Ernesto Varela: o repórter cara-de-pau

02/10/2017 às 10h00

Por: Fabio Marckezini
Imagem PreCarregada

Na década de 1980 – em uma época que a ditadura estava no fim, mas a censura ainda respirava – nascia um repórter que mostrava, de forma simples e curiosa, os bastidores da política e o cotidiano daquela época.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Estou falando de Ernesto Varela, criação do multimídia Marcelo Tas.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Tas criou inúmeros personagens para o público infantil e adulto, mas Varela foi um marco na carreira dele e no jornalismo dos anos 1980.

As perguntas, ingênuas e descontraídas, deixavam políticos, artistas e populares desconcertados. Dessa forma, Varela mostrava, de forma bem-humorada, o lado humano (e verdadeiro) das pessoas.

LEIA TAMBÉM:

A política era o “prato” preferido do intrépido repórter que, sem papas na língua, questionava os políticos sobre diversos assuntos que a imprensa muitas vezes deixava de lado.

A importância de Varela vai além de tudo isso: em uma época em que a liberdade engatinhava, ele colocava seu jeito único naquilo que muitos evitavam falar. Assim, por meio de seu personagem, Tas trouxe uma nova linguagem à televisão, com uma edição rápida e questionamentos inteligentes que faziam o espectador rir e pensar. Além disso, a jornada de Ernesto Varela era acompanhada por seu cinegrafista Valdeci, nada menos que Fernando Meirelles.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Essa linguagem inovadora começou em uma produtora independente: Olhar Eletrônico. Criada pelo próprio Fernando Meirelles, foi pioneira: não existiam produtoras independentes no Brasil e muito menos programas experimentais.

O icônico jornalista Goulart de Andrade prestou atenção nesses jovens criativos e os convidou para produzirem um programa dentro do seu programa 23ª Hora, exibido pela TV Gazeta em 1983. E neste programa, Varela debutou com a “benção” de Goulart.

Para nossa sorte, Marcelo Tas está recuperando as principais reportagens de Ernesto Varela e postando no Youtube. Vamos destacar aqui algumas reportagens para você entender o que foi a década de 1980, tanto na política quanto na sociedade:

Maluf é corrupto?

Em 1984, Maluf sonhava com a presidência e começava a articular sua campanha para as eleições indiretas em 1985. Varela, no dia do aniversário do então deputado, levou um bolo, cantou parabéns e perguntou se ele era corrupto.

A febre do ouro em Serra Pelada

No início dos anos 1980, Serra Pelada, que fica no Pará, tornou-se o maior garimpo a céu aberto do mundo e milhares de brasileiros foram atrás do ouro, largando tudo e todos atrás da riqueza do “eldorado brasileiro”. Varela mostra, nessa reportagem marcante, o cotidiano dos garimpeiros, como trabalhavam, viviam e se divertiam.

“Azaração” na Rua Augusta

A Rua Augusta, que fica na região central de São Paulo, sempre foi um ponto de encontro badalado. Em 1983, Ernesto Varela mostra como os jovens paqueravam e a agitação das festas e bares daquela região, bem antes do Tinder ou qualquer outro aplicativo.

A jogada de Nabi Abi Chedid

Varela foi cobrir a Copa do Mundo de 1986, que ocorreu no México, pelo pool entre SBT e Record. Quem chefiava a delegação brasileira era o cartola e político Nabi Abi Chedid, que proibiu os jogadores de discutir política com a imprensa, apenas futebol. Foi questionado e perdeu a paciência com o repórter.

A votação das Diretas-Já

Um dos momentos mais importantes da história política foi o movimento “Diretas Já”, que pedia a volta da eleição direta para presidente. No dia em que o congresso votou a emenda pela volta das eleições, Varela foi até Brasília cobrir esse momento importante. Na época, foi proibida qualquer transmissão ao vivo da votação e a equipe foi barrada logo na chegada.

Hoje vivemos uma época atribulada na política: o argumento foi deixado de lado e as ofensas e ataques tomam conta das redes sociais.

Um repórter como Ernesto Varela faz falta nesse momento de crise.


Utilizamos cookies como explicado em nossa Política de Privacidade, ao continuar em nosso site você aceita tais condições.