Episódio de Toma Lá Dá Cá nunca mais deverá ser exibido pela Globo

21/02/2023 às 10h41

Por: André Santana
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Reprodução / Globo

Visto como uma espécie de “sucessor” do Sai de Baixo, o sitcom Toma Lá Dá Cá fez bastante sucesso nas noites de terça-feira da Globo entre 2007 e 2009. Criada por Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa, a atração reunia um numeroso e estrelado elenco, encabeçado por Adriana Esteves, Marisa Orth, Diogo Vilela e o próprio Falabella.

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Toma Lá Dá Cá - Alessandra Maestrini e Arlete Salles

Reprodução / Globo

Anos depois de sua exibição original, a série continua sendo revisitada pela Globo, com reprises no Viva e no próprio canal aberto. No entanto, tais reapresentações servem para mostrar que várias das piadas do humorístico envelheceram muito mal. E há um episódio em específico que jamais deve ser reapresentado…

Trata-se do 23º episódio da segunda temporada de Toma Lá Dá Cá, que é marcado pelo uso de uma prática conhecida como “blackface”. Uma prática considerada racista e, portanto, condenável.

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Volta ao passado

Toma Lá Dá Cá - Alessandra Maestrini

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No episódio em questão do Toma Lá Dá Cá, todos os personagens do sitcom voltam ao passado por meio de uma regressão. Assim, eles são vistos numa versão inserida dentro do período imperial. Com isso, a empregada Bozena (Alessandra Maestrini) surge como uma mulher escravizada.

No entanto, a atriz Alessandra Maestrini é branca, de pele, olhos e cabelos claros. Assim, para se transformar numa escravizada em cena, ela teve sua pele pintada de tinta preta, além de usar uma peruca com cabelos crespos e lentes de contato. Até mesmo seu famoso bordão “Lá em Pato Branco” foi adaptado para “Lá em Pato Preto”.

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Pintar a pele de preto para fazer uma interpretação estereotipada do povo negro é chamado de “blackface”, uma prática racista que precisa ser eliminada das artes de uma vez por todas. Com isso, uma reprise deste episódio de Toma Lá Dá Cá se torna inviável. Porém, ele continua disponível no Globoplay.

Exemplo

Mais Você - Anderrupson

Reprodução / Globo

Nos últimos anos, com o aumento do debate sobre racismo no Brasil, a discussão sobre o “blackface” ganhou mais corpo e mais visibilidade. Com isso, sempre que a prática aparece, ela é imediatamente condenada, até como uma forma didática de mostrar que isso não deve mais acontecer.

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Uma edição recente do Mais Você ilustra bem o caso. No quadro Jogo de Panelas, o participante Anderrupson apareceu em um jantar africano temático caracterizado com vestes típicas e a pele pintada. Imediatamente, Ana Maria Braga interrompeu a exibição do quadro para apontar que o jogador praticava “blackface” e que isso era algo racista e que não podia acontecer.

“A gente está tentando esclarecer aqui para que isso não ocorra nas festas, nos lugares em que você for. É um comportamento que não deve mais se repetir”, explicou a apresentadora.

Depois disso, Anderrupson pediu desculpas.

“Não vim me vitimizar, fui agressor inconsciente, mas fui. Quero me solidarizar com todos que sofrem racismo no mundo. Para o racismo não deve haver livre arbítrio, e se quer politicamente correto. Deve ser combatido de forma intolerante. Não permita nenhuma prática racista em sua casa ou qualquer outro local. Não deixe o racismo entrar”, disse.

Outros casos

Chico Anysio

Divulgação / Globo

Mas nem sempre foi assim. Durante anos, a televisão brasileira fez uso do “blackface” de maneira indiscriminada, com pouca ou nenhuma repercussão. Um dos casos mais lembrados foi uma edição do programa Milk Shake, que Angélica apresentava nas tardes de sábado da Manchete entre 1988 e 1992.

A atração, que explorava um tema toda semana, resolveu fazer uma “homenagem” ao povo negro e colocou Angélica “caracterizada”, com a pele pintada de preto e peruca blackpower. A apresentadora também “engrossou” a voz. O episódio lamentável rendeu uma crítica na Folha de S. Paulo em outubro de 1990.

Xuxa também já fez “blackface” na TV. Ela apareceu toda pintada de preto ao lado de Grande Otelo num número musical que fez parte da campanha “Tente, Invente, Faça um 92 Diferente”, clássica mensagem de fim de ano da TV Globo.

Chico Anysio também pintava a pele de preto para viver tipos como Azambuja e Velho Zuza em seus programas.

O Melhor do Brasil - Rodrigo Faro

Divulgação / Record

Rodrigo Faro, em seu Dança Gatinho, também fez o mesmo ao representar artistas negros, como Beyoncé e Ludmilla. No Show dos Famosos, do Domingão do Faustão, a prática também era comum.

Por que blackface é ofensivo?

A Cabana do Pai Tomás - Ruth de Souza e Sérgio Cardoso

Divulgação / Globo

Na dramaturgia, o caso mais emblemático foi A Cabana do Pai Tomás (1969, foto), na qual Sérgio Cardoso pintou o corpo para viver Tomás, par de Cloé (Ruth de Souza).

O blackface existe há mais de 200 anos. Em sua origem, a prática era utilizada por atores brancos para fazer representações estereotipadas dos negros, ridicularizando-os para o “entretenimento” de outros brancos. Nessa época, os negros não eram autorizados a subir no palco.

“O blackface tem raízes no racismo, que está ligado ao medo de pessoas negras e à ridicularização delas”, explicou Kehinge Andrews, da Birmingham City University, no Reino Unido, em matéria no site BBC.

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