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Nos primórdios da telenovela brasileira, uma boa mocinha sofria por amor. Salvo uma ou outra exceção, as heroínas esperavam passivamente um mocinho valente capaz de fazê-la viver feliz para sempre. A realização amorosa era o principal – senão o único – objetivo das protagonistas dos folhetins.
Neste contexto, Terra e Paixão parece uma história das antigas. Aline (Barbara Reis) não tem nenhum outro conflito além do amoroso. Até aqui, sua história gira em torno de seus romances com Daniel (Johnny Massaro) e Caio (Cauã Reymond). O autor Walcyr Carrasco errou na escolha do perfil da personagem e, agora, paga o preço pelo equívoco.
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Tempos modernos
Atualmente, as mocinhas de novelas vivem outros conflitos além dos dilemas amorosos. Em Amor Perfeito, Marê (Camila Queiroz) nunca precisou lutar por Orlando (Diogo Almeida). Seu principal objetivo sempre foi provar sua inocência no suposto assassinato de seu pai. Já Luna (Giovana Cordeiro), em Fuzuê, busca desvendar o mistério em torno do sumiço de sua mãe, Maria Navalha (Olívia Araújo).
Mas Aline, a protagonista de Terra e Paixão, parou no tempo. A heroína criada por Walcyr Carrasco não tem um grande conflito senão as questões envolvendo seus pares românticos. Nos primeiros capítulos, ela se envolveu com Daniel (Johnny Massaro), mesmo ele sendo noivo, além de ser filho de seu grande inimigo.
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Com a morte do primeiro pretendente, Aline caiu nos braços de Caio, que sempre foi apaixonado por ela. Atualmente, os pombinhos enfrentam as armações de Graça (Agatha Moreira), que quer separá-los a qualquer custo.
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Mudança
Reduzir Aline a uma heroína romântica é um grande desperdício. Afinal, no início de Terra e Paixão, a protagonista tinha um conflito muito mais intenso, mas que acabou se perdendo pelo caminho.
O embate entre a professora e Antônio La Selva (Tony Ramos) era uma força motriz interessante ao enredo de Walcyr Carrasco. Aline, mesmo sendo o lado mais fraco do conflito, não abaixou a cabeça diante dos desmandos do poderoso do agronegócio.
Inexplicavelmente, este plot foi deixado em segundo plano. Atualmente, Antônio está mais interessado em Agatha (Eliane Giardini) do que em brigar com Aline por suas terras. Isso esvaziou bastante a personagem de Barbara Reis, que é uma boa atriz, mas corta um dobrado pra convencer nessa mocinha que parece perdida.
Ainda há a trama sobre os diamantes, mas ela anda a passos de tartaruga. Além disso, é uma solução preguiçosa do autor. Seria muito mais interessante se Aline vencesse Antônio por meio de sua própria produção na famigerada terra vermelha. Ela vai enriquecer porque vive sobre uma mina de diamantes? Que briga é essa?
Falha do autor
Walcyr Carrasco não está sendo feliz na condução de Aline. Além de tudo o que foi dito, a mocinha ainda tem uma falha grave de concepção, já que nunca viveu o luto pelas perdas que sofreu. Além disso, agora ela é vista como hipócrita pelo público, já que, no passado, aceitou ser amante de Daniel, e, no presente, ofende Graça. Complicado.
É estranho o autor falhar tanto na construção de sua mocinha, já que Carrasco criou mocinhas memoráveis. Catarina (Adriana Esteves), de O Cravo e a Rosa, ou Aninha (Mariana Ximenes), de Chocolate com Pimenta, eram mulheres fortes. Assim como Clara (Bianca Bin), de O Outro Lado do Paraíso.
Mas não é a primeira vez que Carrasco erra. Basta lembrar de Paloma (Paolla Oliveira), a mocinha sem brilho de Amor à Vida. Ou Filomena (Débora Nascimento), que também não funcionou em Êta Mundo Bom!.