Há 44 anos, o Brasil praticamente parou para ver a participação do paranormal israelense Uri Geller em dois especiais ao vivo na Rede Globo. Milhares de pessoas levaram relógios e eletrodomésticos quebrados para serem consertados no palco da emissora. Mas, além de fãs, a presença dele atiçou os críticos, que o chamaram de charlatão.

Uri Geller nasceu em 20 de dezembro de 1946, em Tel Aviv. Ele passou a chamar a atenção de cientistas de todo o mundo a partir de novembro de 1973, quando participou de programas da BBC, da Inglaterra, e de rádios norte-americanas.

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Se apresentando como paranormal, garantia que dobrava objetos metálicos, como talheres e chaves, e consertava relógios e outros equipamentos, mesmo parados há muitos anos, apenas com o poder de sua mente.

Geller veio ao Brasil participar do 1º Congresso Internacional de Parapsicologia e Psicotrônica, realizado no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo (SP), causando grande rebuliço na cidade.

A Globo aproveitou e promoveu dois programas especiais ao vivo com o israelense. O primeiro, direto do Teatro Fênix, no Rio de Janeiro (RJ), no dia 15 de julho de 1976, uma quinta-feira, e o segundo, do Teatro Globo, na capital paulista, no dia 1º de agosto, um domingo.

Sob o comando do veterano Hilton Gomes (1924-1999), primeiro parceiro de Cid Moreira na apresentação do Jornal Nacional, e participação da atriz Maria Fernanda, que ajudava na tradução, os dois programas fizeram muito sucesso, entrando na lista dos mais vistos daquele ano.

Na primeira exibição, chegou-se a 90% de audiência, índice somente alcançado pela novela Selva de Pedra, em 1972. A segunda vez foi utilizada pela emissora para promover a nova grade, já que era o primeiro domingo sem o Programa Silvio Santos na programação do canal.

O que se viu, nas duas ocasiões, foram imensas filas de pessoas, inclusive crianças, que levaram objetos, relógios e eletrodomésticos para a porta dos teatros, buscando ajuda de Geller. Também foram destacadas várias telefonistas, que atendiam telespectadores que ligavam para contar os fenômenos que ocorriam em suas casas, já que o paranormal ensinava como as pessoas podiam fazer as mesmas coisas que ele.

“Geller não conseguiu em relação à plateia, que assistia ao vivo à sua apresentação, a mesma receptividade que teve junto à milhares de telespectadores em todo o Brasil. Ao vivo, aparentemente lhe faltava o envolvimento capaz de manter mais próximo esse público, formado na maioria de crianças, de modo a torná-lo suscetível às sugestões de sua mente, que à distância conseguiu entortar garfos e colheres, consertar relógios e aparelhos domésticos”, destacou o jornal O Globo de 16 de julho de 1976.

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Os críticos atacam

Para combater a audiência da Globo, Silvio Santos se movimentou: prometeu levar ao seu primeiro programa dominical que seria exibido pela Tupi, TVS e outras emissoras independentes, Oseso Monteiro (1921-2017), que era conhecido como o “Uri Geller brasileiro”.

No final das contas, segundo a revista Amiga, desistiu, tirando o paranormal nacional do embate direto – ele esteve em outra atração, Silvio Santos Diferente. “Farei tudo o que Uri Geller fez e muito mais. Vou transmitir mentalmente desenho para os telespectadores e estes escreverão para os Estúdios Silvio Santos, reproduzindo este desenho. Vou fazer todos os números que o Geller fez, só que com os olhos vendados e sem a presença de assessores junto de mim”, declarou.

Apesar de ter conquistado milhares de fãs, a presença de Uri Geller também causou polêmica. O padre jesuíta Oscar Quevedo confrontou o paranormal, dizendo que se tratava de uma farsa. “Ao fim de cinco horas, demonstrei, no ar, que aquilo tudo era falso. No dia seguinte, ele próprio reconheceu que o que fazia era truque e embarcou de volta para casa no primeiro avião”, disse em entrevista à Folha de S.Paulo de 2 de janeiro de 2000.

Outro crítico costumaz era o ilusionista canadense James Randi, que afirmava: os fenômenos de Geller não passavam de truques de mágica.

Verdade ou mentira, Uri Geller foi um dos personagens mais falados no Brasil – e no mundo – durante boa parte dos anos 1970. Atualmente, aos 71 anos, vive em Londres, na Inglaterra, e continua fazendo apresentações e previsões, além de participar de documentários e programas de televisão.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor