Em estado terminal, astro foi afastado da Praça antes de entrar no ar

Um dos humoristas mais importantes do cenário nacional, Ronald Golias fez história na televisão ao viver o personagem Bronco na clássica sitcom Família Trapo, exibida pela TV Record entre as décadas de 1960 e 1970 – com uma sobrevida na Band nos anos 1980.

Canarinho, Ronald Golias e Moacyr Franco em A Praça é Nossa (Divulgação / SBT)

Em seus últimos tempos de vida, já lutando contra um câncer terminal, o veterano comediante estava no ar em dois humorísticos de sucesso exibidas pelo SBT. Ele faleceu repentinamente, em setembro de 2005.

Personagens de sucesso

Nascido em São Carlos (SP), em 4 de maio de 1929, José Ronald Golias chegou a trabalhar como alfaiate, funileiro e acrobata em shows aquáticos antes de iniciar a carreira artística como ator. Também atuou na Rádio Cultura e em seguida na Rádio Nacional, quando conheceu o radialista Manoel de Nóbrega, que o levou para televisão.

O artista ainda acumulou passagens por diversas emissoras, como a TV Tupi e a TV Globo, até se transferir em definitivo para o SBT. Foi Golias quem deu o apelido de “peru”, para o apresentador Silvio Santos, quando este estava em início de carreira como animador de auditório. A partir de então, Manoel de Nóbrega passou a anunciar Silvio como “O Peru que Fala”.

Contratado do canal de Silvio Santos desde 1990, o ator inicialmente participava do elenco fixo do humorístico A Praça é Nossa, onde permaneceu durante 15 anos, interpretando os personagens Profeta, professor Bartolomeu e Pacífico, que conquistou o público com o bordão “Ô Cride, fala pra mãe!”.

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Ainda na emissora, o artista participou dos programas A Escolinha do Golias, Romeu e Julieta – que teve versões exibidas em 1990 e 2003 –, e SBT Palace Hotel. Em 2004, foi ao ar a última atração estrelada pelo comediante, a série Meu Cunhado, onde ele reviveu o famoso personagem Carlo Bronco, ao lado de Moacyr Franco. A atração, que já se encontrava com todos os 52 episódios gravados, ficou no ar até março de 2006.

Problemas de saúde

Pouco antes da estreia de Meu Cunhado, em abril de 2004, Ronald Golias precisou ser hospitalizado no Hospital Sírio-Libanês, para implantação de um marca-passo no coração.

Golias ainda estava se recuperando quando precisou passar por uma nova intervenção cirúrgica, desta vez para retirada de um coágulo no cérebro.

Em março de 2005, o veterano ator já estava apresentando problemas nas suas cordas vocais e, em 8 de setembro do mesmo ano, ele foi internado com uma infecção generalizada decorrente de uma infecção pulmonar.

Afastamento da Praça

Em 2022, no Flow Podcast, Carlos Alberto de Nóbrega afirmou que percebeu que o companheiro de inúmeras jornadas estava morrendo e falou sobre um episódio em que precisou dispensá-lo de uma gravação. Já debilitado, Golias entrou em coma; o amigo revelou que, bem antes, já havia começado a se despedir do humorista.

“Nós éramos muito amigos e, para mim, ele morreu no dia que eu mandei ele embora para a casa dele. A gente fazia ‘A Praça’ e ele estava ficando rouco, que o câncer já tinha tomado a garganta dele. Ele sabia que estava doente, mas não sabia que estava tão doente”, disse Carlos Alberto.

“Teve um dia que ele chegou e eu falei: ‘Golias, não tem condições de gravar com essa voz. Vai te tratar, vai te cuidar, daqui dois, três meses você volta. Naquele dia foi que ele morreu para mim, comecei a sofrer ali”, recordou.

Morte

Ronald Golias morreu na madrugada de 27 de setembro de 2005, aos 76 anos, vítima de uma insuficiência de múltiplos órgãos, no Hospital da Luz, no bairro do Morumbi, zona oeste da capital paulista.

O velório ocorreu no Salão Nobre da Assembleia Legislativa de São Paulo e seu enterro aconteceu no Cemitério do Morumbi.

Carlos Alberto de Nóbrega fez uma declaração bastante emocionada ao jornal Zero Hora, em 28 de setembro.

“Golias é um grande amigo que vai fazer muita falta para mim e para minha família. Ele começou a carreira com meu pai e está comigo na ‘Praça’ há 17 anos. Além disso, Golias viu meus filhos crescerem e acompanhou de perto minha carreira. Sinto demais essa perda, assim como todos os brasileiros. Golias é e sempre será um ídolo de todas as gerações”, lamentou o artista.