Em 23 de março de 2012, quem viu o último capítulo de “Fina Estampa” conseguiu se surpreender negativamente. Não que desse para esperar um término plausível em uma novela que abusou de situações totalmente absurdas e delirantes, porém, um mínimo de coerência se fazia necessária. E isso em qualquer obra de ficção, desde que a mesma não se utilize de ‘licenças poéticas’, como um mundo fantasioso, vampiros, ou algo do tipo.

O capítulo começou apresentando o sequestro de Griselda (Lilia Cabral). Ali haveria a ‘revelação’ do porquê de tanto ódio que Tereza Cristina (Christiane Torloni) sente por ela. O motivo? Vício. Ou seja, Aguinaldo, que tanto criticou seus colegas novelistas a respeito das maldades gratuitas dos últimos vilões da teledramaturgia, acabou criando uma vilã que justamente agiu de uma forma gratuita. O final dessa cena foi triste de se ver. Antenor e Patrícia salvaram a protagonista em uma sequência que deu sono. Caio Castro e Adriana Birolli apenas comprovaram o quanto atuaram mal durante a novela.

O assassinato de Ferdinand foi uma cópia explícita de “Senhora do Destino”. Na obra de 2004, Nazaré Tedesco joga um ventilador ligado dentro de uma banheira para matar um taxista que a estava chantageando. Tereza Cristina jogou um secador de cabelos. Essa foi a diferença. Pra culminar, a atuação de Carlos Machado nem merece ser comentada.

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Outra cena que casou um constrangimento gigantesco foi a fuga da vilã no barco de Pereirinha (José Mayer). Sem dúvida, uma das piores cenas da teledramaturgia. Durante longos minutos, vimos a dupla enfrentar uma intensa tempestade tendo um diálogo tão deprimente que nem vale a pena ser descrito nesse espaço. No fim da sequência, há a impressão que ambos morreram.

O desfecho a respeito da guarda da filha de Esther não deve ter durado nem dois minutos. A única trama série da novela foi tratada com desleixo. Monique Alfradique, Ana Rosa e Julia Lemmertz foram muito bem, mesmo nessa participação final curtíssima.

A luta de Wallace Mu (Dudu Azevedo) foi mostrada em partes e ocupou um tempo desnecessário. Ele ganhou e todos ficaram felizes. E Leandro (Rodrigo Simas) foi um personagem que era um vigarista, virou garoto de programa, para terminar como um lutador. Magro daquele jeito foi difícil de engolir. E a atuação do ator também não ajudou. O papel teve nuances, mas a expressão facial dele não mudou nunca.

Crô (Marcelo Serrado) não revelou a identidade do seu namorado e citou como exemplo a trama de “Tieta” (1989), onde o público ficou sem saber o que Perpétua (Joana Fomm) guardava em sua caixa secreta.

Na verdade, Aguinaldo fez o telespectador de idiota. Nem ele sabia quem era o amante do mordomo. Inventou esse segredo para segurar a audiência. No fundo foi até bom não ter mostrado a cara do rapaz. Já bastou a decepção do segredo de Tereza Cristina, que de assustador não tinha nada.

A cena do mordomo herdando parte da fortuna da vilã foi bacana, assim como a cena em que ele e Baltazar voltam a se implicar. O diálogo do flashback, onde Tereza Cristina o convida para fugir com ela, rendeu uma boa dobradinha da Torloni com o Marcelo. Boas atuações.

A formatura de Antenor serviu para que Griselda declamasse um discurso politicamente correto. Lilia Cabral foi ótima, mas foi estranhíssimo assistir somente aos amigos e conhecidos do médico presentes na festa. Os colegas dele não têm parentes? Apesar dos pesares, essa cena é que deveria ter encerrado a novela. Mas ainda faltava mais uma sequência de vergonha alheia.

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A última cena foi patética. Griselda se depara com Tereza Cristina dentro de um carro importado, sendo guiado por um motorista, e com os cabelos pintados de preto. A vilã solta uma gargalhada e Pereirão vai atrás do carro segurando uma chave de grifo da mão. Logo após aparece a palavra ‘fim’. Parecia que o autor estava rindo da cara da crítica e do público.

Naquela época, “Fina Estampa” encerrou obtendo 47 pontos de média no último capítulo, índice inferior em relação à Passione, que teve 52 e o mesmo que “Insensato Coração”, no entanto, foi um grande sucesso.

Apesar da forma constrangedora que os finais dos personagens foram tratados, a novela acabou sendo coerente com ela mesma: foi um deboche do início ao fim.

Dentro de alguns dias, você poderá ver (ou rever) tudo isso novamente. Boa sorte.

SOBRE O AUTOR

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor