Após apresentar uma reta final entediante e completamente arrastada, Flor do Caribe chegava ao fim em 13 de setembro de 2013. A trama, resgatada em edição especial durante a pandemia, guarda semelhanças com Mar do Sertão, atualmente em exibição às 18h: o mocinho dado como morto volta à cidade onde morava e reencontra a amada casada com um desafeto.

Mar do Sertão

A trama de Walther Negrão estreou tendo como missão reerguer o Ibope do horário, cujos índices anteriores deixaram a desejar, vide A Vida da Gente, Amor Eterno Amor e Lado a Lado. Não conseguiu. A média geral em São Paulo foi de 21 pontos, um a menos que a impecável trama de Lícia Manzo, considerada um fracasso nos números. Anos depois, o mesmo ocorreu, na edição especial por conta da pandemia causada pelo novo coronavírus.

Folhetim sem atrativos

Flor do Caribe

A história de Walther Negrão começou fraca. A obsessão do vilão em roubar a mocinha do mocinho era óbvia e os demais núcleos não empolgaram. A boa primeira impressão ficou por conta das lindíssimas imagens, bem usadas pelo diretor Jayme Monjardim.

Entretanto, com o passar das semanas, a novela foi ganhando bons elementos. A temática do nazismo começou a ser melhor aprofundada (de uma forma bem didática, é bom dizer), a fuga de Cassiano (Henri Castelli) transmitiu a impressão de que uma grande vingança seria iniciada e a entrada de Daniela Escobar deixou claro que Natália e Juliano (Bruno Gissoni) formariam um lindo casal. Parecia que a trama engrenaria de vez…

Porém, com o tempo, foi possível constatar que a obra seria recheada de altos e baixos, onde o ritmo arrastado seria um dos problemas. Poucas viradas ocorreram e quase sempre o público se via diante de situações que se repetiam ou então não saíam do lugar. Muitas vezes apelavam para as belíssimas imagens do Rio Grande do Norte…

Promessas vazias

Cassiano passou a história toda dizendo que Alberto (Igor Rickli) pagaria por ter destruído seu romance com Ester (Grazi Massafera), mas acabou não fazendo nada e sendo apenas um mero observador. O núcleo cômico dos tenentes foi um equívoco.

Thiago Martins, Max Fercondini e Dudu Azevedo se repetiram e era impossível ver alguma diferença na interpretação deles em relação aos seus papéis anteriores. Somente Thaíssa Carvalho se saiu bem. E o contexto tinha como objetivo fazer rir e inserir alguma adrenalina na trama. A comicidade não funcionou, mas cenas de ação foram bem feitas, apesar de algumas vezes terem ficado forçadas.

O casal Doralice (Rita Guedes) e Quirino (Ailton Graça) não foi bem desenvolvido e ser perdeu por completo. Walther merece elogios por ter tirado os atores de seus respectivos estigmas – ele do tipo engraçado atrapalhado e ela da gostosona -, porém, se atrapalhou na trama.

O objetivo inicial seria abordar a paixão de Dora por seu enteado (Juliano), causando uma crise no relacionamento. Mas o autor se arrependeu e a solução foi transformar a cozinheira em uma mulher obcecada por ficar grávida, mesmo sabendo que era estéril. O resultado acabou afastando a personagem do folhetim, que só voltou no final para se despedir.

Casal protagonista não funcionou

Apesar do bom desempenho de Grazi Massafera, o casal protagonista não funcionou. O par abusava das declarações melosas e o único assunto que permeava a relação era a derrocada de Alberto. Algo que cansou rapidamente. A trama do nazismo, apesar de ser um dos pontos altos, pecou na inverossimilhança com a idade dos envolvidos…

Foi difícil acreditar que Samuel (Juca de Oliveira) era apenas uma criança quando Dionísio (Sérgio Mamberti) já era um adulto com mais de 40 anos. E tudo só piorou quando Manolo (Elias Gleizer) entrou na história, como melhor amigo de infância do pai de Ester.

Foi uma pena também ver uma atriz como Laura Cardoso ser colocada como mera figurante em um núcleo que nem sequer tinha importância. Sua Veridiana pouco apareceu, não fazendo jus ao talento da intérprete. E apesar do elenco enxuto, outros atores não tiveram o merecido destaque: casos de Bete Mendes e Cacá Amaral, por exemplo.

Evolução do autor

Ainda assim, é preciso elogiar a evolução do autor, que conseguiu escrever um folhetim mais bem construído e desenvolvido do que sua produção anterior: a fraca Araguaia. Tanto que a obra também teve acertos. Embora Igor Rickli tenha começado inseguro e inexpressivo, o ator evoluiu a olhos vistos e terminou a novela sendo um dos destaques.

Suas fortes cenas com a maravilhosa Cláudia Netto (Guiomar) foram impecáveis. Sérgio Mamberti e Juca de Oliveira engrandeceram a história com seus respectivos talentos, protagonizando excelentes sequências. A entrada do incrível Elias Gleizer e da ótima Inez Vianna também foi muito bem-vinda e melhorou o que já estava bom.

O casal Natália e Juliano transbordou química e a sintonia entre Daniela Escobar e Bruno Gissoni ficou evidente. Maria Joana e José Henrique Ligabue também formaram um bonito par, na pele de Carol e Lino. Luiz Carlos Vasconcelos e Cyria Coentro foram outros pontos positivos.

Os atores protagonizaram emocionantes e difíceis cenas em todos os momentos em que Donato e Bibiana tinham que lidar com a ambição de Hélio (Raphael Vianna), aliado dos vilões. E José Loreto merece elogios pela sua composição do Candinho, apesar do personagem ser uma figura repetitiva nas obras do autor e de ter ficado muitas vezes avulso.

Última semana entediante

A última semana da novela foi entediante e a reta final marcou pela previsibilidade. O que não deixa de ter sido coerente com o que representou a história, porém, a cena final do último capítulo, vale ressaltar, foi excelente. Alberto fugiu da clínica psiquiátrica, viu o casamento de Ester e Cassiano e tentou se matar afundando no mar. Porém, foi salvo pelo casal protagonista. A amizade de infância do trio acabou sendo revivida naquele momento.

O vilão olhou nos olhos dos dois e agradeceu, emocionado, encerrando a trama. A cena acabou demonstrando a inspiração do autor com o final de Avenida Brasil, onde Carminha (Adriana Esteves) e Nina (Débora Falabella) se reconciliam. Aliás, ele mesmo disse que a obra de João Emanuel Carneiro o inspirou para o desenvolvimento de Flor do Caribe. Mas claro que as duas produções não são dignas de comparação.

Walther Negrão apresentou uma trama repleta de altos e baixos, mas soube se renovar e fugir de alguns vícios observados em tramas anteriores. Em suma: uma produção bem feita, mas que, em virtude da trama desinteressante e arrastada, foi rapidamente esquecida.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor