Na última terça-feira (21), Carinha de Anjo completou um ano no ar, enfrentando a estreia de Apocalipse, aposta da Record para turbinar seu horário de folhetins bíblicos. A produção do SBT se saiu bem no embate: caiu para a terceira colocação, mas manteve os dois dígitos contra o primeiro capítulo (13, Record a 10,8, SBT); empatou – registrando ligeira vantagem – com o segundo (11,2, SBT x 10,9, Record).
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Tal audiência justifica os investimentos da emissora de Silvio Santos neste filão – As Aventuras de Poliana, trama substituta, já está em adiantado processo de gravações. Não é de hoje que os executivos do canal apostam para valer no público infantil. Com programas matutinos e vespertinos – de Bozo (1980) a Bom Dia & Cia. (1993, ainda no ar) -, o SBT serviu de “quintal” para muitas crianças, desde sua inauguração. A teledramaturgia do canal seguiu o mesmo caminho.
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Entre a mexicana Chispita (1982) e a primeira versão de Chiquititas (1997) – que marcou o ingresso da estação em produções do gênero -, o SBT ensaiou uma ousada investida na teledramaturgia infanto-juvenil: Mariana, a menina de ouro nasceu como uma novela de 130 capítulos, com início de produção previsto para fevereiro de 1993 e estreia em junho. Depois, foi convertida em série de 30 episódios, de 40 minutos cada, exibida diariamente às 20h30, em substituição à série O Grande Pai (1991) – que, na época, apontava consideráveis sete de média na Grande São Paulo. Caso os números subissem, ‘Mariana’ poderia ganhar uma “versão estendida”, saltando de 30 para 90 episódios. Quase uma mininovela. As histórias, contudo, continuaram tendo início e fim num mesmo capítulo.
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A sinopse era de autoria de Flávio de Souza, criador e roteirista do premiado Rá-Tim-Bum (1990), da TV Cultura. Flávio despertou o interesse do SBT em razão dos 14 pontos conquistados por Mundo da Lua (1991), também desenvolvida por ele. Para a direção, Hugo Prata; na direção geral, Fernando Meirelles, que ocupou o mesmo posto no Rá-Tim-Bum. Meirelles era o nome do momento na publicidade, responsável exitosa campanha da Brastemp – “não é assim uma Brastemp…” -; o diretor de fotografia dos comerciais, César Charloni, também foi convocado para a novela. A premiada cenógrafa Daniela Thomas foi convidada para direção de arte, entregue a Isabelle Stella. Figurinos a cargo de Carlos Gardin e maquiagem de Westerley Dornella, responsável pela composição visual de Renascer, no ar às 20h, na Globo.
O projeto, com supervisão de Nilton Travesso, consistia numa “versão feminina” do Mundo da Lua, estrelado pelo garoto Luciano Amaral, o “viajante” Lucas Silva e Silva. Com o auxílio de um gravador, cedido por seu avô Orlando (Gianfrancesco Guarnieri), Lucas inventava histórias das quais tirava as soluções para os problemas de sua família – pai, mãe, irmã, tios, primos, agregados e vizinhos. Em ‘Mariana’, a protagonista dividia suas aflições com a empregada doméstica, enquanto seus pais, divorciados, debatiam questões que só interessam aos adultos, como dinheiro. Metidos em novas e frustradas relações, os genitores de Mariana negligenciavam a educação da filha. Segundo Flávio, a vida de Mariana era complicada; “ela só não precisa de analista porque tem bom coração e entende bem as coisas”, disse o autor.
Denise Fraga foi a primeira atriz contratada para o elenco; caberia a ela viver a empregada doméstica, amiga de Mariana. De Mundo da Lua, veio Mira Haar – então esposa de Flávio de Souza -, que esteve recentemente em Cúmplices de um Resgate (2015). Ainda, Ary França, Etty Fraser, Iara Jamra e José Rubens Chachá. E o próprio autor, como Afonso, terceiro marido da mãe de Mariana; um milionário que falece, mas segue, do além, protegendo a menina. Ainda, Chris Couto – então apresentadora da MTV – como Dorothy, secretária na agência de turismo do pai de Mariana (personagem de Nuno Leal Maia), com quem acabaria se casando. Também foram escalados Angelina Muniz, Elizângela, João Vitti, Umberto Magnani e Patrícia Godoy, ex-apresentadora do Aqui Agora e do Jornal do SBT.
A emissora também chegou a negociar com Giulia Gam, Guilherme Leme, Lilia Cabral, Lucélia Santos, Marisa Orth e Raul Gazolla. E acertou as participações da cantora Rita Lee e de Carlos Moreno, mais um nome advindo da publicidade (garoto-propaganda da Bombril). As gravações transcorreriam nos estúdios da TV Tupi, no bairro do Sumaré (zona oeste de São Paulo) – onde também estava instalada a MTV -, após uma reforma que consumiria US$ 800 mil. A intenção de Travesso era apresentar o espaço ao público numa matéria do TJ Brasil, então principal telejornal da casa.
Em julho de 1993 – com estreia adiada para outubro -, Mariana, a menina de ouro quase “voltou a ser” uma novela tradicional, então alocada às 21h30. Por questões financeiras e arranjos de grade, o projeto foi suspenso; assim como a adaptação de A Fábrica, de Geraldo Vietri, que reativaria o núcleo de teledramaturgia “adulto” do SBT. Parte do elenco escalado foi remanejada para a novela que, de fato, reabriu os trabalhos, Éramos Seis (1994). E, lamentavelmente, ‘Mariana’ ficou na intenção.