A panelinha dos autores, como já foi dito aqui inúmeras vezes, é algo natural. Todo escritor tem predileção por certos nomes e evidencia sempre em seus folhetins. Eliane Giardini entrou no ”time” de Walcyr Carrasco em 2013, na primeira novela das nove dele: Amor à Vida. Porém, não foi uma experiência muito feliz. Ordália era mãe de Bruno (Malvino Salvador), mocinho do enredo, e acabou aparecendo bem menos do que deveria. Foi uma figurante de luxo. Um desperdício de talento.

Ou seja, parecia que o autor não a chamaria tão cedo. Felizmente, um ledo engano. Em 2016, Walcyr a escalou para Êta Mundo Bom! e conseguiu se redimir com louvor. Deu para a atriz um dos melhores e mais importantes perfis do enredo: a milionária Anastácia, mãe de Candinho (Sérgio Guizé), o protagonista do sucesso das 18h. Eliane protagonizou grandes cenas ao longo da novela e emocionou no momento mais aguardado e sensível da trama, quando a ricaça reencontrou seu filho perdido após tanto procurá-lo.

Agora, em O Outro Lado do Paraíso, o autor novamente presenteou a intérprete com um excelente papel. Nádia é uma vilã cômica deliciosa, provocando ódio pelos absurdos preconceituosos que profere, ao mesmo tempo divertindo com sua total falta de noção e histeria. A personagem sempre foi um dos destaques da trama das nove, dirigida por Mauro Mendonça Filho, protagonizando um núcleo que tem o racismo e o machismo como foco.
Ela, inclusive, foi a primeira a sofrer um grande revés no enredo, quando Raquel (Érika Januza) voltou como juíza, dez anos depois de ter sido escorraçada pela perua com ataques racistas – época em que trabalhava como empregada na casa da víbora, envolvendo-se com Bruno (Caio Paduan).

E, ao contrário do que se imaginava, Nádia não perdeu o destaque depois do retorno de Raquel por cima. Afinal, a grande expectativa desse conflito era justamente a volta da empregada doméstica como uma importante juíza, fazendo a inimiga engolir seu preconceito.

A virada aconteceu bem antes da metade da trama, mas a vilã continuou em evidência, protagonizando embates com a ex-nora e armando para separá-la do filho. Também passou a formar uma divertida parceria com Luis Melo, principalmente quando o casal realizava fantasias sexuais vergonhosas ou na hora em que comemoravam a propina recebida por Gustavo.

A atriz foi responsável por outras cenas ótimas, caindo na armadilha de Clara (Bianca Bin) e flagrando o marido com Leandra (Mayana Neiva) no bordel. A traição e a reação da personagem tiveram toques cômicos, condizentes com o perfil da perua, e Eliane novamente brilhou ao lado do parceiro Luis. Aliás, o papel não é bom apenas porque tem importância e função no roteiro. A maior qualidade é navegar pelo drama e pela comédia, valorizando as várias facetas da intérprete.

Por sinal, a mãe de Bruno protagonizou recentemente uma cena sensível, quando finalmente pediu perdão a Raquel por todos os absurdos que disse sobre sua cor. Após ter se encantado por seu neto negro, a personagem se deu conta do horror que é o racismo e caiu em si. Uma solução interessante do autor, mostrando que a intolerância muitas vezes se dilui quando o então preconceituoso tem um “representante” de uma minoria em casa. Eliane e Érika Januza emocionaram com o abraço das, até então, inimigas.

Nádia, porém, continua arrogante e soltando ironias, inclusive negando que era racista, fingindo que o acerto de contas com Raquel nem aconteceu. Uma boa sacada de Walcyr para mostrar que a mudança não foi total e nem “do nada”. Eliane tem conseguido alternar bem momentos cômicos com dramáticos. Ela, aliás, foi merecidamente homenageada no quadro Meu Vídeo é um Show, do Vídeo Show, onde relembrou fases marcantes de sua brilhante carreira, vide a época de Nazira em O Clone (2001), Dona Caetana em A Casa das Sete Mulheres (2002), Viúva Neuta em América (2005), Muricy em Avenida Brasil (2012) e Zana em Dois Irmãos (2017).

Eliane Giardini é uma atriz completa e seu destaque em O Outro Lado do Paraíso é apenas um justo reconhecimento ao seu talento. É um dos ótimos nomes do bem escalado elenco. A Nádia já entrou para a galeria de ótimas personagens da querida intérprete.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor