Ernesto Varela: o repórter cara-de-pau

Na década de 1980 – em uma época que a ditadura estava no fim, mas a censura ainda respirava – nascia um repórter que mostrava, de forma simples e curiosa, os bastidores da política e o cotidiano daquela época.

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Estou falando de Ernesto Varela, criação do multimídia Marcelo Tas.

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Tas criou inúmeros personagens para o público infantil e adulto, mas Varela foi um marco na carreira dele e no jornalismo dos anos 1980.

As perguntas, ingênuas e descontraídas, deixavam políticos, artistas e populares desconcertados. Dessa forma, Varela mostrava, de forma bem-humorada, o lado humano (e verdadeiro) das pessoas.

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A política era o “prato” preferido do intrépido repórter que, sem papas na língua, questionava os políticos sobre diversos assuntos que a imprensa muitas vezes deixava de lado.

A importância de Varela vai além de tudo isso: em uma época em que a liberdade engatinhava, ele colocava seu jeito único naquilo que muitos evitavam falar. Assim, por meio de seu personagem, Tas trouxe uma nova linguagem à televisão, com uma edição rápida e questionamentos inteligentes que faziam o espectador rir e pensar. Além disso, a jornada de Ernesto Varela era acompanhada por seu cinegrafista Valdeci, nada menos que Fernando Meirelles.

Essa linguagem inovadora começou em uma produtora independente: Olhar Eletrônico. Criada pelo próprio Fernando Meirelles, foi pioneira: não existiam produtoras independentes no Brasil e muito menos programas experimentais.

O icônico jornalista Goulart de Andrade prestou atenção nesses jovens criativos e os convidou para produzirem um programa dentro do seu programa 23ª Hora, exibido pela TV Gazeta em 1983. E neste programa, Varela debutou com a “benção” de Goulart.

Para nossa sorte, Marcelo Tas está recuperando as principais reportagens de Ernesto Varela e postando no Youtube. Vamos destacar aqui algumas reportagens para você entender o que foi a década de 1980, tanto na política quanto na sociedade:

Maluf é corrupto?

Em 1984, Maluf sonhava com a presidência e começava a articular sua campanha para as eleições indiretas em 1985. Varela, no dia do aniversário do então deputado, levou um bolo, cantou parabéns e perguntou se ele era corrupto.

A febre do ouro em Serra Pelada

No início dos anos 1980, Serra Pelada, que fica no Pará, tornou-se o maior garimpo a céu aberto do mundo e milhares de brasileiros foram atrás do ouro, largando tudo e todos atrás da riqueza do “eldorado brasileiro”. Varela mostra, nessa reportagem marcante, o cotidiano dos garimpeiros, como trabalhavam, viviam e se divertiam.

“Azaração” na Rua Augusta

A Rua Augusta, que fica na região central de São Paulo, sempre foi um ponto de encontro badalado. Em 1983, Ernesto Varela mostra como os jovens paqueravam e a agitação das festas e bares daquela região, bem antes do Tinder ou qualquer outro aplicativo.

A jogada de Nabi Abi Chedid

Varela foi cobrir a Copa do Mundo de 1986, que ocorreu no México, pelo pool entre SBT e Record. Quem chefiava a delegação brasileira era o cartola e político Nabi Abi Chedid, que proibiu os jogadores de discutir política com a imprensa, apenas futebol. Foi questionado e perdeu a paciência com o repórter.

A votação das Diretas-Já

Um dos momentos mais importantes da história política foi o movimento “Diretas Já”, que pedia a volta da eleição direta para presidente. No dia em que o congresso votou a emenda pela volta das eleições, Varela foi até Brasília cobrir esse momento importante. Na época, foi proibida qualquer transmissão ao vivo da votação e a equipe foi barrada logo na chegada.

Hoje vivemos uma época atribulada na política: o argumento foi deixado de lado e as ofensas e ataques tomam conta das redes sociais.

Um repórter como Ernesto Varela faz falta nesse momento de crise.


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