Há 31 anos, a Globo transmitia a primeira edição do Criança Esperança, campanha de mobilização nacional que visa a arrecadação de fundos para projetos sociais. Foi um domingo atípico aquele, 28 de dezembro de 1986, também data em que Os Trapalhões celebravam seus 20 anos de união. A programação vespertina deu então lugar a um especial, de 9 horas de duração e 28 quadros, intitulado 20 Anos Trapalhões – Criança Esperança.
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Como de praxe nas manhãs de domingo, a Globo exibiu o Santa Missa em Seu Lar (às 6h30); na sequência, o Globo Rural (7h30), sob o comando dos jornalistas Sérgio Roberto Ribeiro e Wellington de Oliveira, e o Som Brasil (8h30), musical dedicado a ritmos regionais (especialmente o sertanejo), apresentado por Lima Duarte e que, naquele ano, ganhou uma nova (e a mais marcante) abertura: a canção ‘Amanheceu, peguei a viola’, de Renato Teixeira, embalava imagens bucólicas captadas em Capão Bonito, interior de São Paulo. Às 9h35, o Festival de Desenhos.
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’20 Anos Trapalhões’ entrou no ar (ao vivo) às 11h, com Renato Aragão (Didi), Dedé Santana, Antônio Carlos (Mussum) e Mauro Gonçalves (Zacarias) no palco do Teatro Fênix, dando início a festa da solidariedade que se estenderia até às 20h. No primeiro bloco, a leitura de uma carta do então Presidente da República José Sarney sobre as preocupações de seu governo em relação às questões do menor no Brasil.
O texto fora produzido no encontro que Os Trapalhões tiveram, na terça-feira daquela semana (23), com Sarney. Didi, Dedé, Mussum e Zacarias foram à Brasília participar do momento em que o Presidente assinara a Declaração Universal dos Direitos da Criança, espécie de termo compromisso do Brasil com a ONU – naquele momento, dados do Ministério da Saúde indicavam a morte de duas crianças menores de um ano a cada quatro minutos por conta da subnutrição.
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A visita dos Trapalhões pôs fim a uma disposição do quarteto com o governo: em dezembro de 1985, a Globo censurou a letra de uma canção-lamento composta pelos comediantes, que pedia aos políticos mais atenção ao povo sofrido. Renato então ameaçou deixar a emissora caso o quadro não fosse exibido na estreia da temporada 1986 do programa. Mas, no auge do novo plano econômico de Sarney – o Cruzado I -, que encheu o brasileiro de esperança, o manifesto dos humoristas acabou passando despercebido.
A princípio intitulado O Mutirão do Esperança, o ‘Criança’ buscava reeditar a bem-sucedida campanha contra a fome no Nordeste, também liderada por Renato, em 1983. Na ocasião, os quatros participaram do especial Nordeste Urgente, espetáculo com 12 horas de duração que visava a arrecadação de donativos e alimentos para famílias atingidas pela seca.
Em meio ao debate com autoridades e especialistas em problemas do menor, o espetáculo homenageou, como o nome já dizia, os 20 anos do Trapalhões. Ainda no primeiro bloco, César Filho – no ar como Túlio de Hipertensão, novela das 19h – apresentou um documentário sobre a história do quarteto, revisitando a biografia de cada um deles.
Com supervisão geral de Walter Lacet e direção de Vitor Paranhos, o primeiro Criança Esperança também exibiu diversos especiais de atrações da linha de shows da Globo, gravados especialmente para a ocasião. Xuxa Meneghel, que estreou na emissora em junho daquele ano, apresentou um ‘Xou’ de hora, todo voltado para o menor carente. Ainda, edições de 20 minutos do Chico Anysio Show e do Viva o Gordo, com Jô Soares. O Vídeo Show – que não contava com apresentadores fixos – também participou.
Mas o destaque do entretenimento ficou mesmo por conta do Cassino do Chacrinha; Abelardo Barbosa comandou o programa direto do Ginásio Caio Martins, em Niterói, ao vivo. A teledramaturgia ganhou espaço com uma série sobre os menores em situação de rua, encenada por André di Biasi, Andréa Beltrão e Kadu Moliterno. Uma “mini comédia”, Auto de Natal, reuniu Os Trapalhões, Perfeito Fortuna, Patrícya Travassos, Regina Casé e Luís Fernando Guimarães – ainda colhendo os louros do casal Tina Pepper e Jean Pierre, de Cambalacho, antecessora de Hipertensão às 19h.
Roberto Carlos cantou ‘Amigo’, composição sua e de Erasmo Carlos – que também participou – com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Por fim, todo o elenco da Globo se reuniu para entoar a música-tema do especial, ‘Despertar’, composta por Michael Sullivan e Paulo Massadas. De Roda de Fogo, a novela das 20h, Tarcísio Meira, Bruna Lombardi, Eva Wilma, Renata Sorrah, Felipe Camargo e Paulo Goulart; de Hipertensão, Maria Zilda Bethlem, Paulo Gracindo, Cláudio Corrêa e Castro e José Mayer.
Também a turma das novelas que estreariam no primeiro semestre de 1987: Glória Pires, Lauro Corona, Ítala Nandi, Carlo Briani, de Direito de Amar, às 18h; Yoná Magalhães, Flávio Galvão e Arlete Salles, de O Outro, às 20h; e Célia Biar e Cristina Mullins, de Brega & Chique, às 19h. Ainda, Dercy Gonçalves.
Uma última curiosidade: o primeiro Criança Esperança não contou com doações por telefone. A precária estrutura de telefonia no país, naquela época, dificultou os trabalhos. Os doadores foram orientados a procurar diretamente a Unicef. A cada bloco, os apresentadores traziam um balanço da campanha de doações.
A grade da Globo neste domingão tão incrível contou ainda com o Fantástico (20h), com Sérgio Chapelin; Os Gols do Fantástico (22h05) eram apresentados por Léo Batista. O especial Beatles Sinfônica (22h25) reunia sucessos dos meninos de Liverpool, executados pela Royal Philarmonic Orchestra e a Royal Choral Society, num espetáculo gravado no Royal Albert Hall, em Londres – com as presenças da rainha Elizabeth II e de Paul McCartney, com sua esposa Linda.
Para encerrar, a série Dallas às 23h30, jornais locais (0h10) – sim, aos domingos! – e o Domingo Maior (0h35), com Pavor nos Bastidores, dirigido por Alfred Hitchcock.