No último dia 24, a jornalista Mônica Bergamo publicou, na Folha de S.Paulo, uma entrevista com a advogada de defesa das vítimas que acusam Marcius Melhem, humorista e diretor, de ter “atuado de forma violenta com várias atrizes”.

O artista foi demitido da Globo em agosto desse ano, após o compliance da emissora, departamento responsável pelo código de ética e conduta, receber denúncias de assédio sexual e moral feitas por diversas mulheres, incluindo a humorista Dani Calabresa.

No ato do desligamento, a emissora divulgou uma nota que trazia elogios e agradecimentos a Melhem, o que causou insatisfação e desconforto nas pessoas que o acusavam.

Esse tipo de acontecimento, hoje amplamente difundido para a sociedade, mostra que o assédio é um problema grave que muitas mulheres sofrem em seu ambiente de trabalho, seja em empresas pequenas, sem os holofotes da TV, ou em grandes corporações, como a Rede Globo.

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Melhem era a cabeça do humor na emissora carioca e foi responsável por modificar a linguagem dos programas, trazendo à tona temas espinhosos, que representavam a nova era da comédia. Esse estilo abriu espaço para mais inclusão dentro do gênero, um formato mais respeitoso e cuidadoso. Porém, ao ser acusado, a contradição é que todo esse zelo ficou apenas nas piadas.

Coincidência (ou não), aproveitando a onde de cortes que a emissora está promovendo há algum tempo, os atuais humorísticos da casa serão extintos em 2021 e darão espaço a novas ideias.

Só que mais importante do que prever o destino do humor da Globo, é saber como essa história pode mudar a mentalidade de muitos poderosos, que agem de forma covarde por levar o título de “diretor” nas portas de suas salas.

Dani Calabresa, embora seja uma pessoa pública e famosa, também não teria escapado de um comportamento inadequado por parte de seu gestor, situação que tantas mulheres sofrem no dia a dia.

O que se passa em um ambiente corporativo não é diferente de uma produção televisiva, onde muitas pessoas se calam por medo, seja de uma demissão ou de uma punição. Essas mulheres merecem toda nossa atenção e, principalmente, proteção por parte das empresas em que trabalham.

Esse contexto já foi tema de uma série de grande sucesso nos Estados Unidos. The Morning Show (Apple TV) mostra os bastidores de um programa matutino no qual o apresentador, a principal estrela da atração, é acusado de assédio sexual.

Embora ficcional, o seriado é uma amostra do que ocorre nos meios de comunicação e que muitas vezes passa despercebido aos olhos do público, muitas vezes pela frieza do agressor e pela conivência da alta cúpula da empresa.

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Em nota, a Globo afirma que “não tolera comportamentos abusivos em suas equipes e, neste sentido, mantém um canal aberto para denúncias de violação às regras do Código de Ética do Grupo Globo”.

A emissora tem a chance de abrir um debate com a sociedade, mostrando que essas mulheres, e tantas outras espalhadas pelo Brasil, precisam ser ouvidas e respeitadas.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor