André Santana

Apesar de estar longe de ser considerada um fiasco, como Um Lugar ao Sol (2021) e Cara e Coragem (2022), Amor Perfeito enfrenta o mesmo descaso da Globo que foi dispensado a estas tramas. A emissora não investiu em boas chamadas no lançamento e, para piorar, não repercute a novela em seus programas. Isso colabora para que a trama de  Duca Rachid, Julio Fischer e Elísio Lopes Jr. passe em brancas nuvens nas redes sociais.

Mariana Ximenes como Gilda em Amor Perfeito
Mariana Ximenes como Gilda em Amor Perfeito (divulgação/Globo)

Tudo isso aumenta a sensação de que a Globo estaria “enterrando viva” a própria novela, apenas esperando passar. Tanto que o canal já se empenha em divulgar Elas por Elas, sua substituta, mesmo faltando várias semanas para a estreia.

Porém, nos últimos capítulos, Amor Perfeito tem ganhado uma nova chance para deslanchar. Desde que Marcelino (Levi Asaf) foi adotado por Gilda (Mariana Ximenes) e passou a sofrer nas mãos da megera, a trama tem sido mais comentada nas redes. O que mostra que o sofrimento de uma criança costuma ser uma fórmula infalível para emplacar um folhetim.

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Pobre menino

Amor Perfeito - Levi Asaf
Levi Asaf como Marcelino em Amor Perfeito (Reprodução / Globo)

Marcelino é um dos protagonistas de Amor Perfeito. O menino foi tirado dos braços de Marê (Camila Queiroz), sua mãe, logo após o nascimento, quando foi entregue na Irmandade dos Clérigos de São Jacinto. Assim, ele cresceu criado pelos religiosos do lugar.

Mas, nos mais recentes capítulos da trama das seis da Globo, o garoto foi adotado por Gilda, a vilã da história. A megera quer usar a criança para conquistar Orlando (Diogo Almeida) e acabar de vez com Marê, sua inimiga.

Marcelino foi morar com a vilã e passou a enfrentar um calvário. Gilda o trata mal e o proíbe de ver seus amigos e os freis e padres que o criaram. Com isso, o menino apela para Jesus (Jorge Florêncio), pedindo ajuda ao filho de Deus, em cenas absolutamente comoventes. O sofrimento do garoto passou a dar alguma repercussão à Amor Perfeito.

Leia também: Falência: como foi o triste fim do canal que tirou Galvão Bueno da Globo

Fórmula infalível

Bruna Marquezine e Vanessa Gerbelli em Mulheres Apaixonadas
Bruna Marquezine (Salete) e Vanessa Gerbelli (Fernanda) em Mulheres Apaixonadas (Divulgação / Globo)

Não é de hoje que as novelas apostam em crianças sofredoras para elevar a audiência. Basta acompanhar a reprise de Mulheres Apaixonadas (2003) no Vale a Pena Ver de Novo para perceber isso.

Na trama de Manoel Carlos, Salete (Bruna Marquezine) vive um verdadeiro calvário. A garota sofre ao pressentir a morte iminente da mãe. Depois, chora capítulos a fio após o falecimento de Fernanda (Vanessa Gerbelli). Ela chora mais ainda ao passar a viver com a avó (Manoelita Lustosa), que a maltrata. Salete só para de chorar no último capítulo, quando finalmente descobre que é filha de Téo (Tony Ramos).

Na época, Salete se tornou um dos grandes destaques da novela. Tanto que projetou Bruna Marquezine, que virou uma das artistas-mirins mais festejadas da época e seguiu na carreira artística, emplacando várias protagonistas em folhetins.

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Outros casos

Sonho Meu - Carolina Pavanelli e Patrícia França
Carolina Pavanelli (Laleska) e Patrícia França (Cláudia) em Sonho Meu (Divulgação / Globo)

Marcelino não está sozinho como criança sofredora na faixa das seis. O garoto repete o êxito da fofa Maria Carolina, a Laleska (Carolina Pavanelli), que sofria horrores ao ser separada da mãe, Claudia (Patrícia França), e ir parar num orfanato em Sonho Meu (1993).

Quanto mais Laleska chorava, mais a audiência subia. Tanto que Sonho Meu se tornou um grande sucesso do horário, firmando-se como uma das novelas mais exitosas dos anos 1990. Mas ela não foi a única. Felicidade (1991) e Despedida de Solteiro (1992) foram outras tramas que abusaram das crianças sofredoras – com sucesso!

Isso também explica o sucesso das novelas infantis do SBT. Carrossel (2012), Chiquititas (2013), Cúmplices de um Resgate (2015) e Carinha de Anjo (2016) foram algumas das tramas da emissora protagonizadas por crianças que, vira e mexe, passavam por perrengues sérios. Ou seja, o público não resiste a uma criança fofa sofrendo…

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor