Em 1989, incomodada pelo forte crescimento do SBT, a Rede Globo agiu e contratou um peso-pesado para brigar pela audiência nas tardes de domingo, então dominada por Silvio Santos. Fausto Silva chegou à emissora, vindo de alguns anos de sucesso nas noites de sábado da Band.

O SBT crescia a passos largos desde 1988, resultado de uma agressiva estratégia de seu proprietário, que contratou conhecidos nomes, como Jô Soares e Carlos Alberto de Nóbrega, lançou um telejornal diferenciado, o TJ Brasil, com Boris Casoy, e comprou um pacote de filmes de sucesso. Tudo isso em busca de mais audiência e, principalmente, faturamento, já que a programação popular afastava os grandes anunciantes.

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Mesmo sem ter sua liderança ameaçada, a Globo passava apuros, principalmente quando concorreria com Silvio Santos. O problema foi resolvido com a contratação do irreverente Faustão, que apresentava o Perdidos na Noite. A intenção era rejuvenescer a programação e chamar a atenção do público nas tardes de domingo, especialmente os jovens, que já se afastavam da TV naquela época.

O primeiro contrato do apresentador com a Globo tinha duração de dois anos e começou a valer em janeiro de 1989. Além do polpudo salário, ele ganharia 15% de participação dos comerciais exibidos durante o programa. Nada comparado, claro, ao salário milionário que ele recebe atualmente.

Em entrevista à Folha de S. Paulo em 26 de fevereiro de 1989, Faustão disse que iria encerrar o Perdidos na Noite de qualquer forma. “Um negócio que pouca gente sabe sobre o Johnny Saad, dono da Bandeirantes, foi que em janeiro de 1988 eu falei com ele: olha, vou fazer mais um ano de Perdidos e parar”.

O apresentador, que também é jornalista e foi repórter esportivo nos anos 1970, não queria ficar preso na mesma atração, pois, na mesma entrevista, disse que “não gosta de ficar fazendo muito tempo a mesma coisa”. Ironicamente, está há 25 anos fazendo esse programa, praticamente sem mudanças no formato.

Brilho próprio

Faustão também disse que não seria um substituto de Chacrinha, que morreu em 1988, ao contrário do que a mídia dizia na época. “Não tem nada a ver com o Chacrinha. Tanto que eles nunca falaram de fazer programa sábado à tarde [horário que era ocupado pelo Cassino do Chacrinha entre 1982 e 1988]. Eu não sou um personagem. O Chacrinha era um personagem do Abelardo Barbosa. Eu sou eu mesmo, não tem jeito. Eu faço entrevista e o Chacrinha tem calouro, tem júri. É outra coisa”, disse.

Se nos dias de hoje ele fala o que quer, imagine em 1989, quando era conhecido justamente por ser desbocado. O apresentador teve sua irreverência suavizada para não chocar o público das tardes de domingo. O próprio Fausto Silva não negou, na época, que estava se condicionando e que não poderia fazer muitas coisas que fazia à noite.

Faustão garantiu ter recebido carta branca da emissora. “O problema é que aqui eles não estão acostumados a fazer ao vivo. O Boni chegou falando – nós vamos aprender a fazer televisão ao vivo. Na hora, como eu faço tudo que vem à cabeça mesmo, eu acho que alguma coisa vai derrapar”, disse na entrevista.

Na estreia, Faustão usou palavras como “merda”, “porra”, “na tua mãe”, “sua anta” e “pentelho”. A imprensa destacou que os termos não repercutiram negativamente e que o então presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, não acompanhou a atração, por isso não comentaria sobre isso.

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Liderança

O Domingão do Faustão estreou no dia 26 de março de 1989, exibido entre 14h55 e 19h, com boa parte do conteúdo ao vivo e alguns quadros pré-gravados. Entre os convidados do primeiro programa estavam Xuxa, Cássia Kiss, José Wilker, Lulu Santos, Fábio Jr. e Simone, entre outros. O primeiro diretor geral foi Augusto César Vanucci.

Logo de cara, a produção fez sucesso e quadros como Controle Remoto, Mano a Mano, Caminhão do Faustão e Sexolândia viraram mania nacional, assim como as pegadinhas. As vídeocassetadas que estrearam junto com o programa estão no ar até hoje.

A Globo conseguiu seu objetivo, que era frear o SBT. Faustão venceu logo na estreia, marcando 38 pontos, contra 20 do SBT, em São Paulo (SP). No Rio de Janeiro (RJ), a Globo ficou com 36 pontos, seguida pela Manchete, que obteve 16.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor