Endividada e sem receber, Regina Duarte foi salva da falência pela Globo

Longe da Globo desde 2020, quando aceitou o convite para assumir, por pouco tempo, a secretaria especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, Regina Duarte chegou à emissora em 1969, após uma sucessão de problemas envolvendo sua antiga emissora, a TV Excelsior.

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Sem receber há meses e endividada, a atriz abandonou uma novela da emissora no meio e aceitou o convite para estrelar Véu de Noiva na concorrente.

Descoberta pelo diretor Walter Avancini (1935-2001), Regina estreou em novelas em 1965, em A Deusa Vencida. Na Excelsior, que já estava em crise e foi extinta em 1970, ainda fez A Grande Viagem, As Minas de Prata, Anjo Marcado, Os Fantoches, Legião dos Esquecidos, O Terceiro Pecado e Os Estranhos – esta com Pelé (foto acima).

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Proposta irrecusável

Em seu “O Livro do Boni”, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então diretor global, conta que contratar a atriz era um objetivo desde que ele entrou no canal.

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“A Regina tinha uma beleza serena e um olhar penetrante. Com seus dentes alvos, sorria discretamente e irradiava simpatia, falando baixo, de forma simples e cativante. Era a Andréia sonhada por nós”, explicou, se referindo à personagem protagonista de Véu de Noiva.

Mas ele levou um balde de água fria. Na primeira reunião de negociação, a atriz disse que não queria se mudar para o Rio de Janeiro (RJ), porque estava fazendo um curso de comunicação na USP e também queria ser jornalista. “Acrescentou que havia acabado de se casar e estava terminando de montar sua casa”, completou.

Mas Boni insistiu, mostrou a sinopse da novela de Véu de Noiva, e ela gostou. No entanto, Regina disse que naquele momento não seria possível, porque ainda tinha contrato com a Excelsior por um bom tempo.

“Eu sabia que os salários da Excelsior estavam atrasados e não tive dúvidas na hora de apelar para isso”, contou Boni na obra. A atriz lhe confessou que não recebia há quatro meses e que, inclusive, estava com algumas dívidas em virtude disso.

“Então, Regina, esse contrato não vale mais nada. Larga tudo e vem para a Globo”, disse-lhe Boni. “Não dá. Como é que eu vou largar uma novela no meio? Eu nunca fiz isso”, retrucou a atriz.

O executivo novamente argumentou: a personagem que ela vivia em Dez Vidas, Pompom, se vestia de homem para participar da política – a trama se passava na época da Inconfidência Mineira.

“Pompom está usando um disfarce e não é o personagem principal. É fácil substituir. Avisa logo à TV Excelsior e vem com a gente”, emendou.

Exigências

Regina ficou muito nervosa com a situação e teve febre de 40 graus. Não compareceu à gravação seguinte da novela e mandou avisar que não sabia o que ia fazer, pois havia recebido uma proposta da Globo.

À Excelsior, restou substituir a personagem e liberar a atriz, que procurou Boni e fez algumas exigências.

“Olha, Boni. Para ir, eu preciso de duas passagens semanais. Como te falei, estou recém-casada. Meu marido precisa ir comigo. Mesmo morando em São Paulo, preciso de um lugar para ficar no Rio. E, desculpe, não quero começar criando dificuldades, mas também preciso de algum dinheiro adiantado para pagar minhas contas”, pediu – ela havia montado uma casa e estava devendo prestações de móveis, geladeira, fogão e muito mais.

Boni não pestanejou e aceitou as condições. “Céus. Meu sonho estava realizado. Foi uma festa”, enfatizou no livro.

Véu de Noiva, primeira novela da Globo com temática moderna, depois dos dramalhões de Glória Magadan (1920-2001), foi um sucesso.

Novelas de sucesso

Depois disso, a atriz emendou diversas tramas em sequência, todas com êxito – Irmãos Coragem, Minha Doce Namorada, Selva de Pedra e Carinhoso.

A última participação de Regina na Globo foi em Tempo de Amar, em 2017. Com sua entrada em cargo público, o contrato com a Globo foi encerrado.

Foram quase 51 anos de casa, com um pequeno intervalo entre 1984 e 1985, quando participou da produção independente Joana, esquecida série exibida pela Manchete e depois pelo SBT.

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