Muito se fala sobre a epidemia de fake News e da importância de saber a procedência e o conteúdo da notícia antes de sair espalhando pelas redes sociais. E isso vale tanto para o leitor, quanto para o jornalista que, na vontade de publicar um furo, acaba cometendo um erro e propagando notícias falsas.

Em 2002, a Record foi vítima da pressa e enganada por um falso assessor, noticiando ao vivo um furo exclusivo no programa Cidade Alerta que, na verdade, era falso.

Nesse mesmo ano, o cantor Belo havia sido acusado de colaboração com o tráfico de drogas e teve sua prisão preventiva decretada. O cantor foi dado como foragido, mas havia uma expectativa grande de como e quando ele iria se entregar, um mistério até então.

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No dia 1 de junho de 2002, um sábado, um homem chamado Hamilton Pereira ligou para a Record se dizendo assessor de Belo e informou que o cantor se entregaria naquele dia. Na mesma hora, Hamilton entrou ao vivo no Cidade Alerta, apresentado por Ney Gonçalves Dias, avisando que estava com Belo em um hotel da região central de São Paulo. Toda a equipe foi mobilizada: do helicóptero Águia Dourada ao moto link, todos se encaminharam para a frente do hotel, que cada vez mais se enchia de jornalistas e curiosos.

Com os caracteres de exclusivo, Ney falava ao vivo com o “assessor”, pedindo informações de como Belo se entregaria. Hamilton afirmava que eles sairiam de carro, uma Cherokee preta, direto para o terceiro distrito, em Campos Elísios. A equipe da Record e outros jornalistas de outras emissoras se deslocavam para a delegacia. O mais curioso é que Hamilton passava as informações, porém, as câmeras da Record, em nenhum momento, localizaram o carro do suposto assessor. Mesmo assim, Ney Gonçalves conduzia o programa com Hamilton pelo telefone.

Quando o carro “chegou” à delegacia, o “assessor”, em tom de preocupação, diz que Belo desmaiou e estavam seguindo à Santa Casa. Ney Gonçalves, nervoso, pede para toda a equipe se deslocar até o local. A confusão já estava instalada e os jornalistas seguiam as informações que a Record passava, causando um grande tumulto, seja na frente da delegacia ou do hospital, pois a expectativa e a repercussão eram grandes. Chegou-se a ponto de afirmar que Belo estava na UTI, em estado de coma.

Mas tudo isso seria desmentido ao vivo, dentro do próprio Cidade Alerta. Um delegado do GOE, falando ao telefone com Ney Gonçalves, disse que o cantor nunca se hospedou no hotel informado pelo “assessor”, muito menos foi à delegacia e também não estava na Santa Casa. Confuso, o apresentador começa a questionar o delegado se realmente o cantor estava no hotel, mas o delegado rebatia, dizendo que a policia foi em todos os locais que o “assessor” divulgou pela Record e era tudo falso. Nervoso, Ney Gonçalves Dias não sabia mais como conduzir a transmissão.

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Na Rede TV!, Datena apresentava o Repórter Cidadão, depois de muitos anos à frente do Cidade Alerta. Ele aproveitou a deixa e entrevistou autoridades que afirmavam que tudo aquilo noticiado pela Record era mentira. O apresentador criticou sua antiga emissora, acusando de fazer “um jornalismo sensacionalista”. Ao encerrar o Cidade Alerta, Ney disse que estaria atento ao caso, sem dar mais detalhes.

Belo se entregaria à polícia no dia 5 de junho, sendo solto dias depois, porém voltou a ser preso em 2004, ganhando a liberdade em 2007.

Assista aqui trechos dessa cobertura do Cidade Alerta:

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor