Nos anos 1990, os domingos ficaram marcados pela guerra de audiência entre Gugu e Faustão, que disputavam ponto a ponto a liderança de audiência.

Faustão na Band
Reprodução / Band

Os apresentadores utilizavam muitas armas para desestabilizar o concorrente. Uma delas foi o boicote a músicos.

Em uma época na qual a internet era para poucos e o streaming não passava de um sonho distante, o público aguardava os programas de auditório para assistir os seus músicos preferidos na televisão.

O Domingo Legal e o Domingão do Faustão também traziam os lançamentos de artistas consagrados.

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Uma decisão polêmica

Gugu Liberato no programa Domingo Legal
Divulgação / SBT

O programa de Fausto Silva vivia uma fase difícil, perdendo sistematicamente para a atração de Gugu Liberato. (foto acima) A saída da Globo foi boicotar os músicos que iam ao SBT.

“Não acho justo investir num cantor, lançá-lo no programa para depois ele ir receber o disco de ouro em outra emissora ou participar de baixarias na concorrência. A partir de agora, não vou mais me submeter ao plano de marketing das gravadoras. Seus artistas só se apresentarão no programa se forem exclusivos. Eu sou o diretor do programa, portanto a decisão sobre as atrações é minha”, afirmou Alberto Luchetti (foto abaixo) ao jornal Folha de S. Paulo em 26 de março de 2000.

Nada de apelação

Alberto Luchetti
Reprodução / Redes Sociais

O diretor do Domingão do Faustão fez uma reunião com as gravadoras e não convidou a EMI, pois a banda P.O. Box participou da Banheira do Gugu; assim sendo, o grupo foi descartado pelo concorrente. Luchetti queria também apagar a fase sensacionalista do programa.

“Estou optando pelo caminho oposto ao que a Globo seguiu quando se viu ameaçada pela concorrência e apelou para a exploração do erótico. Hoje o programa está na contramão da era do sushi”, confessou.

“Ditatorial, radical e absurda”

Domingão do Faustão
Reprodução / Globo

A decisão de Alberto Luchetti virou uma grande polêmica nas gravadoras, mas ninguém falava abertamente sobre o assunto.

Segundo a Folha de S. Paulo, em 2 de abril de 2000, artistas como Zezé Di Camargo & Luciano, Maurício Manieri e Harmonia do Samba estavam proibidos de pisar no palco do Domingão. Nos corredores, diretores da indústria fonográfica criticavam a medida como “ditatorial, radical e absurda”.

Luchetti não ligava para a opinião dos profissionais da música e seguia em frente com sua decisão.

“As gravadoras têm autonomia para decidir quem elas querem trazer ao Faustão. Nas reuniões que tive com elas, todas receberam bem minha decisão. Se um artista quiser nadar na banheira do Gugu, tudo bem, abro mão dele. E, para as gravadoras, quanto maior for a guerra de audiência, melhor para elas. Isso se chama marketing”, declarou.

“Um atestado de incompetência”

Roberto Manzoni e Celso Portiolli
Reprodução / Redes Sociais

Já para Roberto Manzoni (na foto acima, com Celso Portiolli), então diretor do Domingo Legal, esse boicote mostrava que Gugu estava no caminho certo.

“Ele e Fausto Silva assinaram um atestado de incompetência, cerceando a liberdade dos artistas. Fico admirado de a Globo aceitar uma coisa dessas. Isso já virou um problema pessoal. Aqui, vem quem quiser”, alfinetou.

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Tudo pela audiência

Britto Junior
Reprodução / Redes Sociais

Mesmo com o boicote aos artistas, o Domingo Legal batia o Domingão do Faustão no Ibope e fazia provocações ao rival durante o programa e também nos anúncios de jornais.

A atração da Globo apostou no jornalismo, colocando Britto Jr. (foto acima) para comentar os fatos do domingo, mas sem efeito nos números de audiência.

O reinado do Domingo Legal terminou em setembro de 2003, quando foi ao ar uma entrevista com falsos integrantes do PCC, o que minou a credibilidade de Gugu e o interesse do público pelo seu programa.

Assim, Faustão voltou a liderar a audiência dos domingos com tranquilidade e sem ameaças. Chegava ao fim uma disputa histórica entre dois apresentadores talentosos e queridos pelo público.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor