Duh Secco

O Globoplay oficializou a chegada da primeira versão de Anjo Mau (1976) e do remake de Selva de Pedra (1986) à plataforma. A novela de Cassiano Gabus Mendes estreia em outubro, conforme informação obtida pelo site N1 Entreter e confirmada pela coluna junto à Comunicação do streaming.

Em agosto, o TV História adiantou a possibilidade do Globoplay disponibilizar a trama estrelada por Susana Vieira, a última totalmente produzida em preto e branco pela Globo – a substituta Estúpido Cupido (1976) contou com os dois últimos capítulos em cores.

Original x remake

Anjo Mau - Susana Vieira

A versão original de Anjo Mau traz inúmeras diferenças com relação ao remake, desenvolvido por Maria Adelaide Amaral em 1997. Personagens foram criados para a atualização, enquanto outros, como Vó Carolina (Henriqueta Brieba) e Toninha (Kátia D’Ângelo, foto), deixaram de existir.

A mudança mais significativa, talvez, esteja na forma como a protagonista foi apresentada e recebida pelo público. Nice, que marcou a carreira de Susana Vieira, almejava conquistar Rodrigo (José Wilker), tio do bebê que cuidava, para desfrutar dos luxos ofertados às madames que a cercavam.

Em artigo publicado no livro Teledramaturgia – Histórias, Influências e Perspectivas, organizado por Guilherme Bryan, Leila Rabello e Gabriel Kwak, o autor Vincent Villari – que colaborou com o remake – analisa o perfil da babá que causou polêmica em 1976 e encontrou amparo duas décadas depois.

“É a primeira protagonista feminina moderna sem bondade ou doçura entre suas características centrais – e um detalhe digno de nota é o de não se tratar de uma personagem que oferece perigo da porta da rua para fora, mas sim de uma pessoa que partilha da intimidade e do ambiente doméstico da família”, ressalta Vincent.

Conflito de classes

Anjo Mau - Kátia D'Ângelo

Os endinheirados, porém, tratavam Nice com distanciamento, como se a simples aproximação dela pudesse afrontá-los. É bem provável que, com o resgate da primeira versão de Anjo Mau no Globoplay, boa parcela dos assinantes fique a favor da empregada – que morreu no original para atender a audiência e o regime militar, por ser considerada “mau exemplo”.

Na versão original, o tratamento dispensado pelos poderosos à babá era terrivelmente elitista e machista. Há cenas em que uma simples brincadeira de Rodrigo com Nice, então na piscina, incomoda Stela e as pretendentes dele, Paula (Vera Gimenez) e Léa (Renée de Vielmond).

“Eu aceito que o Rodrigo ande saindo com ela! Acredito até que ele a obrigue a fazer certas coisas… Está na dele. É homem. Vale tudo. Ele está se utilizando dela… Não pode ser mais do que isso”, afirma Marilu (Ilka Soares), mãe de Léa, no capítulo 70, ao saber que o ricaço está circulando com a babá pelas altas rodas.

Mais resgate no Globoplay

Anjo Mau vem acompanhada de outra produção que causou burburinho. O remake de Selva de Pedra (1986), também disponibilizado pelo Globoplay no próximo mês, causou controvérsia nos primeiros capítulos.

As análises da época, e da reprise no Cana Viva, questionavam a opção do primeiro diretor-geral, Walter Avancini, pela “sexualização” de personagens como Fernanda (Christiane Torloni), vista em cenas de intimidade com Cíntia (Beth Goulart).

O machismo do protagonista Cristiano (Tony Ramos) também rendeu assunto. A forma como ele tratava a esposa Simone (Fernanda Torres), extremamente devotada ao parceiro, já não cabia na década de 1980.

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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.