A volta de Caminho das Índias no canal Viva possibilitou ao público acompanhar o último trabalho de uma atriz que nos deixou dois meses após o final da trama, em 13 de novembro de 2009.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Uma das artistas sempre prestigiadas por Glória Perez em suas tramas, Mara Manzan nasceu em 28 de maio de 1952, na capital paulista. Seu amor pela dramaturgia explodiu aos 17 anos, ao assistir a uma apresentação no Teatro Oficina. Foi paixão à primeira vista.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Executou diversas tarefas junto à trupe, como ajudar na bilheteria, comprar lanche para os atores e ajudar nos bastidores. Até que uma das atrizes faltou e Mara a substituiu competentemente e nunca mais largou o ofício, tendo mais de 30 peças no currículo.
Em sua trajetória na televisão, atuou em Perigosas Peruas (1992), Mulheres de Areia (1993), A Viagem (1994) e Salsa e Merengue (1996), onde interpretou Sexta-feira, um de seus papeis de maior destaque.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
LEIA TAMBÉM!
Cada mergulho é um flash
Outro personagem impagável foi Odete, de O Clone, novela de Glória Perez, recentemente exibida no Vale a Pena Ver de Novo, da Globo.
Engolidora de fogo, casada com Edivaldo (Roberto Bonfim) e mãe da alpinista social Karla (Juliana Paes), Odete era fofoqueira. Ela acompanhava os devaneios da filha e emplacou o bordão “cada mergulho é um flash”, lembrado e usado até hoje pelos brasileiros.
Atuou ainda em Hilda Furacão e Pecado Capital (ambas em 1998), Terra Nostra (1999), Sítio do Picapau Amarelo (2003), Senhora do Destino (2004), América (2005) e Duas Caras (2007).
Último trabalho
Seu último trabalho foi em Caminho das Índias (2009), onde viveu Ashima, uma viúva indiana que morava no bairro carioca da Lapa.
Por causa do câncer, Mara saiu mais cedo de Duas Caras para ser operada e depois, já em Caminho das Índias, ficou algumas semanas afastada para tratamento de quimioterapia.
“Quando operei meu câncer a primeira vez, ano passado, fiquei meio histérica. No hospital pedi pizza ainda no CTI e, quando saí, emendei um trabalho em outro. Queria abraçar o mundo com as pernas. Agora estou mais calma, o negócio foi mais sério. Mas não estou com pressa. Só quero levar as coisas com tranquilidade e sem fazer planos”, explicou a artista ao jornal O Globo de 26 de abril de 2009.
Na ocasião, Mara disse que pretendia levar a vida pensando num dia de cada vez. No entanto, ela teria apenas pouco mais de seis meses de vida.
“Quero deixar bem claro que estou em pé e trabalhando. Vou me curar e quero ser muito divertida enquanto durar. A vida é cheia de surpresas, você pode morrer de várias formas e de repente. Claro que é difícil. Não sei se vivo mais 20 anos ou 20 dias, mas sigo feliz, até porque estou voltando a gravar”, completou.
Para preencher o período em que a personagem ficou afastada, a autora Gloria Perez providenciou uma viagem de Ashima à Índia, que aproveitou a ocasião para comprar material para a expansão de sua loja e arrumar uma noiva para seu filho Indra (André Arteche). Dessa ausência também surgiu Ana (Thaís Garayp), prima de Ashima, que chega ao núcleo da Lapa para cuidar de Indra e Malika (Nahuana Costa).
Morte
A atriz morreu em 13 de novembro de 2009, aos 57 anos, no Rio de Janeiro (RJ), vítima de câncer no pulmão, decorrente do tabagismo – foi fumante por 40 anos.
No BBB21, Carla Diaz, colega de elenco de Mara em O Clone, lembrou o velório da atriz que, apesar de tudo, trouxe conforto aos presentes, com música e certa alegria, assim como era a amiga.
Considerava-se “meio louca”, mas foi muito querida e desapegada. Numa ocasião, chegou a colocar boa parte de seus pertences na rua para que as crianças da Rocinha pegassem o que quisessem.
No entanto, ela se arrependeu de abusar do cigarro e, principalmente, de aspirar querosene por muito tempo para engolir fogo no circo.
“Eu sempre fui assim, meio louca. Queria divulgar o circo, mostrar que esses artistas têm valor, mas isso me custou muito caro. Esse câncer no pulmão não é só o cigarro, tem a ver também com o querosene, que a gente coloca na boca para cuspir as labaredas. Esse querosene é muito tóxico e eu inspirava aquilo diariamente”, explicou ao jornal O Globo.
Ela morou com os Mutantes, no auge dos anos 70, e planejava ser advogada antes de enveredar para a carreira de atriz. No fim da vida, queria fazer um monólogo sobre sua vida, mas acabou não tendo tempo.
Mara teve uma única filha, a também atriz e produtora Tathi Annie Manzan, de seu relacionamento com o músico Rufino Lomba Neto, com quem viveu por seis anos. A filha lhe deu dois netos.