Paulo de 25 de junho de 1989, Silva contou que, ao contrário do livro, a heroína teria um final feliz. “Isso frustraria o público”, disse o autor.
Para alongar a história, ele fundiu personagens, criou outros e levantou núcleos apenas esboçados por Jorge Amado que, na opinião dele, vai ficar satisfeito com o resultado, mesmo com a mudança do final.
“Jorge vai me desculpar, mas essa licença eu vou tomar. Até porque ele é talentoso demais para sentir ciúmes do meu final”, concluiu.