Longe do término, a terceira reprise de O Rei do Gado (1996) em Vale a Pena Ver de Novo ainda reserva muitas emoções. Os destinos de vários personagens prometem surpreender quem não lembra ou não conhece a novela de Benedito Ruy Barbosa.
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Até o fim da trama, tipos queridos do público vão padecer, enquanto outros ficarão impunes. Agentes da segurança e da justiça chegaram a protestar sobre os momentos finais do folhetim.
Criminosos impunes
Engana-se quem pensa que os vilões de O Rei do Gado pagarão pelos seus crimes. Geremias Berdinazi (Raul Cortez), que matou Fausto (Jairo Mattos), e Rafaela (Gloria Pires), que tentará dar fim ao suposto tio, vão terminar longe de qualquer punição…
Os dois serão investigados pelo delegado Valdir (Tadeu Di Pietro), que não conseguirá provas suficientes para enquadrá-los.
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Na época da exibição original, Benedito Ruy Barbosa explicou que o desfecho dos personagens era reflexo de um país onde os ricos sempre saem ilesos de suas maldades.
“Nesse caso, o poder econômico e a amizade influenciaram. Essa impunidade não é novidade no Brasil. E agora todo mundo tem de ser punido nas novelas para não dar mau exemplo? Nem pensar! Na vida real isso não acontece. Por que novela tem de criar mundo cor-de-rosa? Procuro retratar o que acontece no cotidiano”, declarou o autor ao jornal Folha de São Paulo, de 2 de fevereiro de 1997.
Manobra no tribunal
Quem também escapa da cadeia é Marcos Mezenga (Fabio Assunção). Ele enterra o gigolô Ralf (Oscar Magrini) na areia da praia, ao encontra-lo machucado – em razão da surra aplicada pelos capangas de Orestes (Luiz Parreiras), marido de Suzane (Leila Lopes).
Certo de que Ralf está morto, Marcos é surpreendido ao descobrir que o amante de Léia (Silvia Pfeifer) e Suzane morreu afogado. A maré subiu e ele, enterrado, não teve como reagir.
Em uma manobra no tribunal, o advogado do filho de Bruno Mezenga (Antonio Fagundes) consegue fazer com que ele seja condenado apenas por vilipêndio a cadáver. O crime acarreta em uma pena branda, que Marcos consegue pagar em liberdade.
Críticas de autoridades
Por conta destas situações, autoridades protestaram contra O Rei do Gado em matéria da Folha de São Paulo.
“A novela passa uma ideia de impunidade, o que não é condizente com a realidade. Temos casos de crimes impunes, mas temos muito mais casos de condenações”, destacou Eloísa Arruda, promotora do 5º Tribunal de Júri da Capital.
Eloísa salientou que, na época, 60% dos processos de homicídios terminavam em condenações.
O veículo também ouviu a delegada Elisabete Sato, da Divisão de Homicídios da Polícia Civil de São Paulo.
“A novela mostra que delegados são vaquinhas de presépio, manipulados por quem tem poder e dinheiro. Isso não é real”, disparou.
Despedida dos bonzinhos
Em contrapartida, O Rei do Gado puniu tipos queridos. O senador Caxias (Carlos Vereza) é assassinado numa emboscada preparada para ele e para Regino (Jackson Antunes), líder dos sem-terra.
Regino morre de forma parecida, ao ser surpreendido pelos jagunços de uma fazenda improdutiva na qual ele e seu grupo buscam assentamento.
Ao lado de Lupércio (Adenor de Souza) e Formiga (Cosme dos Santos), ele tenta resolver a situação pacificamente, mas acaba morrendo, agarrado à terra que sempre lutou para ter.
Após a morte de Caxias e do amigo, Chiquita (Arieta Corrêa), Bia (Mara Carvalho) e Jacira (Ana Beatriz Nogueira) assumem o comando do movimento.